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Regiane Alves, Juliana Paiva... atrizes relembram histórias de Artur Xexéo

Juliana Paiva e Artur Xexéo na "Dança dos Famosos" - Arquivo pessoal
Juliana Paiva e Artur Xexéo na 'Dança dos Famosos' Imagem: Arquivo pessoal

Aline Nobre

Colaboração para Splash, do Rio

05/07/2021 04h00

"Sensível", "maravilhoso", "generoso", "um homem de luz, de amor". Essas foram algumas das palavras usadas por personalidades como Lucinha Lins, Juliana Paiva, Roberta Miranda, Regiane Alves e Mariana Xavier ao relembrarem momentos vividos ao lado de Artur Xexéo. O jornalista, escritor e dramaturgo morreu no último domingo (27), aos 69 anos, em decorrência de um linfoma não-Hodgkin.

Por meio de relatos e doces memórias, dá para sentir um pouco do gostinho do que era conviver com Xexéo, que se destacou pelo amor à cultura nacional e também pelos comentários ácidos que fazia em participações na GloboNews.

Lucinha Lins

"Conheci o Artur Xexéo em 1981. Eu estava ensaiando um espetáculo que veio a se chamar 'Sempre Sempre Mais' e ele era um dos jornalistas da revista Veja. Xexéo ficou responsável por fazer uma matéria comigo e foi muito especial porque ele me acompanhou por praticamente uma semana inteira. Ele ia aos ensaios do musical, me acompanhava no meu dia a dia, almoçava na minha casa comigo e com meus filhos.
Essa matéria dava uma geral da minha vida e eu estava me lançando como artista. Tinha participado --e vencido-- do MPB Shell e tinha feito o filme 'Saltimbancos Trapalhões', mas o 'Sempre Sempre Mais' viria a ser o meu primeiro show, meu lançamento mesmo como artista, como cantora.

Essa matéria do Xexéo saiu com quatro ou cinco páginas e foi capa da Veja com o título 'Viva Lucinha'. Naquele momento a revista era muito mais voltada para a política do que para cultura e pouquíssimas mulheres artistas tinham merecido uma capa. A revista chegou às bancas na semana de estreia do espetáculo e foi um presente para mim, uma divulgação imensa.

Foi assim que conheci o Xexéo. E a partir daí, sempre que nos encontrávamos era uma alegria, uma delícia... Viramos amigos! Depois ele foi crescendo cada vez mais como jornalista, até se tornar uma personalidade realmente importante na cultura brasileira. Como crítico generoso, gentil e delicado. Como tradutor de textos teatrais, como autor de peças, como escritor de livros... Não conheço ninguém no meio artístico que não o admire e que não se refira a ele como maravilhoso. Quando eu tinha alguma ideia e tinha a chance de dividir com ele, o seu olhar era sempre muito generoso".


Juliana Paiva

"A primeira vez que eu o vi foi no 'Domingão Faustão'. Nós éramos jurados da 'Dança dos Famosos'. Um pouco antes de entrar no palco, a equipe fica junta e, naquele mesmo dia, ele tinha dado uma crítica linda sobre a novela 'O Tempo Não Para'. Dizia: 'Já dá pra cravar, O Tempo não para é a melhor novela atualmente no ar' e em outro trecho falava 'Juliana Paiva já pode ser considerada uma das melhores atrizes de TV de sua geração'.

Lembro que acordei com aquilo e fiquei chocada. Um elogio dele, um cara tão renomado. Ele tinha o dom da palavra e fiquei louca quando soube que ele também era um dos jurados da 'Dança'. Fui falar com ele para agradecer a crítica e descobri que ele já me acompanhava desde a Fatinha, de 'Malhação'. Fiquei boba. Ele me disse 'você é talentosa'. Parecia que eu estava sonhando, mas ele me deixou super confortável, era muito doce, gentil, um homem de muita luz e amor.

Mas, com a correria do programa, não pude agradecer direito, como eu queria, então enquanto estávamos ao vivo, eu pedi licença para o Faustão e consegui agradecer publicamente.

Até o Faustão falou na hora: 'crítica de Artur Xexéo é para emoldurar', e de fato está aqui guardadinha, e estará guardada para sempre no meu coração. Ele me disse: 'você é uma das poucas atrizes que reúne a mocinha romântica, sabe fazer a comédia superbem e tem elegância, tudo numa pessoa só e isso é difícil de se ver aqui', porque ele se divertiu também com a Cassandra de 'Totalmente Demais'.

O Xexéo era aquele tipo de pessoa que não tinha noção da grandiosidade, ele trabalhava pelo ofício e não pelo glamour, ele nunca perdeu a essência que o fez chegar onde chegou".

Regiane - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Artur Xexéo entre as atrizes Theresa Amayo e Regiane Alves
Imagem: Arquivo pessoal

Regiane Alves

"Conheci Xexéo em 2010, nos ensaios da peça 'A Garota do Biquíni Vermelho', escrita por ele, e que contava a vida da atriz e vedete Sônia Mamede, com direção de Marília Pêra. O conheci assim que os ensaios começaram, e confesso que era tamanha admiração que fiquei numa mistura de timidez com ansiedade. Imagina você? Ler sempre as suas crônicas e de repente estar ali com ele, num texto dele. Eu me achei!

Ele ia quase todos os dias ao teatro junto do seu marido, Paulo. Que companheiro, que boa pessoa. Mas voltando, ele sempre assistia a um pedaço da peça, assistia a peça toda, ou as vezes só ia no início. Ele contava histórias, fazia anotações, ele não tinha nenhuma obrigação de estar ali, mas tinha prazer em ir, ouvir e ver o público chegar. Gostava de ouvir os comentários finais, era presente. Sentia o seu apoio ao meu trabalho. Um dia, perguntei se ele não cansava de ir todos os dias ao teatro e ele me disse não, pelo contrário. 'Me sinto como um noivo dentro da igreja esperando a noiva chegar'. A noiva, no caso, era o público.

Sempre trocávamos impressões sobre séries, filmes, sempre um acompanhava o trabalho do outro. Ríamos.

É tão amargo voltar nas conversas do WhatsApp e ver o último dia dele on-line, é amargo perder alguém que amava tanto a cultura, a arte, o artista, a história da TV e do teatro do nosso país. Ainda mais num momento que temos que lidar com tantas mortes ao nosso redor, e sem apoio nenhum às artes, está sendo duro demais".

Roberta Miranda

"O Xexéo passeava por todos os gêneros sem preconceito. Eu, por ser representante da música sertaneja, não tive críticas negativas, ao contrário, recebi bastante elogios. Mas mesmo se ele me criticasse, eu o respeitaria, porque ele era um cara de um universo muito amplo, musicalmente falando, e creio que não somente na música, né? Na arte em geral.

Em uma ocasião, no Rio de Janeiro, tem anos isso, eu estava gravando o meu DVD, e o marido dele, o Paulo, é quem estava dirigindo. Estava lá o Xexéo com a gente, dando a maior força. A gente sempre se respeitou muito, ele sempre muito atencioso, um mestre.

Vou sentir falta do seu lado irônico, competente... ele era uma pessoa muito sensível, muito sábia".

Mariana Xavier

"Eu já estava vivendo um momento muito especial da minha vida porque 'Minha Mãe é Uma Peça' foi o trabalho que me projetou nacionalmente, foi um sucesso avassalador, tudo aquilo já estava parecendo um sonho para mim. Quando, de repente, vejo um elogio daquele vindo de uma grande figura como o Xexéo, me nomeando e dizendo 'olho nela'.

Lembro que tomei um susto quando soube. Acordei com várias mensagens no WhatsApp de prints e fotos do jornal com o elogio dele ao meu trabalho. Fiquei muito feliz. Esse 'olho nela' foi quase um 'boa sorte'. 'Olho nela porque essa menina vai longe'. Foi um elogio que soou como um voto, um desejo dele pra mim, desejo de sucesso, desejo de uma carreira longa.

Eu o conheci pessoalmente em outro momento superimportante da minha vida, que foi na minha estreia na 'Dança dos Famosos'. Ele foi um dos jurados, o que é muito significativo também, né? E ele me deu outro susto, me elogiou pra caramba e na hora de falar a nota ele falou errado: disse '9.5' e depois corrigiu para 9.9.

Nos bastidores, depois, ele falou para mim que me deu 9.9 porque ele acreditava que eu ainda tinha para onde crescer na competição e que acreditava que eu podia ir muito longe, até ganhar a 'Dança'. Nisso eu não concordei com ele, não, porque eu nunca achei que pudesse ganhar, mas eu estava muito feliz.