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'De Volta para o Futuro' errou há 35 anos, mas é possível viajar no tempo

"De Volta para o Futuro", filme lançado em 1985
"De Volta para o Futuro", filme lançado em 1985
reprodução/Universal Pictures

De Splash, em São Paulo

25/12/2020 04h00

O clássico "De Volta para o Futuro" completa 35 anos hoje e prova que continua sobrevivendo ao tempo (perdão pelo trocadilho). Pensando nas aventuras de Doc Brown e Marty McFly, nós embarcamos no DeLorean para resolver uma questão: afinal, é possível viajar no tempo?

Sim, mas só para o futuro.

Em busca de explicações para este mistério, Splash falou com Raul Abramo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP). Ele diz que para ir para o futuro é preciso só voar em um avião —por favor, não faça isto em casa, não decole aeronaves se não tiver autorização.

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marty - reprodução - reprodução
Cena de "De Volta para o Futuro"
Imagem: reprodução

O tempo passa de maneiras diferentes dependendo do seu estado de movimento; se você está em uma altitude maior e com força da gravidade menor, o tempo passa um pouco mais devagar. Isso é possível, não viola leis da física e nem leis da lógica.

- Raul Abramo, professor do Instituto de Física da USP

Se você decolar em São Paulo e pousar duas horas depois em São Paulo (no mesmo fuso), as horas passarão de forma diferente para você no avião do que na Terra; o seu relógio biológico poderia calcular aquilo como 1h30, por exemplo, enquanto uma pessoa na Terra veria o tempo se passar por duas horas.

Da mesma forma, um astronauta em órbita envelhece mais devagar do que nós, que estamos na Terra. É como se ele chegasse ao futuro mais jovem do que chegaria em condições normais. Teoricamente, assim se viaja no tempo.

Ficou confuso? Calma, a gente vai dar mais exemplos.

Se você colocasse uma carne no freezer em 25/12/2019 e retirasse hoje (um ano depois), a decomposição dela seria mais lenta do que normalmente é fora do congelador, certo? Do ponto de vista da carne, o tempo não se passaria desde 25/12/2019; mas você estaria no futuro, um ano depois.

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marty e doc - reprodução/Universal Pictures - reprodução/Universal Pictures
"De Volta para o Futuro", filme lançado em 1985
Imagem: reprodução/Universal Pictures

Viaja-se para o futuro toda vez que algo muda a velocidade (ou dilatação) do tempo, como o congelamento ou o avião voando em maior altitude e menor força gravitacional. Se um dia superarmos a velocidade da luz (299.792,4 km/s), poderemos ir mais longe no futuro.

Sim, a gente pode viajar para o futuro. Isso é sempre uma possibilidade. Cada vez que você entra em um avião, dá uma volta lá por cima e depois volta para a Terra, você viajou um pouquinho no futuro no sentido de que o tempo passou um pouquinho mais devagar para você que estava lá no avião.

Mas não se empolgue muito... Não dá para a gente viver uma história de Marty McFly e conhecer os nossos pais no passado. Até onde a física sabe, viajar no tempo para trás é impossível. E os tais "paradoxos" são obstáculos também.

marty e mãe - reprodução - reprodução
Encontro de Marty McFly com a mãe jovem em "De Volta para o Futuro"
Imagem: reprodução
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Voltar para o passado não é só um problema de física, é um problema de lógica. Você pode violar causa e efeito. A física não deixa coisas ilógicas acontecerem. Então alguém não pode voltar para o passado, antes de nascer, e matar a própria mãe.

Poxa, não dá para voltar nem mesmo uns minutinhos no passado?

Não... Afinal, se fosse possível voltar alguns minutos, o que te impediria de voltar 15 bilhões de anos e se desintegrar no vazio de um universo pré-Big Bang? Portanto, nada disso parece ser possível sob as leis da física.

Os filmes falam sobre "distorcer o espaço-tempo" para viajar para o passado, mas isso não é possível. O professor Raul Abramo fez uma boa analogia para explicar a curvatura do espaço-tempo: imagine que a massa do universo faz o tempo se curvar do mesmo jeito que uma bola de boliche curva um colchão.

espaço-tempo - reprodução/Nasa - reprodução/Nasa
Curvatura do espaço-tempo
Imagem: reprodução/Nasa

Com a bola de boliche em cima, a curvatura do colchão é sempre para baixo, certo? Você nunca vai colocar um objeto em cima de um colchão e curvá-lo para cima. Você pode encurvar o tempo e fazer ele passar de modos diferentes para a frente, para o futuro, mas nunca vai fazer o tempo correr para trás.

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Antes de morrer em 2018, Stephen Hawking levantou um bom ponto: se for possível viajar para o passado, então por que ainda não recebemos turistas vindos do futuro? Talvez estes viajantes sejam só discretos, mas é mais provável que voltar no tempo seja impossível.

É até poético, se a gente parar para pensar:

O tempo só se curva para o futuro.

de volta para o futuro - reprodução - reprodução
Cena de "De Volta para o Futuro"
Imagem: reprodução

Justiça seja feita, "De Volta para o Futuro" (1985) é um dos filmes mais aclamados da história e é realmente bom demais, assim como os outros dois da trilogia. Mas a trama de ficção-científica não tem muita relação com a realidade. A coisa mais realista ali é o amor de Marty e Jennifer.

marty e jennifer - reprodução/Universal Pictures - reprodução/Universal Pictures
"De Volta para o Futuro", filme lançado em 1985
Imagem: reprodução/Universal Pictures
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Aliás, outro ponto cientificamente incorreto é o fato de que eles viajam no tempo para o mesmo local no passado. O DeLorean acelera no estacionamento em 1985, mas, ao chegar em 1955, ele não deveria aparecer no mesmo lugar em que o estacionamento viria a ser construído. O motivo? A rotação da Terra!

Nós não estamos sempre parados no mesmo lugar do espaço. Há 30 anos, o planeta não estava exatamente na mesma posição de hoje. Ou seja, o DeLorean não poderia se movimentar através do tempo sem andar também no espaço, já que espaço e tempo são conceitos interligados.

Em resumo, não tente roubar plutônio (socorro, não roube!) para construir um DeLorean e viajar no tempo. Mas você pode aproveitar para maratonar a trilogia que diverte muita gente há gerações, já que revisitar as grandes histórias do cinema ainda é a nossa melhor forma de viajar no tempo.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi publicado em uma versão anterior deste texto, a velocidade da luz é de 299.792,4 km/s, e não 300.000 km/h. A informação foi corrigida.