Bebel Gilberto lembra vício em remédios e rompimento com irmão
Mesmo em meio à pandemia, Bebel Gilberto ainda tem motivos pra comemorar: a cantora, de 54 anos, está concorrendo pela quarta vez ao Grammy, na categoria álbum de música global. Otimista, ela diz que "sente o cheiro do prêmio chegando" na cerimônia da noite de hoje, em que participará da abertura cantando, ao lado de outros, a música "Mercy Mercy Me", de Marvin Gaye.
O troféu marcaria o início de uma nova fase na vida da artista, após um período de polêmicas envolvendo o patrimônio do pai, João Gilberto, que morreu em 2019, aos 88 anos.
Em entrevista ao jornal O Globo, Bebel relembrou o episódio, que começou após ela pedir a interdição judicial do pai um ano antes de sua morte. Ela afirmou que tomou a decisão por considerá-lo "largado" depois da morte de sua mãe, a cantora Miúcha, no final de 2018, dizendo que, apesar de os dois estarem separados desde 1971, eram ela e uma irmã do músico que cuidavam dele.
"Não considerava voltar para o Brasil. Um pena não ter aproveitado tanto meus pais. Minha mãe morreu nove dias depois de eu ter regressado. Foi muito puxado, mas tivemos uma despedida linda. Antes disso, perdi o meu melhor amigo, o Mario Vaz de Mello. No caso do meu pai, minha mãe que tomava conta dele. Depois que ela e a irmã mais velha dele morreram, meu pai ficou muito abalado", contou a cantora, que ficou por duas décadas nos Estados Unidos e agora mantém base no Rio de Janeiro.
"Os perrengues já tinham começado há muito tempo. Toda vez que vinha ao Brasil, precisava apagar incêndio, pagar contas, reembolsar a mamãe. Me dei conta de que ele estava largado e que se largou também. Pedi a interdição judicial para cuidar dele e fiquei com fama de brigar por uma herança que nunca existiu. Na turnê pela Europa, em 2019, eu tinha a curatela. Ia dormir elaborando pratos, pensando no menu, preocupada se ele tinha voltado para a cama depois de tomar café", afirmou ela.
Mas a responsabilidade de Bebel sobre os bens do pai criou um racha na família, envolvendo o meio-irmão, João Marcelo Gilberto, a meia-irmã, Luisa Carolina, a mãe da meia-irmã, Claudia Faissol, e Maria do Céu Harris, que alega ter sido companheira do compositor em seus últimos anos de vida.
João Marcelo, acusou a irmã de ter se apropriado do dinheiro do pai para "viver no luxo", retirando o apoio financeiro que ele recebia.
"O meu irmão, com quem já não tinha muita relação, espero nunca mais falar na vida. Doeu o que ele fez, mas passou", ponderou ela sobre João Marcelo, filho de Gilberto com a primeira mulher, Astrud.
"Irmã, eu considero a Silvia Buarque (prima de Bebel, filha de Chico e Marieta Severo). Pela sanidade da relação com a minha irmã (Luísa, de 17 anos), não questiono a mãe dela. Não tenho contato com a Maria do Céu. A Justiça nomeou a advogada Silvia Gandelman como dativa. Está andando. O mais importante é que a obra dele não está parada. Pela minha natureza, acho que tudo deve estar disponível, as pessoas precisam ter acesso. Com essa chatice toda, essa frequência fica até mais alta do que o legado do papai. Eu lamento", disse.
Ao comentar suas idas e vindas pelo mundo, tendo vivido longe dos pais desde os 5 anos, Bebel detalhou a decisão de deixar o Brasil nos anos 1990 para morar de vez nos Estados Unidos, onde nasceu, afirmando ter sido motivada pelo trauma com a morte de Cazuza, seu grande amigo.
"Todo mundo pergunta: 'Vocês eram muito loucos?'. A gente vivia na praia, adorava camarão com chuchu...Sou intensa, animada, mas nunca fui da virada. Não estou aqui de santa, mas criaram um mito em cima de mim. Hoje sou quase mais famosa como a amiga de Cazuza do que a filha de João Gilberto. O buraco da morte dele foi um dos motivos que me fez ir para os EUA", disse.
Ela ainda falou sobre sua experiência com drogas durante a juventude no Rio, contando que, apesar de ter experimentado substâncias ilegais de forma recreativa, seu maior problema foram os remédios para dormir.
"Não acho bacana a coisa dos anos 1980, de a gente ter usado tudo, sem medo. Eu gostava de um baseado, tomava um ácido de vez em quando, a cocaína foi um tchan, mas pouco. Sou uma pessoa que tem ressaca, noitada para mim, apesar da fama, era sinônimo de cama", disse.
"Cultivo a arte de dormir bem e isso reflete no dia a dia, na relação com as pessoas e na criatividade. No passado, não conseguia adormecer sem remédios, tomei durante anos. Quando vi, estava viciada. Parei em 2014. Fui me equilibrando, fazendo ginástica. Antigamente, não tomava café, ficava de jejum um tempão e acordava tarde. Hoje levanto às 7h, bebo água com limão, tomo café, como tapioca e malho às 13h com meu professor Rodolpho Filho, que é incrível. Adoro minha cachorrinha e estou de bem com a vida. Sei que envelhecer é difícil, mas não sinto tanto: vou completar 55 me sentindo com 45", completou a cantora.
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