Diretor da peça 'Precisamos Matar o Presidente' relata ameaças de morte
A peça teatral "Precisamos Matar o Presidente" mal foi lançada e já virou alvo de críticas, principalmente por grupos de extrema-direita. A divulgação começou há uma semana e já resultou em xingamentos e até ameaças de morte, conta o diretor Davi Porto, da Blabonga Companhia Teatral, com sede no Rio de Janeiro.
"Recebemos muitas mensagens de robôs, mas também de gente de verdade, o que nos deixou mais assustados. São pessoas querendo saber meu endereço, querendo a morte", observa o diretor, em entrevista ao Splash.
Segundo Porto, o título não faz referência ao presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), porém, muitas pessoas acabaram fazendo a associação. Nas redes sociais, críticos afirmam que é preciso recorrer à lei de segurança nacional para impedir a apresentação.
"Vai muito além de um título. Acho que a gente vive numa sociedade que parou de se informar, uma sociedade que recebe uma mensagem no WhatsApp, um título grande que tem uma informação em destaque, com tudo que a pessoa precisa saber para tirar as próprias conclusões dela e pronto, acabou. O nome da peça é 'Precisamos Matar o Presidente', mas pode ser o presidente de um clube, o vice-presidente, pode ser uma metáfora, pode ser tanta coisa e tudo que as pessoas querem entender é que é o presidente delas", salienta o diretor, reforçando que a peça é uma ficção.
Ao todo, serão oito apresentações online em março — entre sábados e domingos. A primeira sessão está marcada para o próximo sábado (6). A equipe conta com cinco atores que, inicialmente, iriam se apresentar de suas próprias casas. Porém, devido às ameaças, o planejamento se alterou e cada um deles irá fazer a transmissão de lugares não revelados. A intenção é preservar a segurança da equipe.
Porto contou ao Splash que não dorme direito há cinco dias e ainda se questiona se, de fato, o nome da peça não deveria ser outro. "O título gerou ódio antes dele [o espetáculo] acontecer. Não gosto de falar de arrependimento, mas, se eu soubesse antes o que agora eu sei, da repercussão negativa, talvez daria outro título."
O diretor acha "pouco provável" a peça não ser apresentada por decisão judicial ou por ataque hacker, mas não descarta a possibilidade. "É possível de acontecer. Se tentarem fazer alguma coisa, estou dentro da lei, pago meus impostos, não tem rachadinha, não fico instigando ninguém a matar ninguém. É só uma história a ser contada", conta Porto.
Ok, mas sobre o que fala a peça?
O diretor revela que não gosta de fazer spoiler, quando se antecipa detalhes de uma obra para uma pessoa que ainda não a viu ou assistiu. Porém, Porto explica que a peça retrata a vida de atores e artistas em "meio ao caos da pandemia" e ainda cercados por um ódio crescente.
"O que nós fazemos durante a peça é um cenário paralelo à realidade, não é o retrato da realidade. O [filme] 'Tropa de Elite' trocou os nomes dos participantes, mas todo mundo sabia quem era o personagem que representava [o ex-governador do Rio de Janeiro] Sérgio Cabral. Em momento algum falamos o nome do Bolsonaro [na peça "Precisamos Matar o Presidente]."
Os ingressos para a peça custam entre R$ 20 a R$ 1.000 e estão sendo comercializados neste link. Há um número limitado de ingressos gratuitos.
Deputado diz ter acionado PGR
Em vídeo divulgado nas redes sociais, o deputado Otoni de Paula (PSC) afirmou que ingressou com uma queixa-crime na PGR (Procuradoria-Geral da República) contra a companhia teatral. "Alguém mais inocente poderia dizer: 'ah! mas não está falando sobre o Bolsonaro'. Mas está falando sobre o Bolsonaro"
Procurada pela reportagem, a assessoria da PGR informou que o ofício da queixa-crime ainda não constava no sistema do órgão.
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