Ex-cantor gospel sobre se assumir bissexual: 'Ameaça de morte todo dia'
De Splash, em São Paulo
14/04/2021 04h00
Antes mesmo de completar 18 anos, Jotta A já tinha conquistado mais do que muitos cantores sonham. Vendeu milhares de discos e foi indicado ao Grammy Latino. Mas, para viver sua verdade, o cantor, atualmente com 23 anos, precisou deixar o mundo que conhecia para trás.
Como tudo começou
José Antônio, o Jotta, nasceu em Guajará-Mirim, em Rondônia, e conheceu a fama bem cedo. Aos 6 anos, gravou o primeiro disco, e aos 12 estourou depois de participar de um programa de calouros apresentado por Raul Gil.
É muito difícil estar exposto a tantos olhares em uma fase em que você está se descobrindo, em busca de aceitação. Eram 15 shows por mês, programas de TVs, viagens. Tudo isso vivenciado em um ambiente religioso, cheio de regras e cobranças.
Em busca da verdade
Criado em uma família cristã, foi na Igreja que Jotta descobriu o senso de comunidade e também recebeu as primeiras influências musicais do soul e do R&B. Foi no gospel que sua carreira deslanchou. Mas algo não se encaixava quando se tratava da sua sexualidade.
Isso causou várias dúvidas na minha cabeça. Eu era um dos cantores com mais visibilidade no mercado gospel, mas a culpa só crescia porque o aprendizado que tive dentro da igreja era de que ser homossexual é errado.
Jotta tinha receio de não ser aceito pela comunidade e pelo público que sempre o acompanhou, além de arriscar o sucesso que tanto ajudou sua família a ter uma vida melhor. Mas o cenário se mostrou insustentável.
Eu tinha toda uma estrutura empresarial e familiar que dependia financeiramente do meu trabalho. Como se desfazer de tudo isso quando você sabe que se assumir afetará toda a sua carreira? Você não será aceito da forma que é, e, sim, da maneira que eles querem que você seja.
Por dentro, já estava vivendo um processo de autoconhecimento. Meu maior medo era expressar isso e entender como mostrar esse novo trabalho, guardado há tanto tempo dentro de mim. O recomeço é sempre necessário, mas gera insegurança.
Compus uma equipe que me aceita e acredita no meu novo trabalho, buscando amigos e pessoas que me queiram bem como eu sou. A sensação é de liberdade, como pessoa e como artista. Quero conquistar novos fãs e atingir a comunidade LGBTQ+ com a minha música.
A mudança radical, porém, não foi vista com bons olhos por alguns ao seu redor. Jotta lamenta que até hoje, quase um ano depois de se assumir bissexual e de se afastar da Igreja, ainda receba ofensas e críticas. Da religião, ele tenta guardar somente as coisas boas.
Sofro ameaça de morte todo dia, palavras de ódio, racismo, homofobia. Pessoas subestimam meu trabalho. Até hoje, enxergo Cristo com um mensageiro de amor para todos, não só para as pessoas que a Igreja prega. Sou grato pela trajetória que tive, mas não sigo nenhuma religião. Só acredito em Deus.
No ano passado, Jotta conseguiu lançar três músicas novas: "A Caminhada", "Aventurero" e "Originais". Ele já está em estúdio preparando novas canções e elege Glória Groove, Maria Gadu, Troye Sivan, Sam Smith e Beyoncé como inspirações.
Depois de um período turbulento, o cantor está livre para voar.
Viver uma mentira me trouxe problemas psicológicos, como ansiedade e depressão. Hoje, estou mostrando quem realmente sou, podendo assumir minha arte e minha verdade. Tirei das costas um sistema que não me aceitou como sou. Este é o momento de mostrar quem é o Jotta A.