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'Machado de Assis é o melhor; sou o segundo', diz escritor Marcos Bulhões

O escritor Marcos Bulhões Divulgação

De Splash, em São Paulo

12/04/2021 04h00

O Brasil ainda não tem um Nobel de literatura, mas nossa lista de grandes escritores é gigante. Machado de Assis, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Mário Quintana... bem, dá para preencher esse texto só com talentos.

Mas será que Marcos Bulhões estaria nessa lista? Ele acredita que sim.

Aos 28 anos e nascido no bairro Vila Industrial, zona leste de São Paulo, ele é um fenômeno na internet, com mais de 1 milhão de seguidores nas redes sociais. E, segundo o próprio, está entre os grandes nomes da literatura nacional.

Em entrevista para Splash, o escritor não mediu palavras e, quando questionado sobre suas referências e quais escritores ele mais gostava, mandou na lata:

O número um é Machado de Assis. Pra mim, eu sou o segundo melhor. Só fico atrás dele. Eu adoro ler o que produzo.
Marcos Bulhões

O nome de Bulhões, que tem três livros lançados ("Elucubrações", "5 Passos Para Esquecer Você" e "Ao Ex Amor", todos publicados de forma independente) viralizou nas últimas semanas graças a um post seu que fazia um paralelo entre leite, café e amor.

Texto e imagem foram postados no Instagram, mas a discussão se deu, principalmente, no Twitter.

A maior crítica era sobre a escolha da imagem erotizada e o texto, considerado caça-like-para-pegar-mulher.

Bulhões reforça que é casado ("eu não penso em like"), diz que leu os comentários e ficou triste num primeiro momento, porque era "uma galera que não conhece meu trabalho".

Segundo ele, as imagens são enviadas por fãs e fotógrafos, e a intenção não é pescar o leitor com pessoas nuas.

Acredito que meus textos tenham potencial de viralizar pela qualidade. Eu procuro diversificar as imagens, não penso em erotização.
Marcos Bulhões

Para reforçar seu ponto de vista, ele fez comparação com obras do artista italiano Michelangelo (1475-1564).

Imagem: Alberto Pizzoli/AFP
Quando vemos um quadro dele, não pensamos no pênis pequeno ou na nudez ali. É muito mais sobre o conteúdo, sobre a mensagem que ele quer transmitir.
Marcos Bulhões

Um escritor moderno

Bulhões diz que sua vida mudou radicalmente em 2015. Seu irmão, três anos mais novo, foi preso e ele, que perdeu o pai aos 11 anos, passou a ser o "comandante" da casa. No meio tempo, terminou o noivado de um relacionamento que começou na adolescência.

Era como se a minha vida tivesse acabado ali. Eu não sabia o que fazer, como seguir.
Marcos Bulhões

Como escape, ele decidiu escrever. Fez um textão no Facebook, que teve uma boa repercussão. Com os elogios, decidiu continuar. E foi criando uma legião de fãs.

Hoje, além dos livros e dos textos no Instagram, ele também participa de eventos e dá palestras pelo Brasil.

Bulhões diz que a paixão pela literatura sempre existiu, mas cresceu de seis anos para cá. Seu primeiro livro lido foi "Memórias Póstumas de Brás Cubas", do seu ídolo Machado de Assis.

Ele também cursou sete semestres do curso de psicologia, mas trancou a faculdade para seguir a carreira de escritor.

Imagem: Divulgação

Ironicamente, seu conteúdo é focado numa rede social de imagens. No Instagram, são mais de 1,4 milhão de seguidores. Ele diz que seu processo criativo é bem intuitivo e vem do dia a dia.

Suas frases de efeito correm pela internet e viram até tatuagem. Uma das que Bulhões mais se orgulha é:

Perca o amor da sua vida, mas não perca a sua vida por um amor.

Uma semana no grupo de Telegram

Aqui, vou compartilhar um relato pessoal com vocês. Passei uma semana no grupo do Marcos Bulhões no Telegram. Lá, o autor compartilha vídeos, áudios, fotos e poemas —seus e de outros escritores.

O grupo tem mais de 17 mil integrantes. A interação é quase que exclusiva de mulheres, e todas (sim, TODAS) agradecem pelos textos, dizendo se identificar com as histórias narradas.

O que me gerou incômodo foi a utopia blasé transmitida ali. Uma busca pelo amor de filme da "Sessão da Tarde" para maiores de 18 anos, gerada pela mente de um homem, que quase sempre coloca a mulher no papel de protagonista das histórias.

Na entrevista, compartilhei com Bulhões esse incômodo e perguntei se ele não enxergava uma problemática nessa situação. Ele negou. Disse não saber explicar o sentimento que seus textos causam e que tudo que escreve é uma espécie de desabafo da alma —nem sempre histórias reais.

Quando escrevo, não penso em gênero. Eu simplesmente escrevo. E as milhares de mensagens que recebo me confortam. Acho que estou no caminho certo.
Marcos Bulhões

E seria Marcos Bulhões um feminista?

Não, eu sou humanista. Acho que quando as pessoas não se oprimirem, não teremos mais esses rótulos.
Marcos Bulhões

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