Livros eróticos com CEOs como protagonistas dominam lista de mais vendidos
De Splash, em São Paulo e Santos
19/04/2021 04h00
Dez anos depois do lançamento da série de best-sellers "Cinquenta Tons de Cinza" de E. L. James —na qual o empresário Christian Grey se apaixona perdidamente pela mocinha Anastasia Steele—, romances eróticos envolvendo CEOs de grandes empresas continuam bombando no Brasil. Sim, em pleno 2021.
No momento da elaboração deste texto, o ranking brasileiro dos 10 ebooks mais vendidos na Amazon tinha cinco títulos com essa temática. A maioria destas histórias é escrita por mulheres, que têm como alvo justamente o público feminino.
Dá-lhe um festival de capas com homens de terno!
Você deve estar se perguntando: como assim 'romances com CEOs'?
Usamos como exemplo "A Menina Inocente do CEO", segundo lugar na lista de mais vendidos na última semana. A trama acompanha um empresário arrogante que muda sua perspectiva de vida ao se apaixonar por uma jovem "meiga e persistente".
Em papo com Splash, a autora Aline Damasceno explicou por que este tipo de história faz sucesso há décadas, muito antes de a temática ser popularizada pela trilogia "Cinquenta Tons". Ela é formada em Museologia e começou a escrever em 2020, quando trancou um mestrado em História.
Aline Damasceno
Seus livros "A Menina Inocente do CEO" e "A Paixão do CEO" (publicados pelo Grupo Editorial Portal) venderam 10 mil exemplares no formato digital. Aline acha que a sexualidade tem deixado de ser tabu —e ela nem leu "Cinquenta Tons!"—, apesar de ainda ver preconceito contra a literatura erótica.
Aline Damasceno
Mas não é problemático e machista?
Bem, enquanto a trama de "Cinquenta Tons" foi criticada por retratar um relacionamento abusivo (romantizado pela narrativa de E. L. James), Aline diz ter a preocupação de mostrar "relacionamentos saudáveis" em seus livros. A literatura aprendeu com o tempo.
Aline Damasceno
E onde estão as leitoras? O que pensam?
Algumas delas reconhecem que esse tipo de história pode ter problemas, já que nem todos os autores têm a consciência de Alice Damasceno, mas Miriã Mikaely afirma que ama livros "clichê" com CEOs. Ela é dona do blog Capítulo Treze e já leu dezenas deste tipo.
O primeiro livro do gênero devorado por ela quando tinha 14 anos foi justamente "Cinquenta Tons de Cinza". Hoje, aos 23, ela faz muitas críticas à trama e se preocupa em indicar romances eróticos com CEOs que não sejam "babacas" (palavra usada por ela).
Miriã Mikaely
Ela admite que boa parte das narrativas de CEOs ainda mostra homens possessivos e relações tóxicas, mas acredita que isso tem mudado. Hoje em dia, algumas histórias até colocam as mulheres em pé de igualdade (embora poucos livros invertam essa dinâmica de submissão).
Miriã Mikaely
Durante a conversa com Miriã, a equipe de Splash ficou curiosa para entender como histórias com mocinhas submissas (não só na cama) podem atrair uma leitora empoderada. Sem julgamentos, é claro, já que cada um pode ler e escrever o que bem entender na ficção.
Miriã Mikaely
Elas quase sempre se referem às "leitoras" e "autoras" no feminino porque as mulheres ainda são ampla maioria neste subgênero do romance literário. Seja por vergonha ou falta de costume, homens leem e escrevem pouco erotismo, mas, no Brasil, há exceções como G. R. Oliveira e Yule Travalon.