Boni diz que Globo não pode viver da glória do passado: 'Modelo vencido'
De Splash, em São Paulo
30/11/2020 04h00
José Bonifácio Sobrinho, o Boni, faz 85 anos hoje. Três décadas de vida foram dedicadas à TV Globo, que ele ajudou a erguer como um império da comunicação e que se tornou uma das maiores emissoras.
Splash bateu um papo com o empresário. Para ele, a palavra-chave do momento deve ser renovação.
Um dos maiores orgulhos de Boni é de ter feito da Globo uma emissora de rede, isto é, com uma programação que atingisse o território nacional. Isso começou com o "Jornal Nacional" e se expandiu para todos os programas.
Também foi o responsável pela implantação do "padrão Globo de qualidade" e da grade de programação da emissora como a conhecemos hoje, com o esquema "sanduíche": novela, jornal e novela.
Para ele, entretanto, este modelo já está ultrapassado.
Precisa mexer mais na grade. Se eu estivesse operando, já teria mexido nessa grade. Esse modelo está vencido. Obsoleto. Não é uma questão de concorrência, mas de estratégia. É preciso rever, não ficar em um passado que foi glorioso e dependendo dele.
Boni observa os novos passos da emissora que ajudou a estruturar com otimismo e diz que é preciso ousar ainda mais:
A Globo tem que arriscar, errar e ter coragem. Ela pode fazer. Ela tem uma rede de afiliadas maravilhosas, migrou para outras plataformas. Tem tudo para continuar o processo de liderança, mas é preciso procurar o novo. Não pode viver de uma coisa chamada mesmice.
A renovação, na opinião do empresário, deve passar por todas as áreas, do casting à direção. Ele defende os contratos por obra. Atores tiveram neste ano vínculos encerrados e, na semana passada, Maurício Stycer, de Splash, informou sobre a saída de Silvio de Abreu, diretor de dramaturgia do canal.
Mas Boni não concorda com as dispensas de medalhões da casa, que surpreendaram o mercado e o público.
Nenhuma empresa pode viver de gratidão, mas a Globo tinha que olhar para seus sócios iniciais. Se eu estivesse lá jamais Tarcísio e Gloria iriam para casa. Nunca deixaria Aguinaldo Silva fora do meu casting. É uma responsabilidade de quem está gerindo isso. Não considero errado, só não faria assim.
Por que sócios iniciais?
Ele lembra que um pequeno grupo, do qual faziam parte Tarcísio Meira e Gloria Menezes, foram para a Globo acreditando em uma ideia.
"Essas pessoas investiram na TV Globo. Haveria que preservá-los não somente pelo talento, mas porque ajudaram a empresa a crescer", diz.
Da Globo para a CNN Brasil
A Globo sofreu algumas baixas no jornalismo para a CNN Brasil em contratações alardeadas pelo canal pago. As mais recentes incluem Gloria Vanique e Márcio Gomes.
Para Boni, no entanto, o barulho foi muito maior do que os danos.
Veja jornalistas que eram da Globo e agora estão na CNN Brasil
Ela não levou ninguém que possa pesar na audiência. Não são pessoas que carregam um volume de telespectadores fiéis. Se levarem o William Bonner... ele dá 30 pontos na Globo e daria 20 na CNN Brasil. Levaram profissionais bem escolhidos, mas que não fazem falta à Globo.
Boni é sócio com os filhos da TV Vanguarda, afiliada da Globo, que foi fundada por ele em 2003. Aos 85 anos, o empresário não pensa em parar.
Sou um maluco sonhador. O meu delírio é suportado pela minha mulher, filhos e amigos. Quero continuar delirando.