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'Soul' é um filme racista? Pixar faz história com seu 1º protagonista negro

Joe Gardner é o protagonista de "Soul", da Pixar
Joe Gardner é o protagonista de "Soul", da Pixar
divulgação/Disney Pixar

De Splash, em São Paulo

27/12/2020 04h00

O trailer de "Soul" deixava muita gente com medo de que Joe, o primeiro protagonista negro da Pixar, passasse a maior parte do filme sem a sua forma humana. A preocupação era muito compreensível e se baseava em como personagens negros costumam ser tratados em animações: como criaturas não humanas.

Aprendemos muito com 2020 e a luta antirracista do Black Lives Matter (Vidas Negras Importam); temos uma dívida histórica de representatividade com a comunidade negra. Mas, felizmente, o filme da Pixar (disponível no Disney+ desde ontem) não é injusto com o personagem como tanta gente temia.

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"Soul" não desumaniza seu herói.

Ao contrário do que os trailers indicavam, Joe não passa a maior parte do filme na forma de uma "alma" com tons brancos e azuis. É a história de um homem afro-americano cujas raízes têm tudo a ver com o jazz que ele tanto ama.

Muito além do ator Jamie Foxx, que dubla Joe, "Soul" teve profissionais negros do alto escalão até os animadores mais jovens. Um dos roteiristas e diretores é Kemp Powers, o 1º negro a dirigir um filme da Pixar; em vídeo enviado à imprensa, ele mostrou que tomou as rédeas de como Joe deveria ser.

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Kemp Powers é um dos diretores e roteiristas de "Soul", da Pixar
Imagem: divulgação/Disney Pixar
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Não é um filme político, não há protestos ali, mas a figura humana de Joe Gardner aparece na maior parte. A essência de um homem negro criado em Nova York e apaixonado por jazz também está ali, refletindo nos ambientes que ele frequenta, como a barbearia do amigo, e em como se relaciona com o mundo.

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Cena de "Soul", da Pixar
Imagem: reprodução/Disney Pixar

Isso nos preocupava muito, mas mostramos o filme a um grupo de pessoas negras. Elas disseram que representamos bem a cultura afro-americana. Ele se transforma em alma porque precisava ver sua vida de outra forma, mas as bases de sua vida estão lá, explícitas.

- Pete Docter, um dos diretores, a Splash

Dentre as pessoas negras que aprovaram o filme antes do lançamento, estão a professora, antropóloga e doutora Johnnetta Cole, o cineasta Bradford Young, e os músicos Questlove, Daveed Diggs e Jon Batiste —um grupo com diferentes áreas de especialidade, mas com perspectivas da comunidade negra.

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No ano em que diversas pessoas negras viraram notícia (George Floyd, Beto Freitas e mais) como vítimas da violência de autoridades e motivaram manifestações com o lema "vidas negras importam", Joe emociona justamente por ser um completo apaixonado pela vida. E louco para mostrar que a sua importa.

soul - Divulgação - Divulgação
Cena de Soul, nova animação da Pixar
Imagem: Divulgação

Joe Gardner vê na música o propósito de sua vida inteira, mas a mãe se preocupa com as portas fechadas que o filho encontrará pelo caminho. É uma fantasia ao melhor estilo Pixar, é claro, mas a dificuldades enfrentadas por ele podem fazer muita gente se identificar no mundo real.

soul - Reprodução / Youtube - Reprodução / Youtube
Cena de "Soul", da Pixar
Imagem: Reprodução / Youtube

A graça do cinema é permitir que você entre na experiência de outra pessoa e sinta empatia. Eu espero que este filme deixe as pessoas verem as coisas através dos olhos de Joe. As coisas não são tão fáceis para ele quanto costumam ser para algumas outras pessoas.

- Pete Docter a Splash

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A Pixar formou um grupo para reunir vários afro-americanos em debates sobre Joe. A ideia era garantir que todos estivessem confortáveis com a representatividade do filme. O jovem animador MontaQue Ruffin estava no grupo e se emocionou ao falar ao jornal Evening Standard:

Foi uma experiência poderosa.

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MontaQue Ruffin é um dos animadores da Pixar que trabalharam em "Soul"
Imagem: divulgação/Disney Pixar

"Soul" começou a ser feito em 2016, antes dos protestos antirracistas de 2020, mas a sensibilidade da narrativa sobre o propósito da vida combina com a luta.

Embora não seja sobre Black Lives Matter, é importante que vejamos personagens de outras culturas e origens.

- Dana Murray, produtora, a Splash

soul - Reprodução / Youtube - Reprodução / Youtube
Cena de "Soul", a nova animação da Pixar
Imagem: Reprodução / Youtube