Ademir Zanyor, ex- 'Malhação', largou fama pela fé: 'Meu talento é de Deus'
De Splash, em São Paulo
12/01/2021 04h00
Quem acompanha a reprise da primeira temporada de "Malhação" (1995) no Viva deve reconhecê-lo. Ademir Zanyor viveu o professor de natação Israel na novela e viu a vida virar de cabeça para baixo com o sucesso na Globo. Porém, deixou tudo para trás por um chamado maior.
Ele explica tudo para Splash!
Lembranças
Ademir se lembra de que foi o último nome a compor o elenco de "Malhação". Elogiado pelos diretores por seu sorriso, ele fala do sucesso estrondoso que veio tão rápido com a então nova aposta da Globo.
Quando descobriram onde gravávamos, lotavam a entrada do estúdio. Eu via tudo aquilo acontecer e pensava 'Que sensacional'. Num dia, entrei, gravei e não era ninguém. No final da tarde, o programa ia ao ar. No dia seguinte, quando cheguei, tudo tinha mudado.
Na trama, o personagem Israel abordava assuntos importantes, como o racismo. Atrás das câmeras, Zanyor virou febre entre os espectadores.
Atraía mulheres e homens. Aparecia sempre de sunga. Alcancei o terceiro lugar de mais cartas recebidas na Globo! O personagem dava um tempero na 'Malhação'. Sem hipocrisia: é muito bom a gente ser querido, amado e desejado. A autoestima borbulhava.
Laços
Zanyor compara as amizades que fez em "Malhação" com amigos do tempo de escola. Com o passar dos anos, a vida de cada um vai tomando novos rumos. Quando André Marques, parte do elenco da época, postou uma foto ao seu lado no Instagram, as memórias vieram à tona.
É bem verdade que é igual ao colégio, quando alguém se forma e cada um segue seu caminho. Mantive contato com o André Marques, a Daniela Pessoa. Não tinha Instagram, criei há um ano. Com a reprise, o André postou uma foto comigo. Logo depois, foi uma badalação de gente vindo conversar.
Quando viajou a Portugal, no início dos anos 2000, para ministrar workshops de atuação, Zanyor também sentiu o sucesso de "Malhação" na Terrinha: a temporada de 1995 estava sendo reprisada na mesma época. Hoje, seus filhos adoram acompanhar o pai pela TV.
'Malhação' marcou uma época, uma geração. A marca ainda é muito forte. Eduardo Caldas, um dos atores da temporada, me procurou depois do início da reprise e retomamos contato. Meus filhos acompanham e curtem demais ver os vídeos.
Conversão
Depois de "Malhação", ele fez "Salsa e Merengue" (Globo, 1996), "Xica da Silva" (Manchete, 1996) e "Fascinação" (SBT, 1998). Mas a leucemia que acometeu sua irmã mais nova, Thamyris, na época com oito anos, gerou uma mudança radical na vida de Zanyor e ele se converteu à igreja evangélica.
Algo muito forte aconteceu dentro de mim. Sou o fruto da semente que foi a minha irmã, recolhida para Deus. Fui ficando apaixonado por Jesus. Sendo limpo. Meu dom foi para a igreja. Comecei uma carreira ministerial. Fui ordenado obreiro, evangelista, missionário, pastor.
Com anos de experiência como pastor, Zanyor já abriu duas igrejas do Ministério dos Discípulos de Cristo e fez inúmeras viagens como missionário, visitando lugares pouco favorecidos e oferecendo ajuda.
Já fui a Angola, Israel, Egito, Bolívia. Visitei presídios, comunidades, favelas, zonas de prostituição, tentando levar uma palavra de esperança para as pessoas. Para que se sentissem respeitadas como seres humanos. Não querendo que elas fizessem parte da religião, mas que se tornassem melhores.
Preconceito
Zanyor conta que seu passado na TV era visto com preconceito por muitos fiéis, enquanto o meio artístico também não vê com bons olhos sua relação com a igreja.
Estou entre dois extremos. A classe artística é preconceituosa com o cristão evangélico. Do lado cristão evangélico, também há preconceito em relação a artistas. Hoje, me encontro num nível de maturidade enquanto pessoa, e o preconceito não está acima de mim. Não vai ditar o que posso ser ou fazer.
Reconexão
2021 promete ser um ano de recomeço para Zanyor nas artes, um caminho que ninguém pensou que ele trilharia. Mesmo fora da TV, ele ainda oferece workshops de atuação e coleciona outras funções: designer, cabeleireiro e sócio de uma academia no Rio, mesmo vivendo em Belo Horizonte.
Deixar o meio artístico, trabalhos e regalias por conta de Jesus? Diziam 'Que loucura! Você está ganhando mais?'. Claro que não. Mas o povo convertido vibra, porque alguém foi alcançado por uma salvação eterna. Meu talento não é de meio artístico, de emissora, é de Deus.
Neste ano, Zanyor recebeu convites para atuar em uma nova série e ser roteirista e diretor de outra produção religiosa. Ele ainda pretende escrever um livro recapitulando tudo o que viveu nos tempos de fama. Ele ainda pode se aventurar num cargo público, mas ainda não dá muitos detalhes a respeito.
Estou sendo cogitado para assumir a secretaria de cultura de um município de São Paulo e de outro do Rio. O estigma marca você. Essa pandemia me deu tempo para rever muitas coisas da minha vida. Vou lançar um livro contando minha história.