'Detratora' e 'ex-DJ', Vera Magalhães diz buscar a calma antes de tuitar
Vera Magalhães não foge da raia. A jornalista, uma das mais influentes nas redes sociais, não se furta em entrar nos debates quentes que estão pipocando —principalmente no Twitter.
No currículo, Vera tem passagens por Diário do Grande ABC, Folha de São Paulo, revista Veja, rádio Jovem Pan. Atualmente, ela é colunista do jornal Estadão e comanda o programa Roda Viva, na TV Cultura.
Mesmo com a experiência, ela diz que acontece de passar do ponto, às vezes. Em bate-papo com Splash, a jornalista conta que acredita que cometeu excesso em crítica feita a Guilherme Boulos.
A galera resgatou esse tuíte de 2016 de Vera. Três dias antes, Boulos participou de um protesto contra a PEC da Reforma da Previdência, que acabou com os manifestantes atirando fogos de artifício em direção ao prédio da Fiesp.
"Eu nem lembrava desse tuíte, deve ter sido um daqueles que você faz num arroubo. Eu não considero uma peça jornalística. Naquela ocasião, achei que o Boulos estava usando o fato de ser colunista para minimizar uma conduta criminosa do MTST", disse Vera.
Mas eu acho que exagerei, não deveria ter feito aquilo. Já devo ter tido outro arroubo semelhante no Twitter, todo mundo já teve. Tenho procurado medir a temperatura.
Vera Magalhães em entrevista a Splash
Depois desse fato, Vera encontrou Boulos outras vezes e ambos sempre se trataram de forma amistosa. Recentemente, rolou até um "obrigado" do candidato, quando houve uma denúncia de fake news propagada pelo adversário na corrida pela prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno.
Eu fiz o primeiro tuíte mostrando que aquela informação era do Oswaldo Eustáquio, falando que aquilo era antidemocrático. É claro que essa parte não viralizou (risos).
Além das questões políticas, a tuiteira Vera Magalhães —que, volta e meia, está entre os assuntos mais comentados da rede— aproveita para compartilhar o que gosta na música e também para cornetar o São Paulo, seu time de coração, e o atual técnico, Fernando Diniz, a quem ela deu o braço a torcer.
Eu odiava, achava que não tinha tamanho e os resultados eram medíocres. Mas passado um período turbulento, ele acabou passando no teste. Resistiu às cornetas —inclusive à minha— e conseguiu encaixar um time com um padrão de jogo bem definido.
Daí você deve estar se perguntando: mas ela não vai falar da "Escolha Muito Difícil"?
Para quem não sabe, esse foi um editorial do jornal O Estado de São Paulo, no dia 8 de outubro de 2018. Como o título sugere, o texto equiparava os candidatos Fernando Haddad e Jair Bolsonaro.
"Eu acho que não é só desconhecimento do que é um editorial e uma peça jornalística. É má-fé mesmo, desonestidade. Quem posta, sabe que não fui eu que escrevi aquele editorial. Todo o período que precedeu as eleições mostrava que eu não era condescendente com o Bolsonaro", explica a jornalista.
Eu sempre falei que, qualquer que fosse o problema do Brasil, Bolsonaro não era a solução. Eu não achava uma escolha muito difícil, acho que os desmandos do PT ajudaram na construção dele, mas cansei de falar que o caminho contra o PT não poderia ser o Bolsonaro.
A jornalista diz que a menção ao editorial a irrita, mas não chega a ser um problema, já que ela usa todos os filtros possíveis para silenciar os haters.
Por isso, se você manda aquele meme do "E o PT? E o Lula?" para Vera Magalhães, a chance de você nem ser notado é grande.
Detratora de longa data
A entrevista com a jornalista aconteceu no mesmo dia em que Rubens Valente, colunista do UOL, revelou uma lista de "detratores" do Governo Federal. O nome de Vera Magalhães estava presente.
Ela, que trabalhou muitos anos em Brasília, diz que a relação entre governo e imprensa sempre teve seus ruídos, mas a situação escalou para níveis preocupantes depois da posse do presidente Jair Bolsonaro.
Bolsonaro atacou Vera após a jornalista publicar que o presidente estava divulgando um vídeo de apoio às manifestações contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, em fevereiro deste ano.
Eu já tenho casca grossa, estou no jornalismo há mais de 20 anos. Eu estava fazendo uma participação no podcast Mamilos e precisei sair três vezes para vomitar. Foi a primeira vez que passei por algo assim. A gente tenta ser durona, mas tem hora que pega.
'Groupie' do professor e fase DJ
Quando criança, Vera Magalhães sonhava ser modelo. A baixa estatura impediu que ela seguisse no ramo. O jornalismo apareceu na vida dela durante o ensino médio, por causa das aulas de redação e literatura com o professor Reinaldo Azevedo.
Eu voltava para casa embasbacada com as aulas, fiquei admirada por aquele cara, que era jornalista. Não tenho a menor vergonha de dizer que é uma coisa groupie. Eu decidi ser jornalista por causa do Reinaldo Azevedo
Vera se tornou uma das principais jornalistas de política do país e viveu muitos anos em Brasília, passando pelas redações da Folha de SP e da Veja, e acompanhando de perto as viradas do poder.
Apaixonada por música (para ela é Beatles > Stones), ela aproveitava o tempo livre para discotecar junto com os amigos Fernando Nakagawa, hoje repórter da CNN Brasil, e Alan Gripp, diretor de redação do jornal O Globo.
"Éramos um trio famoso numa festa chamada Rock Parade. Nunca fui a workaholic, que vai no bar e fica falando de política. Eu sou apaixonada por música".
O lance de DJ era para tirar onda, não sou nenhuma Alok. Um grupo de jornalistas acabou se juntando e fazendo festas de músicas dos anos 80, 90. Sempre foi algo de descontração, nada profissional. Daí, acabei levando esse lado para o Spotify, onde faço minhas playlists.
Um 'Roda Viva' mais diverso
Em dezembro de 2019, após a saída da jornalista Daniela Lima para a CNN, Vera assumiu o comando do "Roda Viva". Ela diz que uma das suas missões era tornar o programa mais diverso, principalmente na questão racial, e mais jovem, focando em novos públicos.
Vera diz que os debates que surgiram no programa serviram como uma espécie de terapia durante a quarentena.
Porém, o programa que ela destaca como mais impactante foi de uma figura carimbada da TV brasileira: Ana Maria Braga.
Eu achava que não ia ser nada demais, um personagem bastante conhecido. Acho que ela se saiu muito bem diante de perguntas até deslocadas da bancada, algumas datadas e preconceituosas. Ela deu uma aula de inteligência e cortesia. Saiu muito da ideia preconcebida que eu tinha.
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