Perdeu a memória da cultura, diz dirigente de entidade ligada à Cinemateca
O presidente da Sociedade Amigos da Cinemateca, uma entidade sem fins lucrativos que apoiava a Cinemateca, lamentou o incêndio que atingiu o galpão da instituição ontem, em São Paulo.
Carlos Augusto Calil projetou o que pode ter se perdido em meio às chamas. A entidade dirigida por ele foi criada em 1962 e tinha objetivo de mobilizar a sociedade para preservação e conservação da Cinemateca.
Muito provavelmente perdemos toda a memória da atuação pública, da atuação do governo federal na área de cinema desde 1967, desde a criação do instituto nacional do cinema. Não [tem mais como recuperar], não tem mais memória da política pública do Brasil.
Para ele, o incêndio mostra um descaso com a preservação do setor cultural e com outras instituições.
Calil lembrou que o Museu da Língua Portuguesa — que vai reabrir domingo (1º) — já teve um incêndio, mas lamentou o ocorrido no Museu Nacional, em 2018, e na Cinemateca, ontem.
O brasileiro provavelmente tem vergonha da sua história porque o problema da cinemateca é um problema de todas as instituições culturais do Brasil que são abandonadas pelo poder público e pela sociedade com raríssimas exceções. O que se perdeu na cinemateca, mas antes da cinemateca o que se perdeu no museu natural é um patrimônio material do país que é irrecuperável, ou seja, se perdeu a memória da cultura brasileira.
O dirigente criticou a falta de decisões após pedido do MPF (Ministério Público Federal) em que alertava o governo federal sobre o risco de um incêndio na Cinemateca Brasileira em uma audiência realizada no dia 20 de julho.
O MPF tomou uma atitude no sentido de pedir a justiça federal a tutela provisoria da cinemateca enquanto ela esta desprovida de funcionários, desprovida de uma atuação constante porque a preservação de filmes e de materiais cinematográficos exige a participação dos funcionários técnicos o tempo todo. Não basta apenas ter os contratos de luz, de água, de segurança. O material cinematográfico é altamente friável e precisa de cuidado permanente e isso foi objeto, mas a Justiça Federal de SP não teve sensibilidade de entender essa atitude que pedia uma ação urgente e a questão se arrasta há mais de ano.
Ele lembrou que material de outros órgãos — já extintos, como a estatal Embrafilmes — estavam alocados na Cinemateca.
É muito provável que tenha se perdido também os equipamentos antigos do cinema, aquilo que constitui o museu do cinema, muito provavelmente também a coleção de filmes da Pandora filmes. Eu acho que se perdeu mais coisa, é possível que tenha se perdido o material dos estudantes da escola de cinema da USP.
Sobre o que pode ser feito a partir de agora, ele projeta que a Cinemateca deva criar um contrato de emergência com alguma empresa privada "que tenha condições técnicas de administrar a cinemateca até que a burocracia de Brasília esteja pronta".
A burocracia de Brasília não tem pressa, mas a memória brasileira tem pressa.
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