Fora da Globo, Zé Raimundo defende jornalismo: 'Nunca foi tão importante'
De Splash, em São Paulo
20/01/2021 04h00
Zé Raimundo é um apaixonado por contar boas histórias. E é isso que ele faz há mais de 40 anos como repórter. Suas reportagens nos transportaram para realidades que pouco conhecemos dentro do nosso próprio país e o inspiram a seguir na função, mesmo com as mudanças que 2021 trouxe.
No início de janeiro, Zé anunciou em suas redes sociais o fim de seu contrato com a TV Bahia, afiliada da Globo. Só na emissora, foram 31 anos e inúmeras memórias. Mesmo fora da rede, o jornalista só guarda boas recordações e fala sobre os novos planos em papo com Splash.
A Globo sempre foi a minha casa, minha referência. Eu pretendo continuar contando histórias. Tenho 65 anos, acho que ainda tenho muita lenha para queimar! Esse momento é turbulento, mas eu me vejo fazendo o que eu sempre fiz: contar histórias. É a única coisa que eu sei fazer na vida.
Novas aventuras
Hoje, com as redes sociais e o Youtube, o jornalismo se expande para outros universos. Zé admite não ser muito familiarizado com as novas tecnologias, mas espera contar com elas daqui pra frente.
Não tem nada fechado, existem convites. Meu caminho deve seguir pelas mídias sociais. A internet ganhou força. Me sinto fortalecido para isso. A TV aberta tem vida longa pela frente, mas está passando por uma renovação. Isso é necessário, embora a experiência sirva pra ensinar.
Falando em experiência, Zé descarta que o fim de seu vínculo com a Globo tenha relação com idade. Pelo contrário: agradece todo o apoio que recebe dos fãs e seguidores, conquistados ao longo de tantos anos de jornada.
Experiência nunca vai perder a força. Hoje, o público não está interessado se a pessoa é bonita, negra ou branca. O que importa é o conteúdo, a trajetória. Não percebo rejeição ao fato de eu ter 65 anos. Isso vai contra a lógica de que a idade seria um fator que limita a caminhada no vídeo.
Brasil invisível
Ao longo da carreira, Zé sempre fez reportagens explorando os recantos das regiões Norte e Nordeste do país, trazendo à luz uma parte do Brasil invisível para muita gente. E é isso que ele mais se orgulha.
Isso sempre foi o foco das minhas andanças pelo jornalismo na TV. Revelar a alma e a grandeza dessas pessoas. Nesses lugares que são mais isolados. Mostrar o quanto precisam dessa interlocução. Uma das funções do jornalismo é dar voz a essas pessoas que não são ouvidas ou vistas.
Zé denuncia a falta de atenção que essas regiões recebem do governo e também da mídia. Em momentos como esse, com a calamidade em Manaus em decorrência da pandemia, fica ainda mais claro perceber o descaso com o norte do país.
As autoridades não facilitam as vidas dessas pessoas, só olham para o próprio umbigo. Elas são simples, mas são de uma sabedoria muito grande. Não servem só para votar, passam experiência. Você não calcula como eu aprendo com eles.
Preconceito
Além de passarem despercebidos por muitos, o povo do Norte e Nordeste ainda enfrenta mais um obstáculo: o preconceito. Zé acredita que a ideia de que tais regiões seriam "atrasadas" seja vencida graças ao poder do jornalismo e das boas histórias.
Precisamos mostrar o outro lado. Ao mesmo tempo que o Nordeste é uma região castigada pelo clima, ela também tem exemplos maravilhosos na educação, na saúde. A grande mídia se acostumou a valorizar muito o lado ruim. A miséria, a fome, a falta de educação. De notícia ruim, estamos fartos!
São nesses exemplos positivos que moram as melhores lembranças de Zé, como quando viajou pelo Rio Amazonas e viu seu encontro com o mar ou quando atravessou o Rio São Francisco três vezes, da nascente até a foz.
Cruzada contra o jornalismo
O que significa ser jornalista diante de uma sociedade que cada vez mais duvida de informações corretas, é enganada por fake news nas redes sociais e descredibiliza o papel desses profissionais? Zé reforça a importância do jornalismo nos tempos que vivemos.
As pessoas que atiram pedras no jornalismo profissional valorizam a desinformação. Só querem se informar da forma que lhes convém. O Brasil vive um momento ruim na política. Não posso concordar com o que está acontecendo. Sofremos atrasos, é evidente. Por isso, a mídia profissional incomoda tanto.
Apesar dos percalços, ele tenta ser otimista quanto ao futuro. Zé acredita que essa guerra contra os jornalistas é algo passageiro e que a profissão nunca teve tanta importância quanto agora, diante da pandemia. Ele espera que o futuro guarde dias melhores.
Sou otimista por natureza. Nossa profissão nunca foi tão importante do que agora. Embora um grupo de pessoas esteja atirando pedras na mídia, temos outro grupo que utiliza a informação e a credibilidade para embasar sua linha de ação. Não se conquista credibilidade espalhando mentiras.