Bruno Gagliasso revela a angústia de viver torturador em 'Marighella'
Mais de dois anos após sua estreia mundial no Festival de Berlim, "Marighella" enfim chegou aos cinemas? de Portugal. Ainda inédito no Brasil, o primeiro filme dirigido por Wagner Moura resgata a história de Carlos Marighella, deputado cassado que se tornou guerrilheiro em plena ditadura militar.
Mas quem foi o homem considerado inimigo número um do país? "As pessoas até hoje não sabem quem é ele. Um dos principais objetivos do filme é esse, informar e fazer com que as pessoas estudem. Não deixar nossa história apagar", comenta Bruno Gagliasso, que veio a Lisboa para debater o longa.
Em "Marighella", Bruno interpreta o delegado Lúcio, perseguidor implacável do personagem-título, que vê a tortura como algo natural.
Bruno Gagliasso, sobre interpretar um torturador
E ele continua.
Sofri muito, mas sabia o quanto é importante este filme ser lançado no Brasil. Fiquei três meses em São Paulo, não levei minha família. Não queria fazer as coisas que estava fazendo em cena, chegar em casa e beijar minha filha. Mas tenho certeza que eles terão muito orgulho de mim.
Baseado na biografia escrita por Mário Magalhães, "Marighella" traz um recorte que inicia em 1964, pouco antes de sua prisão, com ênfase maior quando parte para a guerrilha, quatro anos depois. Mais que o mito, Wagner Moura busca o homem, com seus anseios e lamentos.
Cabe a Seu Jorge personificar as várias facetas de Marighella, ora poeta e até sedutor, sempre líder e decidido. Político por natureza, este é um filme sem medo de cutucar feridas, inclusive sobre as dificuldades em ser negro no Brasil.
Gagliasso, após a exibição do filme para o público
Além do caráter político, "Marighella" é também um filme de ação que remete bastante aos dois "Tropa de Elite", estrelados por Wagner, com muita câmera na mão em planos-sequência tensos e um elenco dedicado e engajado. Não por acaso, quase todos os personagens têm o mesmo nome de quem o interpreta.
"Todo mundo quis muito fazer este filme", conta Gagliasso.
É difícil acreditar, mas [Carlos Brilhante] Ustra e [Sérgio] Fleury existiram. É muito doloroso saber que personagens como o meu tomaram o poder.
O ator revelou que existia uma preocupação durante as filmagens: que o público acreditasse que seu personagem era o herói do filme.
Olha a que ponto chegamos, o medo da equipe que meu personagem, aquele monstro, se tornasse herói para muita gente. O que é possível, né? O mito, Lúcio é o mito.
Por enquanto, "Marighella" tem estreia no Brasil agendada para 4 de novembro, nos cinemas. Segundo Bruno, a questão é apenas a pandemia. "Ninguém falou que o filme não iria ao ar. Criaram mecanismos burocráticos para não ir. Isso é o quê?"
A censura ainda existe, mas de várias maneiras. Agora não, o filme pode estrear. Acontece que o Brasil está desgovernado, a pandemia está completamente desgovernada e os cinemas não estão abertos. Então, hoje, é por conta da pandemia.
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