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Repórter ofendida por Bolsonaro, Driele Veiga é feminista e 'do povão'

Driele Veiga, repórter da TV Aratu, foi chamada de 'idiota' pelo presidente Jair Bolsonaro
Driele Veiga, repórter da TV Aratu, foi chamada de 'idiota' pelo presidente Jair Bolsonaro
Arquivo pessoal/Driele Veiga

Do UOL, em Santos

03/05/2021 04h00

Feminista, mãe orgulhosa de Benício e apaixonada por jornalismo. É assim que pode ser definida Driele Veiga, repórter da TV Aratu (afiliada do SBT na Bahia), que ganhou destaque na última semana ao ser chamada de idiota pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

E foi exatamente o segundo ponto que mais pegou. O garoto de 8 anos ficou chateado ao ver a mãe, de 35, virar alvo de ofensa durante uma reportagem em Feira de Santana (BA).

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Meu filho gosta de me ver na televisão. Quando fui ofendida pelo Bolsonaro, ele questionou, 'por que ele a chamou de idiota por fazer uma pergunta?'. A senhora não é idiota.
Driele Veiga, repórter da TV Aratu

A jornalista, que recebeu o apoio de colegas e personalidades políticas, diz que estimula a leitura e o senso crítico do menino desde cedo e se orgulha do fato de ele já se posicionar contra o racismo e o machismo em situações do dia a dia.

Arquivo pessoal/Driele Veiga - Arquivo pessoal/Driele Veiga
Driele e o filho, Benício, 8 anos
Imagem: Arquivo pessoal/Driele Veiga

Quando Benício foi chamado de "mulherzinha" na escola, por ter o cabelo comprido, ele se defendeu e disse que considerava um elogio se isso significava "ser como a mãe".

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Nunca havia sido insultada em minha carreira de repórter. Dei a oportunidade de o presidente se explicar em relação à foto, mas ele preferiu desperdiçá-la para me agredir.
Driele Veiga

Vocação

Driele, que trabalha na TV Aratu desde 2006, nasceu e cresceu no bairro de Pau da Lima, perifeira de Salvador (BA). Filha de mãe recepcionista e pai que entrou na TV Bandeirantes como porteiro e se aposentou como cinegrafista do canal, ela se apaixonou pelo jornalismo quando criança.

Eu cresci na Band, e minhas brincadeiras eram de ser apresentadora. Meu pai trazia textos de telejornais para eu ler e me ensinou a entonar a voz para dar destaque às informações.
Driele Veiga
Arquivo pessoal/Driele Veiga - Arquivo pessoal/Driele Veiga
Driele Veiga em ação pela TV Aratu, afiliada do SBT na Bahia
Imagem: Arquivo pessoal/Driele Veiga

O pai, Ubiratan Brito, quis que ela optasse por uma carreira "mais promissora financeiramente", mas não teve jeito. Ela escolheu seguir a vocação e fez jornalismo, às duras penas, estagiando em dois lugares e "pagando a matrícula para dever o semestre inteiro".

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Do povo

Driele diz que o fato de ter vivido na periferia por 30 anos a aproxima dos temas que aborda em suas coberturas jornalísticas. E ela gosta de estar com o "povão" para ouvir suas demandas, contar suas histórias e ajudar com o que for possível.

Arquivo pessoal/Driele Veiga - Arquivo pessoal/Driele Veiga
Driele em uma de suas reportagens participativas, vivendo os problemas dos cidadãos
Imagem: Arquivo pessoal/Driele Veiga
Meu objetivo é me comunicar para todos. Quero que seu José, que trabalha na roça, entenda que a alta do combustível vai afetá-lo mesmo que não tenha carro.

Ativismo nas redes

Nas redes sociais, Driele costuma compartilhar momentos de família, de trabalho, praia, cerveja e baladas, mas também usa o espaço como plataforma para falar de feminismo e empoderamento.

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Às terças, ela transmite um quadro em seus perfis chamado "Driele Veiga na Real", em que fala sobre autoestima, amor próprio e relacionamentos abusivos.

E se orgulha do fato de ter incentivado muitas mulheres a deixarem parceiros tóxicos para procurar caminhos mais felizes em suas vidas.

Arquivo pessoal/Driele Veiga - Arquivo pessoal/Driele Veiga
Driele comenta e recomenda livros em suas redes sociais
Imagem: Arquivo pessoal/Driele Veiga

Além disso, a repórter compartilha com seus seguidores reflexões sobre os livros que lê: títulos como "Quem Tem Medo do Feminismo Negro?", de Djamila Ribeiro, e "O Mito da Beleza", de Naomi Wolf.

Para ela, informar é um trabalho que não termina na redação.

Todo jornalista trabalha por uma sociedade mais informada, democrática e consciente. Se queremos equidade social, todo jornalista deveria ser feminista.
Driele Veiga