Como prisão de rapper por tuíte pode abalar (mais) a monarquia na Espanha
Pablo Hasél, um rapper da região da Catalunha, na Espanha, se tornou o centro de um novo embate político sobre um tema já tenso no país: a monarquia. Hasél foi preso ontem dentro da Universidade de Lleida, onde estava protegido por estudantes, que fizeram uma barricada.
Ele foi condenado a nove meses de prisão pelos crimes de injúria à coroa e por glorificar o terrorismo, por causa de postagens que escreveu no Twitter entre 2014 e 2016.
Em um dos posts, por exemplo, o rapper chama a polícia de "mercenários de merda" e torturadores assassinos de manifestantes e imigrantes. Em 2014, o cantor já havia sido condenado a dois anos de prisão por canções em que clamava pela morte da família real.
A sentença da Suprema Corte afirmou que foram encontrados tuítes do rapper "que denegriram várias instituições e dedicam frases que glorificam certas pessoas condenadas por terrorismo".
Consta no documento que na época das publicações, Hasel tinha 54 mil seguidores. As autoridades "encontraram 1.915 tweets em que aparecem os termos GRAPO, Monarquia, Rei, ETA, Terrorismo, Bomba, Polícia e Guarda Civil", diz a sentença.
Ao ser colocado na viatura policial, Pablo gritou "morte ao estado fascista".
Protestos
A prisão do cantor gerou protestos na Catalunha e em Madri. Em Barcelona, cerca de 1.700 manifestantes queimaram lixeiras pedindo "liberdade para Pablo".
Já na capital espanhola, centenas de pessoas se reuniram no centro da Puerta del Sol, fortemente vigiada pelas forças de segurança, com faixas pedindo o fim da censura. Em dado momento, manifestantes mascarados jogaram garrafas na tropa de choque, que por sua vez respondeu aos ataques.
A Anisita Internacional na Espanha publicou no Twitter, hoje, que "Pablo Hasel ir para a prisão é injusto. Não vamos parar até que sejam revogados os crimes do Código Penal que limitam a expressão artística. Casos como este não podem ser repetidos".
Mais um abalo para a monarquia
A monarquia espanhola está em um momento crítico, puxado principalmente pelos mais jovens, que vêm questionando o regime nos últimos anos. As pesquisas ainda apontam que os espanhóis estão divididos quando o assunto é se o país deve se tornar república de vez.
Argumentos vão desde ilegitimidade do referendo sobre a Constituição, 40 anos atrás, à incapacidade do atual rei, Felipe IV, de manter coeso o país.
Ainda não ajuda os escândalos de corrupção da família real, que não são recentes. Em 2020, o rei emérito Juan Carlos 1º buscou refúgio nos Emirados Árabes Unidos. Ligado a um escândalo de corrupção no valor de US$ 100 milhões (mais de R$ 500 milhões), o ex-rei deixou o país sem anunciar seu destino.
O exílio incógnito amplificou as críticas contra a saída dele, tratado por muitos desde então como "fugitivo" de uma investigação por corrupção e lavagem de dinheiro.
Além de tudo isso, há o movimento de independência da Catalunha, que saiu reforçado das eleições regionais realizadas em fevereiro deste ano.
Aprovada em 6 de dezembro de 1978, a Constituição define o Estado espanhol como uma "monarquia parlamentar".
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