6 histórias inacreditáveis para relembrar Bussunda
Colaboração para Splash, em São Paulo
17/06/2021 04h00
Na teoria, Cláudio Besserman e Bussunda eram a mesma pessoa. Na prática, duas personalidades antagônicas. Uma delas era tímida e retraída. A outra, iluminava os palcos e arrancava risos com provocações nonsense e quase anárquicas.
15 anos após a sua morte, o legado de Bussunda segue vivo em suas piadas politicamente incorretas, que ajudaram a transformar o humor brasileiro no que ele é hoje. Por isso, lembrar a sua carreira significa passar por momentos que mostravam desde a infância que Cláudio estava destinado a ser grande.
A treta com Tim Maia
Uma das imitações mais marcantes do início da carreira de Bussunda foi a de Tim Maia. No palco do Canecão, no Rio de Janeiro, com seus colegas do que viria a ser o "Casseta & Planeta", ele fazia uma imitação do cantor calcada nas suas discussões e falações sobre o palco.
Na mesma época, com o "Domingão do Faustão" em fase de afirmação na TV Globo, Tim Maia topou participar do programa, ao vivo. É claro, ele faltou. Na semana seguinte, Fausto anunciou novamente o cantor. Mas quem apareceu no palco foi Bussunda, usando enchimentos e fazendo sua melhor personificação.
Bastaram alguns minutos para tocar o telefone do Teatro Fênix. Do outro lado da linha, um vozeirão irado com a afronta: "Aqui é o Tim Maia. Avisa ao Bussunda que estou indo aí dar um tiro na cara dele."
O humorista provocou: "Ele avisou que vinha? Que bom, então já sei que não vai aparecer."
Dormindo na praça
Se o humor era seu forte, os estudos não eram. Filho de um cirurgião e uma psicanalista, Cláudio não queria saber de vocação. Mas seus pais tentaram.
Na adolescência, deram dinheiro ao filho para se matricular no curso de inglês, na esperança de que aquilo desse ao jovem um futuro.
Bussunda saía de casa pontualmente para as aulas, mas não as frequentava. Na verdade, eleacordava, saía de casa em Copacabana e destinava-se a um banco de praça, onde continuava a dormir tranquilamente. No fim da "aula", ele se levantava, voltava para casa e continuava o sono em sua própria cama.
O pior aluno da ECO
Determinado a ingressar numa universidade pública para poder faltar às aulas sem gastar o dinheiro dos pais, Bussunda acabou na Escola de Comunicação da UFRJ.
Sua atividade favorita era ficar no ponto de ônibus, colocar os óculos escuros e pedir dinheiro, fingindo que era cego.
O dinheiro que ele arrecadava com essa lorota, é claro, destinava-se às festas com os colegas da faculdade — da qual, eventualmente foi jubilado por faltas em 1987, seis anos após ter entrado, levando consigo o título de "Pior aluno da ECO".
O piano perdido
Bussunda já cometeu a façanha de perder um piano. Certa vez, emprestou o instrumento musical, que ficava na sala da casa dos seus pais, para uns colegas que iriam fazer um show em um bar.
Terminado o tal show, sua mãe, Helena, passou a pedir ao filho que providenciasse o retorno do piano. Demorou meses até que ele atendesse ao pedido e, quando o fez, descobriu que o bar simplesmente não existia mais — e, por consequência, o piano também não.
Buzunga
Aos 25 anos, um Bussunda já famoso ouviu a notícia de sua morte, através do filho de um amigo, que ficou sabendo do ocorrido na escola e estava bastante abalado.
Mas tudo não passou de uma confusão. O que aconteceu foi que a polícia invadiu a Rocinha, e matou o chefe do tráfico — Buzunga.
Nas semanas seguintes, a secretária eletrônica do humorista que já trabalhava como roteirista na "TV Pirata" ficou entupida de mensagens de colegas desejando que descansasse em paz. No futuro, a história virou motivo de riso e chacota constante entre a trupe.
Cabeça (des)feita
Engana-se quem acha que nada foi sério na vida de Bussunda. Em 1988, estreou como apresentador do programa "Cabeça Feita", da TV Educativa. Seu objetivo era promover debates honestos com os mais jovens, com assuntos abafados na escola e nas famílias.
Certo dia, Bussunda convidou um garoto e uma garota de programa para falarem no "Cabeça Feita" sobre os tabus do sexo e que os levou a escolherem a profissão. A emissora, estatal, até tolerou a moça, mas não o rapaz. Como consequência, Bussunda foi demitido e o programa chegou ao fim.
A história de Bussunda, contada através dos olhos do amigo Claudio Manoel e da filha, Júlia Besseman, está no documentário "Meu amigo Bussunda", já disponível no Globoplay.