Trigêmeos separados no nascimento se reencontram 19 anos depois e descobrem que viveram a vida toda a poucos minutos de distância uns dos outros sem nunca saber.

Parece história de novela, mas é a vida real.

O caso de Bobby, Eddy e David é exposto em detalhes no documentário "Three Identical Strangers", de 2018, mas lançado recentemente na Netflix. O que já parecia absurdo, porém, se torna realmente assustador com o desenrolar da misteriosa trama envolvendo os três.

Febre

Quando Bobby chegou para o seu primeiro dia de faculdade, em 1980, não entendeu por que todos o chamavam de Eddy. Um estudante garantiu que ele com certeza deveria ter um irmão gêmeo perdido, pois havia estudado com um rapaz exatamente igual a ele no ano anterior.

Naquela mesma noite, Bobby viajou até a casa de Eddy, seu tal clone, e descobriu que os dois eram realmente iguais. Os garotos eram adotados e nunca souberam da existência um do outro. A história ganhou os jornais e um terceiro irmão perdido: David, que também morava nas redondezas.

O caso surreal de trigêmeos se encontrando depois de tantos anos sem que suas famílias nunca soubessem da existência dos outros irmãos virou febre na mídia americana. David, Bobby e Eddy estamparam capas de jornais, revistas, participaram de programas e até gravaram uma ponta num filme com Madonna!

Eles encantavam as pessoas com suas semelhanças, da aparência até o gosto pelas mulheres, e com a fama, ficaram cada vez mais próximos e chegaram até a abrir um restaurante juntos. Mas a história dos trigêmeos separados no nascimento estava longe de um final feliz.

Conspiração

As famílias de cada um deles buscaram a Louise Wise Services, a mesma agência onde os três irmãos foram adotados. Indignados por nunca terem conhecimento da existência dos outros irmãos, eles acabaram descobrindo um segredo muito mais profundo.

Bobby, Eddy e David não haviam sido separados no nascimento ao acaso. Os três eram parte de um obscuro estudo, liderado pelo proeminente psiquiatra Peter Neubauer. O médico queria provar qual a maior influência para nos tornarmos quem somos: natureza ou criação.

Os trigêmeos não foram os únicos usados no estudo. Pelo menos outros três pares de gêmeos também foram separados logo no início dos anos 1960 para que se conduzissem as investigações médicas.

Os pais adotivos não eram informados sobre a existência de gêmeos, porém, eram avisados que seus filhos pequenos passariam por constantes avaliações médicas e psicológicas, a fim de acompanhar o desenvolvimento deles naquelas famílias.

No caso dos trigêmeos, cada um deles foi para famílias de classes sociais distintas, todas com uma irmã mais velha e pais bem diferentes entre si. David cresceu com um pai carinhoso e expansivo, por exemplo, enquanto Eddy sofria com um pai autoritário e indiferente.

Os resultados

Conduzido ao longo de muitos anos, o estudo do Dr. Neubauer nunca foi publicado, mas, graças ao documentário, os irmãos conseguiram ter acesso a mais de 11 mil páginas de tudo que foi registrado sobre eles.

Eles defendem que se sentem lesados por terem uma vida totalmente orquestrada por outras pessoas, além de terem sido impedidos por anos de saber da existência um dos outros. Mesmo com a amizade que se construiu na juventude, a relação dos três não foi a mais fácil.

Bobby, Eddy e David sofriam com problemas psicológicos e, infelizmente, Eddy acabou tirando a própria vida em 1995, depois de já saber que todo o processo de adoção dele e de seus irmãos fazia parte do misterioso esquema do Dr. Neubauer.

O documentário ainda traz entrevistas com estagiários do Dr. Neubauer, questionando a ética de um estudo que acabou afetando diretamente a vida de tantas pessoas. O psiquiatra morreu em 2008 e sempre se recusou a dar mais detalhes sobre o processo dos experimentos.

Como estão atualmente?

David atualmente vive em Nova Jersey, tem duas filhas e se divorciou da mulher. Ele ainda mantém contato com a viúva e a filha de Eddy, além de ter se reaproximado do outro irmão, Bobby.

Por sua vez, Bobby trabalha como advogado e vive no Brooklyn, em Nova York. Casado e pai de duas filhas, ele adora jogar golfe com David e pensa em dar palestras motivacionais ao lado do irmão.

O documentário mostra ainda a história das irmãs Paula e Elyse, também adotadas na mesma agência nos anos 1960 e que só descobriram uma a outra quando já estavam na faixa dos 30 anos. Ambas estudaram cinema e enfrentaram depressão ao longo da vida, levantando mais dúvidas sobre o peso da genética.