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Chorão já deu prótese de US$ 42 mil a skatista amputado: 'O cara faz falta'

Bruno Souza, o Perna, e Chorão, com o primeiro filho de Bruno, Samuel Arquivo pessoal

De Splash, em Santos

07/04/2021 04h00

Chorão era intenso, dizem amigos.

O vocalista do Charlie Brown Jr. ou gostava ou não gostava das pessoas, sem meio termo. Bruno Souza, skatista amputado, teve a sorte de estar no primeiro grupo e lembra de quando, mesmo sem conhecer direito o cantor, ganhou dele uma prótese de US$ 42 mil.

O episódio é citado brevemente pelo guitarrista Thiago Castanho, companheiro de banda, em uma cena do documentário "Chorão: Marginal Alado", que estreia amanhã nas plataformas de streaming Now, Google Play, Apple TV e Vivo Play.

Você não via o Chorão dizer que tinha uma ala enorme [que ele ajudou a construir] em um hospital de Barretos. Ou que deu uma perna de fibra de carbono para um skatista.
Thiago Castanho, no documentário "Chorão: Marginal Alado"
Bruno Souza e sua prótese tecnológica Imagem: Arquivo pessoal

Foi Bruno quem contou essa história para Splash.

O ano era 2007. Bruno, também conhecido como Perna, então com 19 anos, já andava de skate em Curitiba e disputava campeonatos. Ele escutava muito Charlie Brown quando, por intermédio de um amigo, teve a oportunidade de conhecer o ídolo.

O skatista usava, na época, uma prótese "bem zoada" —como ele define— de parte da perna esquerda. O membro foi perdido em um acidente com uma máquina de moer soja na fazenda do avô, aos 3 anos.

Bruno visitava Chorão com frequência em Santos Imagem: Arquivo pessoal

Bruno foi a São Paulo conhecer o músico e conversar com ele. Pediu, na cara dura, para que ele divulgasse sua história, pensando na possibilidade de alguém se solidarizar e decidir ajudá-lo a comprar uma prótese melhorzinha.

Ele disse para mim: 'Eu quero ter a moral de pagar o bagulho para você'. Não imaginava que ele tiraria a grana do próprio bolso. Foi emocionante.
Bruno Souza
A dupla no Chorão Skate Park, em Santos Imagem: Arquivo pessoal

A prótese, com tecnologia de ponta, valia US$ 12 mil e, somada à taxa de importação da Alemanha, custou US$ 42 mil (o equivalente hoje a R$ 235 mil).

Era linda. O encaixe era de fibra de carbono, algo que eu nunca havia usado. Foi f***. O skate ficou em outro nível. É diferente ter uma parada que não te machuca e dá segurança.

Apenas pessoas do círculo pessoal de Bruno sabem da história.

Ele fazia as coisas pelas pessoas, mas não gostava de usar como marketing pessoal. Acho que ele era muito sensível, mas gostava de manter a aparência de 'brabo'.
Bruno Souza

No rolê de Santos

Bruno desenvolveu uma amizade com o ídolo e passou a ir com frequência a Santos (SP), onde o músico mantinha a pista indoor Chorão Skate Park. Durante oito meses, morou por lá, dormindo em um colchão emprestado por Chorão.

A camaradagem é vista no começo desse videoclipe, de um som de Bruno em que reflete sobre a vida:


A atual profissão, como videomaker, assim como a mãe de seu primeiro filho, Bruno encontrou na tal pista de Chorão.

Ele emprestava câmeras, e eu gravava campeonatos, tirava uma grana. O Chorão me incentivava com isso porque dizia que skate não dá dinheiro. Ele me deu um caminho.
Bruno Souza

Ao longo da amizade, Chorão ainda pagou custos de viagem de competição para Bruno, quitou prestações de um carro dele e pagou duas outras próteses quando a primeira quebrou.

Bruno era protegido de Chorão nos rolês de skate Imagem: Arquivo pessoal

Outros amigos atestam o lado "mão aberta" do músico.

Mesmo antes da fama, ele não tinha muito apego às coisas. Se ele gostava de você, tirava até a própria camisa para te dar. Se não gostava, era bem direto.
Tom Leal, skatista e amigo de adolescência de Chorão

As histórias não param:

Quando ele morreu, teve família que ficou desamparada. Ele doava fórmula para bebê, daquelas de R$ 70 a latinha, para famílias necessitadas.
Kléber Atalla, amigo e ex-motorista de Chorão por 10 anos
Bruno Souza dropa na pista de skate: ele não deixou o esporte Imagem: Arquivo pessoal

O último encontro

Bruno conta que a última vez que viu Chorão foi semanas antes de ele ser encontrado morto, em 2013. Ele diz que, na época, já percebia o amigo "bem mal".

Depois de um show do Charlie Brown na cidade litorânea de Guaratuba (PR), no hotel em que estava hospedado, Chorão sugeriu que Bruno abrisse, ao lado dele e do fotógrafo da banda, Jerri Rossato Lima, uma produtora audiovisual.

Em fevereiro, eu pedi as contas de uma emissora de TV e de uma escola a distância para trabalhar com ele. Eu ia mudar para Santos no dia 3 de março, e ele morreu no dia 6.
Bruno Souza
Bruno Souza hoje, com o filho caçula, Zion Imagem: Arquivo pessoal

Ele diz que os filhos, Samuel, 11 anos, e Zion, 3, apesar de não andarem muito de skate (por ser perigoso), herdaram o gosto pelo som do Charlie Brown Jr.

Meu mais velho conta na escola que o pai era amigo do Chorão, todo orgulhoso. Sinto falta de trocar ideia. Aprendi com ele a investir nas paradas e a acreditar nas pessoas.
Bruno Souza

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