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Rap geek acumula bilhões de visualizações e tem mercado aquecido

Trecho do videoclipe "Akatsuki Gang" Reprodução / YouTube

De Splash, em São Paulo

25/01/2021 04h00

Bilhões de visualizações no YouTube. Dezenas de milhões de plays nas plataformas de streaming como Spotify e Deezer. Esses números dão uma dimensão do tamanho que o rap geek alcançou no Brasil.

Isso mesmo. O rap, braço da cultura hip-hop com diversos gêneros, ganhou mais um para a lista.

Mas o que tem de diferente no rap geek?

A essência do rap geek está em transformar histórias em quadrinhos, animes e filmes de heróis em rimas. Seja recontando histórias num novo formato ou apenas pegando impulso nas características de um personagem.

O produtor e cantor Sidney Scaccio, 22, é um dos grandes nomes da cena. Morador de Embu das Artes, na grande São Paulo, ele conta que o estilo da música não varia muito do que está na moda, como o trap, ou do clássico boombap.

O grande diferencial está nas letras que fazem uma relação dos heróis da cultura nerd com a vida cotidiana dos meros mortais.

Queremos passar boas mensagens e usamos a cultura geek como plataforma.
Sidney Scaccio, produtor e cantor

Dá para ouvir rap geek e pegar a mensagem sem ser geek?

Direto e reto: sim, é possível.

A cantora e compositora pernambucana Felícia, 26, explica que a grande sacada da cena é utilizar o universo dos desenhos, animes e filmes como meio para passar mensagens. As letras falam de amor, e também sobre o futuro e outras aflições dos jovens.

Claro que se você está distante do mundo geek, vai ter uma gíria ou outra, uma referência a um personagem aqui ou acolá que pode te deixar boiando. Mas não é nada de mais.

Naruto, por exemplo, é um jovem órfão que sofria bullying. Tentamos pegar essa história e transformar em música. É algo com que muito jovem se identifica.
Felícia, cantora e compositora

O rap é compromisso

As letras das músicas e a estética dos videoclipes —muitos deles são apenas colagens com trechos de animes— diferem de muito do que já vimos no rap nacional.

Scaccio é fã da cultura hip-hop e diz que o rap geek é uma manifestação do público jovem —como ele. Segundo o produtor, as críticas sobre o gênero são escassas e, até por isso, não incomodam. A maioria dos comentários é voltado para relação de culturas diferentes, mas não antagônicas.

Eu sofri muito com bullying na escola, tem ódio que não se explica. Entendo críticas, nem todo mundo gosta, mas vejo que há respeito, porque nosso trabalho é feito com amor.
Sidney Scaccio, produtor e cantor

Fã de Emicida, o produtor diz que tem o sonho de fazer um feat. com o rapper.

Bem, já sabemos que o autor de "AmarElo" também é geek e curte anime.

Fica aí o convite, Emicida!

Mercado aquecido

Felícia e Sidney contam que a cultura do rap geek começou a dar os primeiros passos no Brasil em meados de 2015, com artistas como o Tauz e Yuri Black, e canais de divulgação com o 7 Minutoz (que hoje acumula 10 milhões de inscritos no YouTube).

Eles contam que desde então vêm se aproximando da cena, mas que em 2020 os números começaram a aumentar, aumentar, aumentar... Hoje, as visualizações das músicas no YouTube estão na casa dos milhões e o engajamento do público é de dar inveja em muito influencer.

Os dois dizem que hoje pagam as contas de casa graças ao rap geek. Porém, por causa da pandemia do novo coronavírus, ficou difícil ter uma dimensão desse sucesso todo no mundo "real'.

Nosso público se identifica com as letras e com o som. Nós já fazíamos shows, mas creio que depois da pandemia, teremos noção do nosso real tamanho.
Felicia, cantora e compositora

Todo esse sucesso chamou a atenção de empresários. Foi o caso de Alexandre Duncan, CEO da RapRJ, que já trabalhou com artistas como Costa Gold e Cone Crew Diretoria, e criador da GeekMusik, uma gravadora voltada para os novos artistas do gênero.

Duncan conta que ficou de queixo caído quando olhou os números do movimento nas redes sociais e plataformas digitais. Sem manjar muito de anime e afins, contratou uma galera "especialista" para ajudá-lo e desenvolver ferramentas para impulsionar a cena.

São jovens que amam o que fazem. O público vê e por isso esse engajamento todo. Nosso papel, como GeekMusik, é dar apoio e ajudar no crescimento.
Alexandre Duncan, CEO da GeekMusik

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