Jane Fonda quase me matou com sua aula de aeróbica, e ela pode muito mais!
Minha amiga chegou com ares de quem estava me dando um presentão: "Você precisa experimentar fazer uma aula aérobica da Jane Fonda". Eu juro que nem imaginei que ela estava tentando me assassinar.
Combinamos o dia, ligamos o Zoom, ela compartilhou a tela do YouTube. Gosto de exercícios. Uma aula que uma mulher dava há 40 anos no VHS seria moleza, certo?
Aguentei 12 minutos. Nos últimos quatro, começou a passar o filme da minha vida e eu juro que vi um anjo ou dois. Ela seguia nos pulinhos "one, two, three, four… and one…", "UHU", gritava a turma ali na tela, batendo palminhas. O que essa gente tem?
A aula que fez história
Jane Fonda estava com 45 anos (sete a mais do que eu hoje) quando teve a ideia de dar aulas de ginástica para financiar os projetos que tinha com seu segundo marido, o ativista Tom Hayden. Era uma câmera só, maquiagem e penteado feitos pela própria atriz, e figurantes. O roteiro era escrito em um papel colado no chão, que ela lia com desenvoltura enquanto fazia movimentos impossíveis. "E o resto foi história", conta ela, com deboche.
As aulas duraram de 1982 até 1995 (sim, ela tinha 58 anos e seguia fazendo milagres de alongamento e força). Os vídeos de Jane se tornaram os mais vistos do mundo —ela tem o crédito de ter inventado a industria do VHS, para se ter uma ideia. Seu livro sobre malhação ficou dois anos como o mais vendido dos EUA. Enquanto ela sussurra "Streeeech", como uma Barbie com pilhas, eu penso: "Que mulher".
Quase quatro décadas depois, Jane segue firme nos exercícios e postou recentemente em seu Instagram a academia improvisada em sua casa. Oitenta e três anos, fora o baile, os Oscars, os Globos de Ouro.
Desculpe, eu sei que isso foi intenso
Há uns dias, ela contou para Ellen DeGeneres que está aliviada de ter deixado o cabelo grisalho durante a pandemia. Parecia impossível, mas está ainda mais chique. Nesse domingo (28), procurou algo que servisse no armário, já que fez um voto de nunca mais comprar roupas. NUNCA MAIS COMPRAR ROUPAS.
Ela recebeu uma homenagem pelo conjunto da obra no Globo de Ouro. Claro, a roupinha que ela improvisou era um impecável terninho branco. Na subida dos degraus do palco, alguém tenta oferecer ajuda e ela recusa, educadamente. Meu filho, se a mulher fazia uma aula daquela aos 45 anos, não são três degraus que vão derrubá-la aos 83. Me poupe.
A obra recente também tira o fôlego: militância contra as mudanças climáticas, o que inclui algumas visitas à cadeia para dar visibilidade às causas que apoia; o documentário "9 to 5 - The Story of a Movement" (ainda inédito no Brasil), relembrando o filme que protagonizou com Lily Tomlin e Dolly Parton, em 1980. Na época, Jane já estava antenadíssima com a causa da equidade de gênero no mercado de trabalho —melhores condições salariais e de carga horária, além da batalha contra assédio. Se não bastasse, ela ainda pode te fazer feliz com "Grace e Frankie" na Netflix, uma das séries mais divertidas dos últimos tempos.
Sua mãe se matou. Seu pai, um ator famoso, a colocou num internato. Ela se divorciou de um homem por seus ideais. Meteu-se num avião e foi para a Guerra do Vietnã contar para todos o que acontecia lá. Um presidente dos EUA (Nixon) já a ofendeu publicamente. Mas ela prefere citar outro (Thomas Jefferson) ao atribuir a ele a frase "Uma revolução começa nos músculos".
Enquanto isso, ganhou o Oscar duas vezes e botou uma estatueta no colo do pai ausente, no fim de sua vida. Fora o prêmio desse domingo, foram mais oito Globo de Ouro. "Inhale, exhale."
"Desculpe, eu sei que isso foi intenso", diz uma Jane serena na cópia do VHS enquanto eu transpiro do lado de cá. Intenso foi o discurso dela na premiação no domingo. O treino aeróbico foi matador.
Adeus, calmantes!
Quando termina a aula, lá em 1982, Jane diz calmamente, sem uma gota de suor: "Bom trabalho! Você não se sente bem? Vejo vocês na próxima aula". Você, acabado no chão, pensa de onde vem tanta força para cogitar viver aquilo de novo.
No documentário "Jane em 5 atos", da HBO, ela afirma que recebeu relatos sobre as aulas: pessoas diziam ter largado os calmantes, melhorado da insônia, aumentado a força e o bem-estar.
Era a vida melhor que ela desejava nas causas pelas quais brigava —ela conta e pisca para mim. E eu realmente cogito tentar de novo.
Vou encerrar como o colega Chico Barney: seguirei no programa de Jane Fonda no YouTube e volto em breve, se sobreviver, com mais informações.
PS: Vou deixar uma aula aqui para vocês fazerem e depois me contam em que minuto morreram.
*
Luciana Bugni é jornalista, escritora e gerente de conteúdo digital da Discovery
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