'Viúva Negra' está mudando o futuro do cinema?
De Splash, em São Paulo
14/07/2021 04h00
Boa notícia? Talvez.
Para os mais animados, os US$ 218,8 milhões arrecadados pela aventura da Marvel no fim de semana de estreia, contando cinema e streaming, indicam sucesso. Para os mais céticos, o êxtase é sinal de alerta.
Afinal, será que o lançamento de 'Viúva Negra' foi tão bem sucedido assim?
Para tempos de pandemia, a resposta é curta e objetiva: sim. O filme já é a 9ª maior bilheteria de 2021 e a maior estreia desde a reabertura parcial das salas.
E a estimativa é que ele continue gerando retorno positivo nas próximas semanas.
Bernardo Siaines, editor do Filme B
Mesmo assim, "Viúva Negra" não simboliza que o modelo tradicional de lançamentos voltou de vez.
Sendo o primeiro filme da Marvel a chegar aos cinemas nos últimos dois anos, com a provável última performance de Scarlett Johansson no papel de Natasha Romanoff, já esperava-se que o longa seria um hit.
Mas ele só atinge de fato esse status quando os US$ 60 milhões arrecadados com o streaming são adicionados à conta.
De acordo com o Ampére Analysis, que compila esse tipo de dado, o interesse do público por filmes da Disney dura quase 50% mais do que o dedicado a filmes da Netflix ao longo de cinco meses após o lançamento. O fato de eles estarem também nos cinemas impacta a audiência de forma diferente.
Mas o lançamento no streaming também traz seus benefícios.
Até porque faz com que o estúdio fique com cerca de 80% dos lucros, sem precisar dividi-los com as exibidoras, as cadeias de cinemas.
Ou será que os US$ 60 milhões arrecadados no streaming seriam convertidos para as bilheterias dos cinemas se não houvesse a segunda opção? Nas condições normais do mundo, sem pandemia, com todos podendo ir aos cinemas? Para Bernardo, é uma questão delicada, mas ele não acredita nisso.
Apesar de filmes como "Viúva Negra" e "Godzilla vs. Kong" terem renovado as expectativas dos estúdios de um retorno à normalidade, uma pesquisa lançada esta semana pela consultoria de negócios PwC indica que só em 2024 a receita das produções cinematográficas deverá voltar a níveis pré-2020.
Além disso, são obras que não se pagam inteiramente com a receita das plataformas digitais.
O modelo tradicional está longe de operar em sua normalidade, e a pandemia acelerou tendências que já eram fortes antes mesmo de o isolamento fechar os complexos cinematográficos: as pessoas querem ter opções de onde e como assistir aos filmes. Seja numa sala escura de cinema ou no sofá de casa.
Bernardo Siaines