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Com 'WandaVision', o MCU agora é uma história sobre luto. Que timing.

Elizabeth Olsen como Wanda Maximoff em 'WandaVision'
Elizabeth Olsen como Wanda Maximoff em 'WandaVision'
Reprodução

De Splash, em São Paulo

06/03/2021 04h00

"WandaVision" é uma série sobre luto. Em 23 filmes e um bom número de produções para a TV, poucas vezes um produto do MCU (Universo Cinematográfico Marvel) se mostrou tão cristalino quanto às suas intenções.

A história que acompanhamos aqui é sobre uma mulher que perdeu tudo aquilo e, fundamentalmente, todos aqueles que davam sentido à sua vida.

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E mais...

É uma história sobre a agonia dessa perda, sobre o isolamento que ela provoca, sobre os comportamentos destrutivos que gera, sobre a forma como o mundo vigia a pessoa de luto para julgar suas ações como adequadas ou inadequadas. Sobre como machucamos os outros porque estamos machucados.

Mas Wanda Maximoff não está sozinha. "WandaVision" nos deu uma Monica Rambeau intimamente ferida pela ausência da mãe, que morreu durante os anos após o estalar de dedos de Thanos; e pela ausência de uma figura da sua infância que se anunciava como salvadora, a Carol Danvers de "Capitã Marvel".

"WandaVision" não fala muito dessas feridas, mas não precisa falar. Entendemos que Monica é alguém que perdeu tanto quanto a protagonista quando ela estende a mão para Wanda mesmo quando todos os indícios apontam para ela ser a vilã da história. Monica é aquilo que perdeu, de forma fundamental.

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Teyonah Parris, ótima como Monica Rambeau em 'WandaVision'
Imagem: Reprodução

Se identificou?

Contar uma história sobre luto, em 2021, não é fácil. Nos últimos 12 meses, todos nós aprendemos muito sobre ele — se não por experiência própria, ao menos por extensão, pela forma como um manto de luto se estendeu pelo mundo com a perda de milhões de pessoas para o coronavírus.

E, enquanto isso, nós estávamos (ou deveríamos estar) parados em casa, buscando na cultura pop um pouco de alívio e distração, sim, mas também algumas respostas. "WandaVision" nos deu algo próximo a isso.

"O que é o luto, senão o amor que perdura?", pergunta Visão para Wanda em uma cena do penúltimo episódio. Ao menos nas minhas timelines e feeds de redes sociais, a frase simples, talvez até um pouco brega, tocou fundo em muita gente (me incluo nessa!).

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Pudera: pensar em um amor que perdura frente a tudo o que Wanda viveu, mas também frente a tudo o que todos nós vivemos no último ano, é um bálsamo. Um bálsamo do tipo que só o entretenimento pode nos dar.

O futuro

Suspeito que veremos muitos heróis definidos pelo luto no futuro do MCU. Em "Homem-Aranha: Longe de Casa" (primeiro filme da Marvel pós-"Ultimato"), Peter Parker digladia com o legado e a memória de Tony Stark, um mentor que deixou noções de responsabilidade que, agora, o paralisam de medo.

Como ser um herói como o Homem de Ferro, um cara que se sacrificou para salvar o mundo? Como viver um ideal de heroísmo baseado não só nele, mas também no Capitão América? Difícil ignorar que esta é a narrativa que a Marvel construiu para o seu universo daqui para a frente.

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Peter Parker olha para grafite de Tony Stark em 'Homem-Aranha: Longe de Casa'
Imagem: Reprodução
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É uma narrativa que também deve aparecer em "Falcão e o Soldado Invernal", que estreia em 19 de março, preparada para lidar com a ausência de Steve Rogers na vida daqueles que eram mais próximos a ele: Bucky Barnes, o Soldado Invernal; Sam Wilson, o Falcão; Sharon Carter, a Agente 13.

E "Viúva Negra" provavelmente lidará com a perda de Natasha Romanoff, apresentando sua possível substituta na pele de Yelena Belova, uma personagem que deve ser definida pela ausência da "irmã".

Não são poucos paralelos. Assim como a Saga do Infinito estava cheia de heróis lutando com a oposição entre liderança pragmática e idealismo, a fase 4 da Marvel será recheada de personagens desenhados na sombra do luto.

E que timing! Se for por esse caminho, o MCU será mais relevante do que nunca.