Site da Biblioteca Nacional voltará 'gradualmente' 10 dias após invasão
Ainda não há previsão para o site Biblioteca Nacional (BN) voltar integralmente ao ar, após mais de uma semana indisponível por causa de um ataque hacker sofrido no domingo (11/4). A decisão de desligar todos os servidores, segundo nota divulgada pela instituição, foi "por medida preventiva contra novas invasões". A partir de amanhã (21), a perspectiva é iniciar um "retorno gradual".
"Em atenção aos pesquisadores, pedi prioridade no retorno da Hemeroteca Digital", diz Rafael Nogueira, presidente da BN, referindo-se ao acervo virtual de jornais e periódicos publicados no país desde 1808, o mais acessado do portal. "É possível que outras áreas do site retornem antes por causa da complexidade da Hemeroteca, mas ela será liberada muito provavelmente ainda nesta semana."
Diretora executiva da instituição há quatro anos, Maria Eduarda Marques afirma que a demora na retomada se justifica pela preocupação de não se colocar o acervo virtual em risco:
Acreditamos que nada foi perdido, mas trata-se de um acervo complexo, com mapas, fotos e ilustrações que precisam ser restaurados aos poucos. Estamos consternados e pedimos desculpas a nossos visitantes virtuais, mas o objetivo é tomar o maior cuidado possível.
Maria Eduarda diz que não pode precisar quando o site estará integralmente no ar de novo. "A empresa que dá suporte de TI à Biblioteca Nacional está trabalhando arduamente, mas trata-se de um vírus que se reproduz. É como se criasse novas cepas", explica ela, usando um exemplo a que todos os brasileiros estão habituados em tempos de pandemia.
O ataque hacker aconteceu no fim da tarde do domingo (11/4). Na segunda-feira, técnicos da BN constataram que os problemas foram causados por um ransomware —tipo de software que bloqueia o sistema infectado, permitindo que os invasores cobrem um resgate em criptomoedas para que o acesso seja restabelecido.
Na terça-feira, houve uma tentativa de colocar o site no ar novamente, mas uma vez constatada nova instabilidade, os servidores foram desligados.
A Biblioteca é uma instituição sem fins lucrativos. Disponibiliza esse acervo riquíssimo de graça. Ele até pode ter obras raras, mas na versão virtual elas não têm valor comercial. Esses hackers estão fazendo um desserviço para a memória brasileira.
Maria Eduarda
Em novembro do ano passado houve uma primeira tentativa de hackeamento do site da BN, que não foi bem-sucedida. No mesmo mês, o site do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) foi invadido por um ransomware semelhante ao que tirou o portal da biblioteca do ar agora.
Sem detalhes sobre a investigação
Enquanto a BN busca resolver a parte técnica para retomar os serviços digitais, a investigação sobre o ataque estaria a cargo de "instâncias superiores", afirma Maria Eduarda. A instituição é vinculada à Secretaria Especial da Cultura, que por sua vez está na estrutura do Ministério do Turismo.
Splash procurou a pasta, além da Polícia Federal, para saber detalhes sobre a investigação, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
A Biblioteca também notificou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, uma vez que a invasão atingiu servidores do governo federal. Entretanto, a assessoria do GSI afirmou à reportagem que o órgão "não investiga ataques deste tipo".
Milhões de acessos por mês
Além de impossibilitar o acesso do público, o desligamento dos servidores prejudica também a catalogação e a digitalização de obras --até mesmo a intranet e os emails dos servidores estão fora do ar. Em 2020, o acervo virtual atingiu o total de 83.900 títulos disponíveis na Biblioteca Nacional.
O ataque acontece no momento em que a BN vê explodir o número de acessos a seu acervo digital, uma vez que suas instalações estão fechadas para o público durante a pandemia.
Disponível desde 2013, a Hemeroteca Digital foi acessada por mais de 7 milhões de pessoas só em março de 2021. A Brasiliana Fotográfica, portal dedicado a acervos de fotos, teve mais de 1 milhão de consultas no mesmo período.
Há também projetos mais específicos, como o Resgate, parceria com a Unesco dedicada a documentos relativos à História do Brasil existentes em arquivos de outros países.
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