MC Sapão: viúva processa empresários e diz que ele 'viveu pesadelo'
A viúva de Jefferson Fernandes Luiz, mais conhecido como MC Sapão, trava uma briga judicial com os empresários do cantor, morto em 2019 por complicações de uma pneumonia. Alessandra Araújo foi casada com o funkeiro por 17 anos e cobra das empresas Arca A e Showliana o pagamento de cachês de shows que ele fez pouco antes de morrer, além de uma prestação das contas do marido.
Em entrevista a Splash, Alessandra diz que Sapão "viveu um pesadelo" durante o período em que trabalhou com a Arca A, entre 2018 e 2019. A empresa, segundo a viúva do artista, era responsável pelo gerenciamento das finanças da família e parou de fazer os pagamentos depois da morte dele.
Fiquei com uma conta de luz astronômica, recebi aviso de corte. Quem pagou a minha luz foi o Dennis DJ, que era muito amigo do Jefferson.
Alessandra Araújo, viúva de MC Sapão
A briga se estende desde desde 2019, quando, pouco tempo depois da morte de Sapão, Alessandra pediu aos empresários um esclarecimento sobre os direitos que o marido tinha. Ela conta que, na ocasião, os representantes da Arca A não a reconheceram como mulher do artista, por não serem casados no civil. Quase dois anos depois, ela conseguiu o documento que comprova a união estável.
"Me trataram como um nada, como se eu fosse uma louca qualquer", conta Alessandra, que descreve o casamento com Jefferson:
Era uma união pública e notória. Eu acompanhava meu marido nos shows, viajávamos. Poxa, a gente tem quatro filhos, quase 20 anos juntos. Todo mundo sabia.
No processo, como conta a advogada de Alessandra, Maria Amélia Chimenti, a companheira de Sapão questiona ainda descontos que eram feitos pela Arca A nos cachês do MC.
"Eles fizeram assim: a turnê rendia x e tinha os custos y, mas esse dinheiro virou um crédito. Diziam que ele tinha um crédito de tanto, mas ele não recebia o dinheiro", explica a advogada.
Chimenti diz que os valores, corrigidos para os dias de hoje, passariam de R$ 150 mil. Segundo a advogada, a Arca A não apresentou comprovantes adequados na prestação de contas.
"Eles juntam nos autos uns recibos avulsos, daqueles de papelaria. Colocam uma pessoa que fazia transporte das crianças por R$ 1,4 mil, mas cadê o recibo? Dizem que depositavam em conta direto. É tudo muito estranho", comenta.
Produtora é comandada por grandes empresários da música
A Arca A é comandada por grandes empresários da indústria da música. No site oficial, três sócios são listados: Tuka Carvalho, dono da rádio FM O Dia, Adriana Araújo, diretora artística da emissora, e Alexandre Ramalho, que tem experiência na gestão de carreira de artistas e trabalhou em gravadoras.
Atualmente, a companhia cuida das carreiras de nomes como Pixote, Gustavo Mioto e Imaginasamba.
Splash entrou em contato com a Arca A, que disse que se pronunciaria oficialmente por seu advogado. O representante foi contatado, mas não respondeu até da publicação desta reportagem. O processo corre em sigilo, o que impede o acesso aos argumentos apresentados pela empresa, que não reconhece a dívida com a viúva de Sapão.
A outra produtora envolvida no processo é a Showliana Produções Artísticas, representada por Juliana Costa Rodrigues. Segundo a viúva de Sapão, Juliana era vendia shows do MC antes do contrato com a Arca A.
"Quando ele fechou esse novo contrato com a Arca, ainda tinha shows vendidos pela Showliana. Ela teria que repassar o dinheiro à Arca A, mas nunca pagou", explica a companheira do MC.
Splash também tentou contato com a dona da Showliana e com o advogado da empresa, mas não obteve respostas. "Ela veio à minha casa pouco depois que o Jefferson morreu, disse que reconhecia a dívida e que pagaria, mas nunca pagou", conta Alessandra.
Plano de saúde cancelado
De acordo com Alessandra, os problemas com a Arca A começaram meses antes de o funkeiro precisar ser internado. Ela conta que Jefferson sofria de problemas de saúde, mas foi convencido pelos empresários a cancelar o plano que atendia a família há mais de uma década.
"Eles cuidavam do financeiro dele e, um dia, foi levada a ele a decisão de que não poderiam manter o plano de saúde, que era um 'gasto exorbitante' e que ele não tinha condições", diz Alessandra.
O plano de saúde custava cerca de R$ 5 mil mensais para os seis integrantes da família.
Quando ele me contou isso eu falei: 'Gente, como assim? Isso não pode acontecer, as crianças precisam do plano e você ainda mais, uma vez que você tem três stents no coração'.
Alessandra diz ter ficado "com o pé atrás" em relação à empresa. Segundo ela, Sapão era diabético, hipertenso, e precisava de check-ups regulares. "Para ele era primordial, porque ele fazia acompanhamento cardiológico de três em três meses, e fazia uma bateria de exames sempre", conta Alessandra.
A viúva de Sapão diz que o "pesadelo" começou quando ele percebeu a falta que o plano de saúde faria. "Foi um abalo terrível para mim e para ele, porque foi quando ele caiu em si", conta a companheira do funkeiro.
Sapão viu que não era aquilo que ele queria e isso abalou o psicológico dele. Ele ficou muito desmotivado. Tinha constantes indagações sobre o financeiro: várias discussões, discordâncias. Coisas que eles cobravam e que ele achava que eram erradas. Mas, como tinha um contrato, não podia fazer nada.
A última turnê
Um dos pontos principais do processo é o cachê a que Sapão teria direito pelos últimos shows que fez. No dia 10 de abril de 2019, o cantor voltou de uma pequena turnê de dois dias por Recife e São Paulo direto para o hospital. Ele foi diagnosticado com pneumonia.
"Ele estava resfriado quando viajou para fazer os shows, e saiu do calor de Recife para o frio de São Paulo. Quando chegou já me ligou dizendo que iria para o pronto-socorro", conta Alessandra.
Sapão foi atendido em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), antes de ser transferido para o Hospital Municipal Rocha Faria, em Campo Grande, zona oeste do Rio. Ele ficou internado por nove dias, mas não resistiu. "Não tenho do que reclamar do hospital público, porque eles fizeram o que estava ao alcance deles", diz Alessandra, lamentando a falta de apoio dos empresários.
Não ajudaram. No dia da internação do meu marido, um dos empresários esteve lá. Ele viu a realidade do hospital, viu o artista dele e o tratamento que ele ia ter. Ele podia ter feito alguma coisa, tirado meu marido dali.
E ela continua:
Toda essa situação mostra que eu realmente não estava enganada. Eles veem o artista como um objeto, não como um ser humano. Vale muito enquanto dá para ser usado. Quando dá algum defeito, é encostado de lado e a vida segue.
Ainda segundo Alessandra, desde a morte de Sapão, ela não foi procurada por nenhum representante da empresa para tentar algum tipo de acordo.
A Família Sapão
Com a união estável comprovada, a defesa de Alessandra espera conseguir avançar com o processo. "Isso envolve os filhos dela, três deles são menores de idade, e é direito deles", explica a advogada Maria Amélia Chimenti.
A companheira de Sapão diz que a "luta" para conseguir o documento foi uma motivação para seguir adiante com o processo.
"Eu falei: 'Eles estão me negando um direito por causa de um papel? Então, tudo bem. Eu vou voltar com esse papel'. Não estou querendo nada de ninguém. Quero o que é meu e da minha família. Vou reivindicar isso até o último minuto que for preciso, não vou desistir", descreve.
Várias vezes eu pensei em desistir, mas quando eu olho para os meus filhos ou vejo fotos minhas com o Jefferson, vejo tudo que a gente passou, tudo que ele fez pela família dele... Não posso deixar pessoas usufruírem do que é meu e do meu marido. Ele trabalhou muito.
Alessandra Araújo
Enquanto o processo não anda, Alessandra se organiza para cuidar dos quatro filhos com o dinheiro que recebe por direitos autorais do marido. A monetização de vídeos e streaming ainda é depositada na conta da Arca A.
Por conta dessa briga jurídica, é importante a gente falar que quando um fã do MC Sapão escuta a música dele, a família não está recebendo um centavo. Quem recebe são esses vilões. Nem as senhas dos canais do YouTube eles passam.
Maria Amélia Chimenti
Uma das iniciativas para ajudar nas finanças é o projeto "Família Sapão", grupo que será criado no Facebook para divulgar a obra do MC e o trabalho do filho mais velho do funkeiro, que segue os passos do pai na música.
Pedro Ariel, 18, está regravando sucessos do pai, como "Tô Tranquilão", "Vou Desafiar Você" e "Diretoria" e pede que os fãs ouçam as versões dele, para que a família receba o dinheiro pelas execuções.
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