Talita transou no 'BBB', foi xingada, demitida e conheceu o fundo do poço
De Splash, em São Paulo
13/01/2021 04h00
Talita Araújo tinha 22 anos e muitos sonhos ao participar do "BBB" em 2015. Brigou, namorou, se divertiu e acabou sendo eliminada com 60% dos votos. Para ela, estava tudo bem sair sem o prêmio. O que ela não imaginava era o que teria de enfrentar de volta à realidade, bem longe do confinamento.
Início da aventura
A jovem de Goiânia trabalhava como comissária de bordo em uma famosa companhia área. Ela havia se inscrito no reality naquele ano pela primeira vez, mas não acreditava realmente em suas chances.
O objetivo era a grana mesmo. Sonhava em estudar para ser piloto.
Sexo sem camisinha
O pesadelo começou quando ela chegou do lado de fora da casa. Lá dentro, Talita teve uma participação que ficou marcada pelas brigas e pela relação com Rafael Licks.
Um dos episódios mais comentados foi quando ela entrou no confessionário e pediu uma pílula do dia seguinte.
Talita Araújo, estudante e ex-BBB
Preconceito social
Passados quase seis anos, Talita tem convicção de que foi vítima de machismo, mas não só isso. O namoro continuou por mais um tempo depois do programa, e as ofensas não paravam.
"Sofri namorando com o Rafael. Ele se encaixa em todos os padrões de beleza, de cor, social. Eu recebia críticas por não estar à altura dele. Como o psicológico fica? Eu não pertencia à classe social do Rafael. Recebia essas críticas diariamente. Então, eu pensava: 'Não sou boa o suficiente'."
Talita e Rafael namoraram e fizeram ensaio sensual após o "BBB 15"
Dois pesos, duas medidas?
Talita lembra de outro casal de sua edição, Aline e Fernando, que também movimentou o edredom sem o uso de preservativo. Para ela, fica clara a injustiça que sofreu no tribunal das redes sociais.
"Não me enquadro em um padrão de beleza inquestionável. Sou de família pobre. Não vi ninguém falando da Aline como eu vi falando de mim. Senti isso na pele e doeu. É uma sociedade que precisa aprender a lidar com as diferenças e a respeitar as pessoas", avalia a ex-BBB.
Demissão
O "BBB" passou pela vida de Talita como um trator, e a exposição negativa lhe custou o emprego de comissária de bordo. O choque foi tanto que a derrubou, e ela caiu em depressão.
A seguir, ela relata como lidou com o anúncio da demissão:
"Eu fui demitida por causa do 'Big Brother' e doeu muito. Quando me informaram que não existia mais a possibilidade de voar pela empresa, uma parte de mim morreu. Fiquei de luto. Eu era tão feliz e gostava tanto! Foi injusto, porque eu não estava representando a empresa no 'BBB'."
O fundo do poço
Talita perdeu o prêmio, o emprego e chegou perto de tirar a própria vida. Segundo ela conta, o sofrimento era difícil demais para suportar sozinha.
"Entrei em crise existencial, e a grande pergunta que ecoava na minha cabeça era: 'Quem sou eu?. Eu sou quem eu penso que sou ou eu sou quem as pessoas acham que eu sou?'. Eu não tinha resposta. Entrei em depressão profunda e desisti da minha vida. Tentei me matar diversas vezes."
Talita se tratou e passou um tempo internada em um hospital psiquiátrico. Contou com a ajuda da família e recorreu à terapia. Hoje, ela afirma que já entende que o "BBB" a fragilizou e que ela absorveu tudo de negativo que falavam a seu respeito.
A superação
Há quase dois anos ela vive em Dublin, na Irlanda, onde recomeçou a vida e voltou a sonhar. Como aquela menina de 22 anos que pisou no reality show. Arrependimento pelo "BBB"? Talita prefere outra definição.
"Eu perdi anos da minha juventude que nunca vão voltar. Prostrada, olhando para o teto, porque não conseguia fazer nada. Estou num processo de aceitação e aprendizado sobre tudo o que aconteceu, sobre a Talita no singular e no geral, como sociedade. [O 'BBB] Faz parte da minha história."
O que a Globo poderia fazer?
Talita acredita que a emissora deveria fornecer terapia aos participantes que saem do "BBB". Nem todos precisam, ela reconhece, mas a história dela poderia ter sido diferente com ajuda profissional.
Outros ex-BBBs também já enfrentaram problemas semelhantes aos da Talita.
"Durante o programa existe o suporte psicológico, mas deveria ser algo fornecido pela Globo [após o confinamento]. Se eu tivesse tido uma ajuda, talvez eu não tivesse tido tantos problemas. Poderia ter acontecido o pior. Uma tragédia", afirma.
A vida na Irlanda
Talita agarrou a chance de sair do buraco onde estava e se mudou para o Canadá. Mas conta que não era bem aquilo que imaginava e acabou decidindo se mudar para Dublin, onde estuda inglês e trabalha como garçonete em um pub.
Talita Araújo
Caso você esteja pensando em cometer suicídio, procure ajuda especializada, como o CVV e os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV (https://www.cvv.org.br/) funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente.