Topo

Bota Pó: jovem gay de 16 anos bomba com looks femininos com apoio da mãe

Alex Brito, ou Bota Pó, bomba nas redes sociais com vídeos engraçados e tutoriais de maquiagem Instagram

De Splash, em São Paulo

15/06/2021 04h00

Bacabal é um município do interior do Maranhão, com pouco mais de 100 mil habitantes. É lá que Alex Brito, ou Bota Pó, vive ao lado de sua família, mesmo depois de ter ganhado a internet e cruzado muito mais fronteiras do que jamais imaginou.

O menino de apenas 16 anos começou a fazer sucesso no Instagram com sua pegada de blogueira. Sempre compartilha os looks que usa, suas maquiagens e montações. Em pouco tempo, chamou atenção de grandes nomes como Thaynara OG e Pabllo Vittar. Mas ele sonha mais alto.

Em papo com Splash, Alex reforça a importância de sua família que sempre o apoiou e relembra os problemas que já enfrentou por se expressar de maneira livre e sem preconceitos.

Bota Pó?

O apelido que ficou famoso nas redes sociais e inclusive dá nome ao seu perfil no Instagram nasceu do bullying que sofreu. Alex já teve pelo menos cinco contas derrubadas por denúncias de perfis homofóbicos que chegavam a fazer ameaças contra ele.

Criei o nome inspirado nas minhas maquiagens. Sempre exagerei no pó! O Insta não aceitava mais meu nome verdadeiro depois de tantos perfis derrubados. Mandavam mensagem dizendo que iam me agredir. Minha mãe me disse para desistir, mas meu sonho é mais importante que mil mensagens me apedrejando.

Alex

Essa violência da sociedade é o que mais assusta Dalva, mãe de Alex. Atualmente vivendo em Goiás, a mãe sempre apoiou o filho, mas vive com o coração apertado sabendo dos desafios que ele tem que enfrentar.

O meu medo é só da sociedade. Ele já me contou de vezes que foi xingado. Eu queria falar, reclamar, mas ele não deixava. Quando saía com ele na rua, ia caçando, vendo se alguém mexia com ele. Meu coração fica do tamanho de um grão de arroz, tenho medo de alguém fazer mal pra ele.

Dalva

Dalva, mãe de Alex, cuida de suas redes sociais e o apoia incondicionalmente Imagem: Instagram

Como tudo começou

Dalva começou a notar que o filho era diferente ainda na infância, mas achou que seria só uma fase. Alex conta que a vontade de se vestir com roupas femininas veio desde cedo e é a única maneira com que ele se sente confortável.

Com 12 anos, ele se assumiu. Foi tão normal porque parece que eu já sabia. Não fiquei brava de forma alguma. Ele falou uma frase que eu não esqueço: 'Não importa o mundo lá fora e sim o que a senhora pensa'. Eu disse: 'Estou contigo e seja o que Deus quiser'.

Dalva

Sempre fui afeminado, mesmo com looks masculinos. Usar peças femininas é o que me faz bem. Minha mãe sempre me apoiou em tudo. Sou muito grato. Ela disse que o que era bom para mim, era bom para ela também.

Alex

Alex Brito gosta de se vestir com roupas femininas desde a infância Imagem: Instagram

Nos vídeos que grava para o Instagram, Alex aparece com a avó, Valda, e outros familiares, além de uma série de amigos de Bacabal. Ninguém se incomoda com as roupas ou o jeito de ser do menino.

"Meu pai, José Guilherme, já tem 80 anos e encara numa boa. Sempre diz que acha ele bonito. Minha mãe também nunca se incomodou", diz Dalva. "O apoio da família é o mais importante. Minha avó às vezes estranha alguma coisa, me pergunta, eu explico e fica tudo bem", reforça Alex.

Alex Brito recebe apoio de toda a família, incluindo a avó Valda Imagem: Instagram

Inspiração

A projeção de Alex transformou sua vida. Pabllo Vittar, também maranhense, deixou de ser só um ídolo: os dois conversam e ele recebe dicas da drag queen. O dinheiro das "publis" também ajuda a pagar as contas de casa e presentear a família.

Quero dar uma vida melhor para minha mãe. Quero reformar a casa da minha avó. Hoje, eu próprio compro minhas roupas e pago algumas contas.

Alex

Alex, ou Botinha como seus fãs adoram se referir a ele, também virou inspiração para outros meninos gays que querem ter a mesma coragem e liberdade de serem quem são e se expressar da maneira que gostam.

É muito novo ver um menino como eu. Nós temos que ser nós mesmos, mesmo sem apoio da família, mesmo recebendo olhar estranho na rua. Temos que nos amar do jeito que somos. Antes dos outros nos aceitarem, temos que nos aceitar. Sei que sou inspiração pra muitos.

Alex

Alex Brito já sofreu ameaças nas redes sociais Imagem: Instagram

Identidade

Alex não se incomoda em ser chamado de ele ou ela. Por enquanto, ele se identifica como um menino gay, mas não descarta a possibilidade de transicionar de gênero no futuro. "Não me sinto preparado no momento. É algo grande, precisa de acompanhamento médico", explica.

Eu não acho meu filho diferente. Ainda não consigo chamar ele de filha. Imagino que ele queira fazer a transição, mais cedo ou mais tarde, botar peito e tudo mais. Mas ele ainda está muito novo, está se descobrindo.

Dalva

Alex Brito pensa na transição de gênero no futuro Imagem: Instagram

Futuro

Alex sonha em trabalhar na TV, ter sua própria marca de maquiagem, abrir um salão... Por enquanto, tem desejos mais imediatos, como ter seu próprio quarto, já que dorme junto com os irmãos na casa da avó. Sair de Bacabal? Nunca! "Quero colocar a cidade no mapa!", ele torce.

Espero que ele conquiste tudo que ele sempre sonhou. O sonho dele não é só dele, é meu, da avó. Ter o salão dele. Ter um quarto só dele, já que dorme todo mundo amontoado na casa da minha mãe. Ele estando realizado, eu também estou.

Dalva

Alex Brito vive em Bacabal, cidadezinha no interior do Maranhão Imagem: Instagram

É justamente esse ato de sonhar junto que faz toda a diferença. Neste mês que se festeja o Orgulho LGBTQ+, pergunto a Alex e Dalva o que diriam para outras famílias que também estão descobrindo como lidar com seus filhos e só cabe uma palavra: amor.

Tem gente que se pergunta por que Deus fez isso. Eu não. O que importa é a felicidade dele em primeiro lugar. Não devem ligar para o que o mundo fala, temos que amá-los incondicionalmente. Eu não me importo com o que falam ou deixam de falar, independente de tudo. O amor cura todos os males.

Dalva

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Bota Pó: jovem gay de 16 anos bomba com looks femininos com apoio da mãe - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade