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Incêndio atinge unidade da Cinemateca Brasileira na Zona Oeste de SP

Ed Wanderley e Heloísa Barrense

Do UOL, em São Paulo

29/07/2021 18h56Atualizada em 20/09/2021 23h34

Um incêndio atingiu uma unidade da Cinemateca Brasileira, na Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo. O imóvel, de 9,5 mil m², teve o galpão de arquivo comprometido - uma área de cerca de 1 mil m². Ao todo, 70 bombeiros e dezoito viaturas estão no local. O fogo já está contido e deve ser totalmente apagado em breve. Não há registro de vítimas.

O incidente teria começado no teto, por volta das 18h. De acordo com a bombeira militar Karina Paula Moreira, o fogo se iniciou em uma sala de acervo histórico de filmes, no primeiro andar, durante uma manutenção de ar condicionado, conduzida por empresa terceirizada contratada pelo Governo Federal. Em nota, a Secretaria Especial de Cultura menciona ter contratado serviço de manutenção do sistema de climatização no local há um mês.

Segundo Karina Paula, o local da origem do incêndio é dividido em três salas, todas atingidas pelas chamas. "Provavelmente não foi preservado nada. Porém, no andar térreo tem uma parte grande do acervo histórico que não foi atingido", afirmou em entrevista à GloboNews.

Além do primeiro andar, ainda não há certeza do nível total de destruição. "É o galpão de arquivo. Acreditamos ter muito filme, CD, cartazes... Filme antigo tem nitrato de celulose, é um tipo de produto que pega fogo muito fácil, bastante inflamável, e suspeitamos que esse seja o principal material, até pela coloração do fogo", explicou o porta-voz dos Bombeiros, Marcus Palumbo.

A unidade da Vila Leopoldina foi criada em fevereiro de 2009. O imóvel foi cedido pela SPU (Secretaria do Patrimônio da União) e está localizado em uma área onde se concentram diversas empresas ligadas à produção audiovisual. A partir de 2011 a unidade iniciou um trabalho de acervo de obras.

Atualmente, a Cinemateca possui uma dívida que já passa de R$ 13 milhões devido a um calote do governo federal. Ela é o maior museu do audiovisual e do cinema da América do Sul e é administrada pelo Ministério do Turismo.

Pelas redes sociais, diversas personalidades lamentaram o incidente e cobraram ações do governo federal. Na pauta em discussão, também foi lembrado que servidores já alertavam para os riscos de incêndio na instituição.

Para o governador João Doria, a ocorrência foi um crime contra a cultura e representa um "desprezo pela arte e pela memória".

A vereadora de São Paulo Erika Hilton (PSOL) comentou o incêndio nas redes sociais e apontou descaso das autoridades.

"Cultura Brasileira abandonada. Nossa história pegando fogo pelo descaso proposital", escreveu.

Governo

Procurada pelo UOL, a Secretaria Especial da Cultura afirma lamentar profundamente o ocorrido, além de acompanhar os trabalhos de contenção do incêndio na Cinemateca Brasileira. Em nota, ressalta "que todo o sistema de climatização do espaço passou por manutenção há cerca de um mês como parte do esforço do governo federal para manter o acervo da instituição".

O texto diz ainda que foi solicitado apoio da Polícia Federal para investigar as causas do incêndio. "Só após o seu controle total pelo Corpo de Bombeiros que atua no local poderá determinar o impacto e as ações necessárias para uma eventual recuperação do acervo e, também, do espaço físico. Por fim, o governo federal, por meio da Secretaria, reafirma o seu compromisso com o espaço e com a manutenção de sua história", conclui.

Incêndio e enchentes

Em fevereiro de 2016, a Cinemateca Brasileira foi atingida por um outro incêndio que destruiu cerca de 500 obras audiovisuais. O fogo ocorreu na sede da instituição, localizada na Vila Clementino.

Não houve vítimas e a suspeita na época era a de autocombustão dos filmes, que são feitos de nitrato de celulose, material inflamável, característico da produção de películas brasileiras até a década de 1950.

O fogo atingiu uma das quatro câmaras onde são armazenados rolos originais de filmes (matrizes) de produções audiovisuais. Nenhuma outra estrutura da Cinemateca foi atingida.

A maioria das obras que foram destruídas eram cinejornais e, dentre os destroços, estava apenas um longa-metragem.

Já em fevereiro de 2020, a unidade da Vila Leopoldina enfrentou uma grande enchente. Em laudo de destruição realizado pela Fundação Roquette Pinto, foi estimado que 9 mil rolos de filmes foram destruídos. Não há possibilidade de recuperá-los.

Ainda, no ano passado, a instituição foi fechada por ordem do governo federal.

Desde 2013, a Cinemateca Brasileira vem enfrentando uma crise. Naquele período, foram dispensados mais de dois terços dos funcionários, o que afetou a preservação do acervo e causou a paralisação de atividades

*A reportagem está sendo atualizada