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Carnaval do Rio investe em marketing e terá escolha dos sambas na Globo

Gabriel David, novo diretor de marketing da Liesa - Eduardo Hollanda - 18.fev.2019/Divulgação
Gabriel David, novo diretor de marketing da Liesa Imagem: Eduardo Hollanda - 18.fev.2019/Divulgação

Anderson Baltar

Colaboração para Splash, no Rio

10/08/2021 04h00

Aos 24 anos, Gabriel David promete uma verdadeira revolução no Carnaval da Sapucaí. Empresário, formado em administração pela PUC-Rio e filho do patrono da Beija-Flor, Anísio Abraão David, Gabriel assumiu recentemente a diretoria de Marketing da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba).

E, em pouco mais de cinco meses de trabalho, apresenta planos ambiciosos para fazer as escolas de samba cariocas voltarem aos seus tempos de grande sucesso midiático, como nos anos 1970 e 1980.

De cara, David sinaliza com um evento inédito: a exibição das finais da escolha dos sambas-enredos em rede nacional, pela TV Globo. A série de cinco programas, nas noites de sábado nos meses de outubro e novembro, está na fase final de planejamento.

Em entrevista a Splash, ele revela as principais ideias que pretende implementar para reaproximar as escolas de samba do imaginário do brasileiro. "Lidamos com um evento tradicional, mas que precisa se adaptar à nova realidade e se aproximar do público jovem", afirma.

Leia, abaixo, trechos da entrevista.

Splash - Nos últimos dias, o mundo do Carnaval foi surpreendido pela notícia de que as finais de samba-enredo podem vir a ser exibidas na Globo, em rede nacional. Em que pé está esse projeto?

Gabriel David - Apresentamos a ideia, com uma intenção inicial de exibir as disputas no Globoplay. Mas a TV [aberta] achou interessante, e as conversas evoluíram. As apresentações serão gravadas nos estúdios da Globo em setembro e exibidas no final da noite de sábado, por quatro finais de semana, em outubro e novembro. O resultado será divulgado no ar. Serão três escolas por noite, com três sambas finalistas por escola. Depois, teremos um programa para mostrar os sambas das 12 escolas. Será a maior divulgação dos últimos anos no que diz respeito ao Carnaval —e já é o primeiro fruto visível do nosso trabalho.

Splash - Podemos concluir que é um novo momento da relação do Carnaval carioca com a Globo?

Quando a Globo percebeu que a direção da Liesa mudou, ela abriu as portas para discutir inovações. Eu vejo um prazer deles em falar de Carnaval, apesar do momento complicado do país. Estamos conversando sempre e discutindo todas as ideias. A Globo falava mais com as escolas do que a Liga, que nunca teve proatividade. Ter a certeza dessas portas abertas facilita o nosso trabalho e estimula a Globo a fazer mais e melhor. E as escolas já receberão a primeira parcela do contrato com a TV ainda em agosto.

Desfile do Acadêmicos do Salgueiro, em 2020; David quer transformar a experiência do público que vai à Marquês de Sapucaí - Fernando Grilli - 24.fev.2020/Riotur - Fernando Grilli - 24.fev.2020/Riotur
Desfile do Acadêmicos do Salgueiro, em 2020; David quer transformar a experiência do público que vai à Marquês de Sapucaí
Imagem: Fernando Grilli - 24.fev.2020/Riotur

Splash - A nova administração está com menos de cinco meses de trabalho. Já é possível fazer um balanço das ações de marketing que você conseguiu implementar?

Acho que, nos momentos de dificuldade, surgem as maiores oportunidades. Fizemos mudanças consistentes na parte comercial, com boa resposta do mercado. Já realizamos apresentações para mais de 50 empresas e até agora ainda não recebemos nenhum não.

Ainda é difícil falar de Carnaval, por conta da desconfiança sobre a realização, mas podemos afirmar que haverá Carnaval em 2022. Tivemos avanços comerciais importantes e tenho certeza que o público na avenida verá algo nunca visto.

Splash - Que espécie de ativações serão vistas na Sapucaí?

Estamos trabalhando, com a agência Tátil, na criação da marca do Carnaval e ela está quase pronta. E, a partir daí, passaremos a implementar as ativações, em parceria com a TV Globo. Antes, havia muito conflito de marcas. Nos três últimos Carnavais, todas as marcas ativadas pela Globo nos telões eram conflitantes com as da Liga. Estamos caminhando para ter a cerveja, o banco oficial do Carnaval. Queremos também aproveitar melhor os intervalos entre as escolas para o público. Nos últimos quatro meses, já fizemos mais de 100 projetos.

Uma das ideias é criar uma fan fest, nos moldes do que acontece na Copa do Mundo. Se vamos conseguir em 2022? Ainda não sei. O fato é que o Brasil inteiro vai saber que o Rio terá desfile de escolas de samba. Queremos marcar presença forte no Réveillon e fazer os ensaios técnicos em janeiro e fevereiro. Que a cidade sinta o clima do Carnaval desde antes, criando expectativas de um grande evento.

Splash - Uma de suas primeiras ações foi criar uma pesquisa on-line com o público do Carnaval. Que resultados obteve?

A pesquisa foi muito bem-sucedida, tivemos mais de 10 mil respostas. Serviu para comprovar ideias que eu já tinha sobre a experiência do público. E também para reiniciar negociações com patrocinadores antigos que estavam afastados, já que pedi para as pessoas citarem empresas que elas identificam com o Carnaval.

Splash - Como melhorar a experiência do público na Sapucaí?

O ramo de alimentos e bebidas vai mudar bastante. Acho que o público de arquibancada não precisa necessariamente levantar do seu lugar para comprar comida e, para isso, teremos muitos ambulantes na avenida.

Splash - Nesta semana começa a reserva de camarotes. Teremos muitas novidades na venda de ingressos?

Neste primeiro ano pouca coisa vai mudar. A venda de ingressos é uma das principais fontes de renda da Liga, e achamos que mudar as coisas agora, em um momento de crise, seria perigoso. É lógico que a comunicação será melhor e que não haverá mais venda por fax. Queremos trazer melhorias, novas experiências para o público graças aos parceiros. A principal mudança foi a compreensão de que o desfile é linear e que não faz muito sentido ter uma diferença tão grande de preços entre os setores da avenida.

Alguns ficarão um pouco mais caros e outros, mais baratos. Creio que isso vai facilitar a vida do público. As vendas para os camarotes abrirão nesta quinta e, no final do mês vamos anunciar as datas de vendas das frisas e arquibancadas. Também queremos expandir, cada vez mais, as condições de pagamento. Acho muito provável que consigamos, dependendo das condições de sistema, implementar a venda até por pix.

Splash - Muitas pessoas ainda podem ter receio de comprar os ingressos por conta da pandemia.

Eu entendo o receio, mas a partir do momento em que a prefeitura assinou o contrato, podemos abrir as vendas. Evidentemente, dependendo do quadro nos próximos meses, podemos tomar decisões, como a da redução de público ou até do adiamento, em caso da impossibilidade de não poder fazer os desfiles em fevereiro. E também posso te garantir que a venda para 2023 terá início na semana do Carnaval de 2022. A mudança do contrato da prefeitura, com validade para quatro anos, nos dá essa segurança.

Splash - Você é jovem, trabalha com eventos e tem a preocupação de renovar o público da Sapucaí. Porém, o samba é um meio tradicional. Como atrair o público jovem e não desagradar os mais velhos?

O Carnaval tem esferas tradicionais que não podem ser desrespeitadas. Está longe de virar um Rock in Rio. O Carnaval é inclusivo e nunca deixará de ser. Porém, ele precisa falar a língua do jovem. Algumas mudanças já vêm acontecendo. Os enredos dos últimos anos são mais próximos da geração atual do que os de cinco anos atrás, quando se falava de coisas distantes da realidade.

É necessário criar diversas experiências de aproximação do público no pré-Carnaval para que ele tenha acesso a essas informações. O programa da TV Globo vai nesse sentido, com um conceito atual de interação, que vai entender como o samba é feito. O Carnaval é magnífico, mas precisa ser explicado para as pessoas.