Maestrini diz como tentou esconder bissexualidade: 'Eu me senti ridícula'
"Alessandra Maestrini assume sua bissexualidade". O título, acompanhado de uma declaração da atriz, foi manchete de capa da revista "Caras" em 2014.
Sete anos depois, em bate-papo com Splash, a atriz (atualmente em cartaz com a peça "O Som e a Sílaba", em São Paulo), revelou o que mudou desde que decidiu falar abertamente sobre a sua orientação sexual.
"Posso ser mais eu. Não tenho que perder tempo me desviando. A gente perde muita energia. Precisa dar uma entrevista e tem que ficar procurando pronome. Vira uma pessoa chata. Uma pessoa sem passado, sem história. Fica difícil dar opinião", afirma.
Maestrini viajou a Bariloche, na Argentina, a convite da revista para uma temporada especial de inverno, tradicionalmente conhecida como "Caras Neve". Ela não esperava se abrir para falar sobre esse assunto, mas percebeu que algo não estava certo.
"Quem é essa pessoa?"
Quando fui dar a entrevista, tinha que mentir para responder sobre coisas banais, omitir ou desviar tanto que sentia como se estivesse em um esqui na neve. Quando acabou, pensei: 'Quem deu essa entrevista? Porque não sou eu. Não conheço essa pessoa.
O estalo de consciência veio depois de perguntas relacionadas a temas considerados tabus, como por exemplo a visão dela sobre a luta dos homossexuais. Ela não conseguia se apropriar de seu "lugar de fala" como pessoa LGBTQIA+.
"Eu me senti ridícula! Na posição de querer me esconder, acreditando que contar a minha sexualidade seria me expor, e não me expressar, falei: 'Acho que eles?'. E pensei, 'acho que eles' está puxado, Alessandra. Que ridícula você!", afirma.
Fora do armário: "Não sou um defeito"
Alessandra Maestrini brinca que é "tão aberta quanto uma alcachofra", e que não tem problema em falar sobre qualquer assunto. E corre mais riscos por falar demais do que por se calar. Mas, por um tempo, ela pensava que deveria se manter trancada no armário.
"Tenho orgulho absoluto de ser quem sou. Eu tomava essa postura porque tinha acreditado no mindset [mentalidade] de que ser assim é ser elegante, de não expor a intimidade? E não tem nada a ver com elegância. Para ser inteiro, você tem que poder ser. E se expressar não é se expor. Não sou um defeito por ser diferente do outro. [Se assumir] Foi maravilhoso para criar, para fazer os personagens com mais liberdade", diz.
[Antes de se assumir] Eu estava vestindo a camisa do opressor. Se eu não me assumo e prego um discurso 'acho que eles têm que ser felizes'... Que hipocrisia! É como se eu dissesse, não tenho problema com você, mas seja escondido. O que quer dizer isso? Seja com vergonha, seja sem energia, seja sem se amar, seja sem se celebrar.
Na época, Maestrini recebeu um retorno positivo de quem tinha medo de sair do armário, ela se recorda, e encontrou forças para se aceitar após a declaração. Alguns amigos gays, entretanto, tiveram uma reação que a surpreendeu.
"Viram só a capa da revista. A pessoa não leu a matéria e, também acreditando nesse mindset de que falar da sexualidade é ser vulgar, é apelar, falaram: não entendi por que você fez essa matéria. Eu perguntei: Você leu? Então lê, quem sabe vai te ajudar a entender", se recorda.
Celebrando as diferenças
Por fim, a atriz deixa uma mensagem sobre diversidade. E explica por que não gosta da palavra "tolerância":
A diferença do outro não é para ser tolerada. As diferenças devem ser celebradas. É uma lei da física. A base da criação, a base de Deus, está na probabilidade de relações. Se só existe o branco e não existe o preto, o quanto que a gente está perdendo! O quanto a luta antirracista vem para salvar o mundo, e não somente salvar os pretos. O branco é mais pobre se ele não entende a riqueza do preto.
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