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Miguel Falabella critica política de Bolsonaro para a cultura: 'Catástrofe'

Felipe Pinheiro

De Splash, em São Paulo

06/08/2021 04h00

Miguel Falabella não vê a hora das cortinas se abrirem para dar início a um novo espetáculo. A espera terá fim na noite de hoje (6), no Teatro Santander, em São Paulo. O dramaturgo assina o texto e direção do premiado musical "O Som e Sílaba", com Alessandra Maestrini e Mirna Rubim, que volta curtíssima temporada. Em bate-papo com Splash, Falabella e Maestrini falam sobre a retomada do setor cultural e criticam o governo de Jair Bolsonaro (sem partido).

Os teatros precisaram fechar as portas para o controle da pandemia do novo coronavírus. Depois de um ano e meio, o setor cultural do País é retomado conforme a vacinação avança. Os protocolos de segurança, claro, ainda são necessários — somente 60% da capacidade total do teatro pode ser ocupada, por exemplo.

"O Som e a Sílaba" reestreia em São Paulo em curtíssima temporada no Teatro Santander - Divulgação - Divulgação
"O Som e a Sílaba" reestreia em São Paulo em curtíssima temporada no Teatro Santander
Imagem: Divulgação

Como está a expectativa para o retorno, Falabella?

É muito apaixonante, né? Todos estamos desesperados para que isso [a reabertura dos teatros] aconteça. A classe teatral foi uma das mais atingidas. Fomos os primeiros a parar e seremos um dos últimos a voltar, ao menos de uma forma plena. É uma ansiedade, uma felicidade e espero que o público esteja com tanta saudade do teatro como nós estamos.

Governo Bolsonaro

Assim como muitos colegas da classe artística, Miguel Falabella critica o atual governo em relação ao tratamento dado à cultura. No mês passado, Jair Bolsonaro assinou um decreto de regulamentação do Programa Nacional de Apoio à Cultura, conhecido como Lei Rouanet. O objetivo, segundo o presidente, é "uma gestão eficiente com controle de prestação de contas".

Ao ser questionado sobre como vê a atual política para a cultura, Falabella é sucinto: "Não existe. É uma catástrofe. Simplesmente não há". E desabafa ao refletir sobre a expectativa de melhorias no setor.

Eles nunca esconderam o que eram. Acho que para eles a cultura não tem a menor importância. É um grande problema do Brasil. A educação também nunca teve importância. E de uns anos para cá a coisa vem descendo a ladeira. Não podemos colher bons frutos. Um país que não é educado, o que pode oferecer aos seus cidadãos e ao mundo? É um desastre.

Alessandra Maestrini: "Estão puxando nosso tapete"

Estrela de "O Som e a Sílaba", ao lado de Mirna Rubim, Alessandra Maestrini questiona a justificativa de regulamentação de contas do decreto assinado pelo presidente sobre a Lei Rouanet. A atriz fala da luta para ser artista no Brasil.

"Está difícil de fazer arte porque todos os dias temos que debelar. Todo dia temos que nos defender. Todo dia estão puxando nosso tapete. O governo trata a gente como inimigo. O artista é pintado como um chupim da sociedade. Somos remetidos ao nazismo, jogados num gueto", afirma ela.

Disseram que não somos essenciais, temos que pagar mais impostos e não ter incentivo fiscal. É colocado para o público leigo como se a classe artística fosse a única que não recebesse incentivo fiscal. O nosso incentivo fiscal está na lanterna dos incentivos fiscais do país.

Maestrini estende o seu protesto ao presidente Bolsonaro: "É um governo que quer ser a única voz. Tem que acreditar só nele. Uma pessoa que mente diariamente. Não dá para entender como essa pessoa ainda está na presidência da República".

Nossa maior preocupação e maior ocupação é se defender de alguém que nos trata como inimigo e que tem conseguido até agora bastante coisa para nos paralisar e nos derrubar. Mas não vai conseguir porque a arte é eterna. A memória existe na cabeça das pessoas. Eles passarão? E nós passarinho.

Alessandra Maestrini e Mirna Rubim em 'O Som e a Sílaba' - Divulgação - Divulgação
Alessandra Maestrini e Mirna Rubim em 'O Som e a Sílaba'
Imagem: Divulgação

O Som e a Sílaba

Dias: 6, 7, 8 , 13, 14 e 15 de agosto de 2021.
Horários: Sextas-feiras e Sábados às 21h | Domingos às 18h
Local: Teatro Santander
Endereço: Shopping JK Iguatemi - Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2041
Classificação etária: 12 anos
Capacidade: 555 pessoas
Ingressos: pelo site https://www.sympla.com.br/ ou diretamente na bilheteria (sem taxa de conveniência)