'Feminismo está presente no nosso conteúdo', diz diretora do Grupo Playboy
De Splash, em São Paulo
21/03/2021 04h00
Você já parou para pensar quem é e o que pensa a pessoa que cuida do conteúdo dos principais canais de sexo explícito do país?
Bem, ela atende pelo nome de Cinthia Fajardo, 45, diretora-geral do Grupo Playboy no Brasil, responsável pelos canais: Sexy Hot, Playboy TV, Sextreme e Vênus.
Ela assumiu o cargo mais importante da empresa no Brasil em 2020 —sendo a primeira mulher a ocupar tal espaço. Em conversa com Splash, a economista formada pela UERJ e com pós-graduação em marketing, disse que não se imaginava nessa posição láááá atrás.
O tempo foi me levando a almejar isso.
Depois de passar quatro anos no marketing do Multishow, Cinthia está há uma década no Grupo Playboy. Agora como diretora, sua missão é levar mais diversidade aos conteúdos, como títulos com pessoas transsexuais e acessíveis para pessoas com deficiência visual ou auditiva.
Cinthia Fajardo, diretora-geral do Grupo Playboy Brasil
Isso mesmo. Foi dominada por homens. Hoje não mais.
Para se ter uma ideia, 80% do quadro de funcionários do Grupo Playboy Brasil é composto por mulheres. Isso vai de atrizes a roteiristas.
O carro-chefe do Grupo Playboy no Brasil é o Sexy Hot, que tem mais de 30% do público consumidor de mulheres.
Cinthia destaca que essa ocupação de espaço por mulheres é fundamental e reflete diretamente no conteúdo. Segundo ela, a ideia é cada vez mais transformar o conteúdo produzido em "sexo real", com diversidade de corpos e gêneros.
Dentro disso, o debate feminista é fundamental.
A gente quer trazer esse debate feminista para o conteúdo, temos que retratar o prazer feminino, fugir dos estereótipos para além do sexo heteronormativo e da visão masculina.
Cinthia Fajardo
O papel de educar do 'pornô legal'
Cinthia é casada e mãe de dois filhos já maiores de idade. Ela diz que conversa com eles —um homem e uma mulher— sobre educação sexual e a indústria em que trabalha.
Sempre fui aberta e não encaro isso como um tabu.
Ela destaca que os filmes de sexo explícito servem como entretenimento. Em suma: tem uma galera que gosta de ver outra galera transando.
No entanto, também é preciso ter cuidado sobre a mensagem passada ali para não reforçar estereótipos negativos.
O conteúdo pornográfico não tem a intenção de ser educativo, mas acho que a partir do momento que produzimos conteúdos mais próximos da realidade, desmistificamos algumas coisas. Com isso, podemos gerar novas conversas.
O conteúdo de canais como o Sextreme é licenciado pelo Grupo Playboy Brasil. Já boa parte do conteúdo do Sexy Hot é produzido pelo próprio canal. Com isso, Cinthia afirma que a mensagem para o uso de preservativos, precaução com ISTs, entre outros fatores, também é analisada.
A diretora chama a atenção para conteúdos amadores que são disponibilizados em sites gratuitos como Xvideos. Segundo ela, a falta de cuidado na produção ou na própria curadoria das plataformas pode ser um problema.
Se você gosta de conteúdo de sexo explícito, tem que ter cuidado.
Cinthia Fajardo
O pornô na pandemia
Desde março de 2020, quando começaram as primeiras medidas de restrição por conta da pandemia do novo coronavírus, o número de acesso aos sites de sexo explícito aumentou.
Para tentar fidelizar um novo público, o Sexy Hot chegou a liberar conteúdos para não assinantes e oferecer assinaturas gratuitas por tempo limitado.
Como em todo audiovisual, as produções foram paralisadas por causa da covid-19, mas nem tanto. Cinthia conta que um casal de atores conseguiu produzir conteúdo de casa, com equipamento próprio e todos os testes feitos.
Segundo ela, o impacto foi grande e não há previsão para a retomada das filmagens.
O jeito é inovar. Pensamos em novas formas de distribuir conteúdo, de interagir com o público. Precisamos ter segurança para produzir, e agora não é momento.