Jones Manoel processará Mario Frias: 'Lutam pelo direito de serem racistas'
O professor e historiador Jones Manoel acordou com uma enxurrada de ataques e xingamentos racistas no seu Instagram hoje (15). Ao abrir seu Twitter, ele descobriu o motivo: usuários bolsonaristas compartilhavam um comentário de Jones dizendo que havia comprado fogos de artifício após a internação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), no último dia 14.
Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo federal, fez um comentário racista em uma dessas mensagens, sugerindo que Jones tomasse banho. Em entrevista para Splash, Jones disse que o comentário não causou surpresa.
"É sempre bom lembrar que, até outro dia, o governo Bolsonaro tinha na pasta da Cultura uma pessoa que emulou uma propaganda nazista [Roberto Alvim]. Foi dia desses. O secretário fez uma propaganda no 'estilo Goebbels [Ministro da Propaganda de Adolf Hitler]'".
O que chama a atenção é que no Brasil existe um discurso —que considero equivocado— de polarização. O que existe é um esgoto fascista, e por consequência racista, que veio a público e quer lutar pelo 'direito' de ser racista na esfera pública. O Mario Frias faz parte disso. Ele integra um governo racista. Não podemos perder a capacidade de indignação, mas não fiquei surpreso.
Jones também afirmou que dará seguimento ao caso, acionando o secretário judicialmente.
Tenho uma reunião ainda hoje com advogados do partido que integro, o PCB [Partido Comunista Brasileiro] para traçar uma estratégia judicial. Prestaremos queixa e entraremos com um processo contra o secretário.
Após as ofensas contra Jones, artistas, deputados e partidos políticos prestaram solidariedade ao professor e repudiaram o comentário de Mario Frias.
Fico muito grato. É importante mostrar que o racismo não pode ser aceito. E isso não só por mim, mas toda e qualquer expressão de racismo, misoginia e qualquer tipo de repressão de minorias devem ser rechaçadas.
No entanto outros funcionários do governo federal defenderam o secretario de Cultura e atacaram Jones, caso do presidente da Fundação Palmares, Sergio Camargo. "Segundo Malcolm X [ativista americano que lutou pelos direitos civis dos negros estadunidenses] existia o negro da casa grande, aquele que acabava se identificando e apoiando o senhor de engenho".
O Sergio Camargo serve de instrumento para dizer que existe uma divisão do movimento negro, do anti e do pró-racista. O movimento é diverso e plural, agora, não existe movimento pró-racista. Eu tenho pena do papel que ele cumpre, porque é um papel transitório e, após o governo do Jair Bolsonaro, o Sergio Camargo vai para lata de lixo da história.
Jones Manoel
Splash tentou contato com a secretaria de Cultura, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.
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