Como 'Bridgerton' evitou ser uma série de época só com atores brancos
"Bridgerton", que estreia hoje na Netflix, tem um diferencial importante em relação a outras séries de época que vieram antes:
Ela tem um elenco diverso, realmente integrado à história.
Na série, pessoas negras têm títulos de nobreza e fazem parte da alta-sociedade londrina do século 19 —caso do Duque de Hastings (Regé-Jean Page), um dos protagonistas, e da própria rainha Charlotte (Golda Rosheuvel).
Mas não se trata de escalações "color blind", como se diz quando a etnia do personagem não faz diferença para a trama.
"Bridgerton" realmente torna a diversidade parte da série, seguindo os passos de outras produções da Shondaland (da poderosa Shonda Rhimes), como "Scandal" e "Grey's Anatomy".
E "Bridgerton" faz isso usando a história como base.
O criador e showrunner Chris Van Dusen, que adaptou a série a partir dos livros de Julia Quinn, se baseou nas evidências de que a rainha Charlotte da vida real (1744-1818) era descendente de africanos, uma informação muito resgatada nos últimos anos, com a chegada de Meghan Markle à família real.
A partir daí, Van Dusen criou em "Bridgerton" um mundo em que a ascensão de Charlotte ao trono foi transformadora para as pessoas não-brancas --o que é dito com todas as letras por volta da metade da temporada.
Para Golda Rosheuvel, que conversou com Splash no set da série, essa representatividade é uma vitória para o público:
Não se trata apenas de retratar um momento histórico clássico, mas também de ser fiel ao público que está assistindo.
Ela explica: "Ter pessoas não brancas, ter essa diversidade em 'Bridgerton', é importante porque o público assistindo à série vai poder se reconhecer e se ver nas histórias que estão sendo contadas".
Apagamento
A diversidade de "Bridgerton", porém, não facilita só a ligação com o público de hoje. Para Adjoa Andoh, que interpreta a fabulosa Lady Danbury, figura materna do Duque de Hastings, a série corrige um apagamento que já acontece há muito tempo nas artes.
Não é como se nós não tivéssemos estado por lá; É que não reconheceram a nossa presença. E é isso que a série faz: ela reconhece a nossa presença e a amplifica.
Ela lembra que na época em que se passa a série, o período regencial inglês, no início do século 19, havia 20 mil negros na Inglaterra. Muitos deles inclusive lutaram nas guerras contra Napoleão, em dois fatos confirmados por historiadores britânicos.
Logo, não dá para simplesmente dizer que só havia brancos entre os ingleses daquela época e usar isso como desculpa para só escalar atores brancos em produções do gênero.
O que acontece é que nós fomos apagados da história. Agora estamos sendo pintados nela de novo, e isso é ótimo.
*A repórter viajou a convite da Netflix
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