Como Sérgio Reis foi do 'Rei do Gado' a militante antidemocrático
Entre as décadas de 1980 e 1990, quando o cantor Sérgio Reis era figurinha fácil na televisão dominical com seus hits-chiclete, ninguém poderia imaginar que em 2021 ele seria notícia por se tornar alvo de investigações do STF por incitação de atos violentos e antidemocráticos.
Nascido em 1940 como Sérgio Balvini, Sérgio Reis é ligado ao partido Republicanos (antigo PRB), pelo qual foi eleito deputado federal em 2014. Durante o mandato na Câmara, ele fez amizade com Jair Bolsonaro, então deputado pelo partido Progressistas do Rio de Janeiro. Antes disso, o paulista de 1,93m era mais conhecido por sucessos como "Panela Velha", composição de Moraezinho e Auri Silvestre, que estourou em sua voz em 1984 e eternizou o refrão:
Não interessa se ela é coroa / Panela velha é que faz comida boa
Mas a carreira musical de Sérgio Reis começou bem antes. Antes de ser um ícone da música caipira, o paulistano Sérgio Reis participou da Jovem Guarda, e emplacou o rock "Coração de Papel" nas paradas em 1967. A música batizou seu disco de estreia, lançado no mesmo ano.
Só que Reis entrou na onda do iê-iê-iê quando a Jovem Guarda já estava em declínio, com os líderes do movimento, Roberto e Erasmo Carlos, já interessados em outros voos. Seu segundo álbum, "Anjo Triste" (1969), não causou o mesmo impacto da estreia. Reis, então, começou a se aproximar da música sertaneja.
Ele abraçou o gênero em 1973, quando lançou disco que levava seu nome e trazia, entre as gravações, "O Menino da Porteira" (Teddy Vieira e Luizinho), que também se tornou um grande sucesso em sua voz.
Ao longo da carreira, Sérgio Reis se acostumou a frequentar as paradas: "Pinga Ni Mim", "Disco Voador", "Adeus Mariana", Filho Adotivo" e, é claro, "Panela Velha", são hits nacionais. Em 1981, o disco "O melhor de Sérgio Reis" vendeu mais de 1 milhão de cópias — um feito, tanto na época como hoje. Ele também é dono de três Grammys Latinos de melhor álbum de música sertaneja - na categoria, ele é até hoje o maior vencedor.
Nos anos 1980, Reis se tornou ainda mais conhecido ao se tornar também ator de telenovelas como "Paraíso" (1982), "Fera radical" (1988), ambas na TV Globo. Seu grande papel na TV, porém, foi na extinta TV Manchete, em 1990, quando viveu o violeiro Tibério no sucesso "Pantanal", de Benedito Ruy Barbosa. Com ele na trama estava outro músico sertanejo, Almir Sater, com quem Reis contracenu também em outro sucesso da Manchete, "A História de Ana Raio e Zé Trovão" (1990), e em "O Rei do Gado" (1996, na TV Globo). Seu último papel na TV foi em "Bicho do Mato" (Record, 2009).
Paralelamente, Reis manteve carreira como radialista, à frente do programa "Siga Bem Caminhoneiro", mais tarde transportado para a televisão nas telas do SBT.
Ingressando para a política
O interesse de Sérgio Reis pela política veio anos mais tarde. Foi eleito deputado federal em 2014 com 45 mil votos, com plataforma ligada aos interesses dos caminhoneiros. Em Brasília, identificou-se com Jair Bolsonaro, e costuma dizer que o hoje presidente é como ele, sem papas na lingua.
Nos últimos dias, Sérgio Reis voltou aos holofotes por conta de um vídeo e um áudio nada republicanos, em que convocava uma greve nacional de caminhoneiros contra o Supremo Tribunal Federal e dava um violento ultimato aos ministros do STF.
Se em 30 dias não tirarem os caras nós vamos invadir, quebrar tudo e tirar os caras na marra. Pronto. É assim que vai ser. E a coisa tá séria.
Sérgio Reis, em áudio
As falas do sertanejo repercutiram muito mal. Sindicalistas caminhoneiros desautorizaram Reis a falar em seu nome. Segunda-feira, o cantor e compositor Guarabyra cancelou participação no próximo disco do músico. Nesta sexta-feira, Guilherme Arantes e Maria Rita também disseram que não irão mais participar das gravações. A mulher do cantor, Ângela Bavini, tem dito que ele anda deprimido e desde a repercussão do áudio. O próprio Sérgio Reis se disse arrependido nesta quinta-feira, mas voltou a defender manifestação contra o STF.
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