'Programa fraco' e uma 'farsa': as descobertas de Sarah em TCC sobre o BBB
Não é mais segredo que o TCC — Trabalho de Conclusão do Curso — da participante do "BBB 21" (TV Globo) Sarah falava sobre o programa. Mas o que, de fato, diz a sister diz nele? Splash teve acesso ao documento de 29 páginas onde a então estudante entendia que o programa era "fraco" e uma "farsa". As conclusões são baseadas em questionários aplicados em 41 pessoas no centro de Brasília, onde morava na época.
Sarah se formou em marketing e defendeu a monografia em 2012. Porém, o trabalho não consta no banco online de TCCs da biblioteca do Ceub, o Centro Universitário de Brasília, onde Sarah concluiu o curso.
Na semana passada, a mãe de Sarah, Maria Abadia Vieira de Souza, já havia adiantado que o trabalho da filha abordava o BBB. Inicialmente, Splash tentou obter o projeto de conclusão com a assessoria da jovem, mas não obteve sucesso. Anteontem, começaram as tentativas de acesso junto à universidade — não há uma cópia impressa do trabalho na biblioteca da instituição, exigência que deixou de existir em 2018.
Das 29 páginas, 16 são consideradas o "miolo" do trabalho — ou seja, da introdução à conclusão. Outras três são imagens do programa, duas do questionário aplicado, outras duas de referências bibliográficas e cinco de folhas de rosto, resumo e sumário, essas últimas consideradas itens obrigatórios.
O trabalho de Sarah analisa a opinião do público sobre o programa da TV Globo a partir de questionários aplicados na rua. Logo na introdução, a jovem reconhece que o BBB divide opiniões. Em seguida, Sarah confessa interesse em entender a influência da mídia sobre os telespectadores:
Sempre me interessei pelo jeito com o qual a mídia consegue influenciar o pensamento da grande massa, com pequenas atitudes que nem sempre parecem um jeito de manipular; no caso dos reality shows em especial, por parecer apenas um programa que mostra sonhos que os participantes desejam atingir, sendo ganhar milhões, se tornar cantor(a) ou ator(a), conseguir o emprego dos sonhos, ou apenas ter aqueles famosos 15 minutos de fama"
No trabalho, ela utilizou um método chamado de "estudo de percepção", que é "recomendável nas fases iniciais de uma investigação sobre temas complexos, para construção de hipóteses ou reformulação do problema, ou quando o objeto de estudo já é suficientemente conhecido a ponto de ser enquadrado em dado tipo ideal", explica no TCC.
Além de querer tomar a opinião do público, Sarah também queria verificar se a audiência da atração continuava alta e se as propagandas "presentes dentro do programa atingem o público que assiste ao reality".
Nas próximas seis páginas, a então estudante apresenta uma série de conceitos de forma sucinta: de marketing à explicação sobre a televisão brasileira — e, claro, sobre o fenômeno do reality show e o uso de propaganda na atração. Na sequência, dá mais detalhes sobre o trabalho e apresenta os dados reunidos nos questionários, aplicados em 11 de outubro de 2012.
Os resultados
Das 41 pessoas ouvidas, 59% eram homens e 41% mulheres. Não são apresentados os totais individualizados por sexo e também não é explicado como se chegou à amostragem. Também não há detalhamento do total de pessoas por faixa etária — dado indicado apenas por cores diferentes em um gráfico na monografia. Nos resultados, Sarah obversa que:
- 53,65% acreditam que o programa é farsa ou que possa haver armações da produção;
- 39,2% conhecem inscritos no BBB e 9,75% já se inscreveram anteriormente;
- 82,9% considera o BBB um programa fraco de conteúdo;
- 73,17% considera o programa um bom entretenimento;
- Mais da metade crê que a audiência do programa vem caindo nas últimas edições, mas acham que isso não será um motivo para o fim do programa, pois pela proporção do público que o assiste ele ainda é sucesso a nível nacional;
- 24,4% acha que a Globo deve mudar o formato do programa adequando-o para as crianças, pois a linguagem que os participantes adotam e as edições feitas pela Globo incomodam parte dos telespectadores.
Na sequência, Sarah observa que a audiência do programa vem caindo desde a quinta edição — a "análise" considerou a primeira edição até a 12ª e usa informações do Ibope. Há uma pequena recuperação entre o BBB 11 e a edição seguinte, o que, para a então estudante é explicado por dois fatores: a suspeita de ter ocorrido um estupro dentro da casa e o fim da novela "Fina Estampa".
Quase no final do trabalho, a estudante reconhece que a publicidade não tem interesse em mudar a opinião das pessoas, mas "mudar o modelo de aquisição". "A intenção é fazer com que o produto/serviço seja passado para que as pessoas possam adquiri-los, contudo, a publicidade fantasia o consumismo da população e tem como objetivo criar sempre novas necessidades."
BBB recorda prova que participantes passaram mal
Para Sarah, a grande audiência do programa fez com que o mercado publicitário investisse cada vez mais no BBB. Porém, a jovem observa que nem todas as propagandas dão certo e cita uma prova do anjo no qual o Guaraná Antártica era patrocinador. Nela, alguns participantes passaram mal.
"A AmBev fez um alto investimento para promoção da marca e teve seu produto difamado em rede nacional pelos participantes do reality", entende Sarah no TCC.
A percepção negativa da marca foi identificada pelas respostas dos participantes da pesquisa. O refrigerante Guaraná Antártica, por exemplo, foi o mais citado de maneira negativa, enquanto a Fiat foi lembrada de forma positiva. A estudante, no entanto, não explica o motivo da percepção diferente.
Por último, Sarah conclui que há uma "influência midiática" das propagandas nos telespectadores.
"Visto de maneira positiva ou negativa, 98% do público sabe o que acontece no programa, mesmo as pessoas que não o assistem ouvem comentários ou recebem, indiretamente, informações nas chamadas dos principais sites de notícias da internet e na televisão. O Big Brother Brasil ainda continua sendo um programa de enorme sucesso dentro da televisão brasileira", escreve a então estudante.
Sarah conclui que o público considera o programa fraco, mas gosta do formato. "O estudo feito não deixa dúvidas sobre a audiência do programa Big Brother Brasil, ele é conhecido por todos os entrevistados. Sendo mencionados de forma positiva ou negativa, todos os telespectadores que responderam ao questionário sabem o que é e conhecem o funcionamento do reality show."
Para Sarah, o programa mostra "ações íntimas de pessoas anônimas" e compara o isolamento na casa como uma "experiência de laboratório". Nas últimas linhas do trabalho, ela tenciona sobre liberdade e privacidade: "O público gosta de ser vigiado, e gosta de vigiar o outro, ter acesso a privacidade do próximo."
No último parágrafo, a jovem ainda diz que o consumismo é a base do programa, que é comparado à publicidade de revistas. "Mesmo com a queda de audiência nas últimas edições, o programa continua sendo um sucesso, e este modelo da programação na televisão brasileira continuará em alta, pois a aceitação do público é maior que a rejeição", conclui a jovem.
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