Lorde retorna com 'Solar Power' entre o amor e o luto
Lorde estava sentada na sacada de um apartamento e usava um vestido leve quando conversou com Splash, no último dia 2. A janela de vidro ao fundo mostrava os arranha-céus de uma ensolarada Nova York, compondo um cenário que parecia desenhado especialmente para a neozelandesa que lança nesta sexta-feira (20) seu terceiro álbum de estúdio, "Solar Power".
"O 'Melodrama' se passava entre os horários de meia-noite e 3h da manhã", ela explica, fazendo uma comparação com o disco anterior, de 2017.
Era um álbum noturno, com todas as tensões existenciais que vêm junto. Este álbum está entre 14h e 17h. Ele é vespertino, a luz é dourada. Toda a mentalidade é diferente.
As cores alegres e os tons pastel de fato estão presentes em todo o material do novo lançamento, já nas plataformas digitais. Os dois primeiros clipes, de "Solar Power" e "Mood Ring", refletem essa intensidade mais iluminada - algo que, para a artista, é mais uma sequência natural para as suas composições anteriores do que uma ruptura.
Isso porque o disco é a segunda colaboração com o prolífico Jack Antonoff. Desde que produziu o "Melodrama" (2017), ele já trabalhou com Taylor Swift, Lana Del Rey, St. Vincent, Pink! e Carly Rae Japsen antes de lançar o álbum "Take the Sadness Out of Saturday Night", com os Bleachers, no fim de julho deste ano.
"Com 'Melodrama', foi a primeira vez dele produzindo um álbum inteiro, e desde então ele fez tantos outros", recorda a compositora, que afirma se divertir com os memes compartilhados no Twitter sobre ela, Taylor e Lana dividirem o tempo livre de Antonoff entre si.
"Nós dois aprendemos muito, e nos conhecemos tão bem que agora temos uma fluência na comunicação que é muito nossa. Eu sei o que ele vai falar antes de ele falar, é uma vibe adorável no estúdio."
Na pausa entre "Melodrama" e "Solar Power", Lorde deixou os fãs aflitos quando decidiu dar um tempo das redes sociais. Em maio de 2018, ela misteriosamente arquivou todas as publicações de seu Instagram, exceto três fotos, e apagou todos os tuítes. Desde então, a comunicação com os fãs é feita através de e-mails, algo que a cantora já avisou que vai continuar acontecendo.
"Tem um toque de lentidão e calmaria nisso", explica, sobre a ausência do Twitter e do Instagram. "Eu precisava diminuir o meu consumo de redes sociais para conseguir alcançar o que eu queria, até mesmo para ter espaço para pensar sobre, sei lá, a passagem do tempo, o meu passado e o meu futuro. É um conceito muito grandioso, e eu precisava parar para refletir sobre isso."
Com a reflexão, que deu origem ao novo trabalho, Ella Yellich O'Connor precisou voltar aos holofotes. A rotina do lançamento de um álbum, afinal, inclui rodadas de entrevistas, sessões de fotos e uma extensa agenda de divulgação.
É bem estranho, definitivamente diferente. Mas eu estou gostando. Demorei um pouco para me ajustar, mas estou curtindo. É bom estar de volta ao mundo, e é sempre gostoso lançar outro álbum. Você se sente confiante de ter algo ali para te dar apoio. Então, eu estou bem.
Mesmo com a alteração na rotina, Ella não se deixa abater ou perder o sono pelas expectativas em torno do lançamento e da recepção de "Solar Power". Ainda que considere inevitáveis comparações com o "Melodrama", a criadora afirma que o sucesso comercial não é a sua preocupação primária na hora de apresentar o novo trabalho para o mundo. Vale lembrar: o álbum anterior tem nota 91 no agregador Metacritic, estreou no topo dos álbuns mais vendidos segundo a Billboard e emplacou três músicas no Hot 100 da mesma publicação.
"Eu me sinto muito bem sobre esse álbum. Eu amo o que eu fiz. Acho que se as suas intenções forem boas, tudo dá certo. Eu não... sabe, eu não vendo um milhão de cópias, não estou bombando nas paradas. Mas eu acho que, para o que eu faço, está maravilhoso. Acredito que os meus fãs vão ficar bem animados."
Mas se o tema de "Solar Power" remete ao verão e ao calor, parte do processo de inspiração vem de lugares gelados.
Em 2019, Ella decidiu embarcar em uma viagem para a Antártica. Lá, ela aprendeu sobre os efeitos do aquecimento global e da vida humana no planeta, e isso deu origem ao livro de fotografias e memórias "Going South". Ironia ou não, a primeira sentença que ouvimos do novo álbum parece uma resposta à jornada para o sul do globo: "Eu odeio o inverno, não suporto o frio."
"Ah, na verdade nós fomos durante auge do verão, então não é escuro o dia todo, havia muita luz do sol", explica. "Sim, era um frio congelante, mas também era um tipo de frio especial. Foi uma viagem incrível, porque foi esclarecedora e me fez querer fazer outro álbum, e fazê-lo muito bem. É um lugar muito maluco, foi quase um retiro espiritual. Sabe, no fim das contas é só você e a natureza, 24 horas por dia", recorda, esclarecendo que é esta a mentalidade presente nas músicas do "Solar Power".
Aos 24 anos, a segunda filha da poetisa Sonja Yelich com o engenheiro Vic O'Connor se diz sortuda por ser do "canto inferior do globo" -afinal, nenhum país lidou tão bem com a covid-19 quanto a Nova Zelândia—, mas por enquanto precisa mesmo estar em Nova York. "Foi bom termos conseguido colocar cada coisa em seu lugar, mas cada lugar é muito diferente do outro", pondera. "Por enquanto, estou tentando seguir o fluxo das coisas."
Por isso, as saudades das apresentações ao vivo crescem, e Ella relembra com carinho suas duas apresentações no Brasil. A primeira, no Festival Lollapalooza em 2014, e a segunda, no Popload Festival, em 2018.
"A gente espera o ano todo para ir ao Brasil porque eu não consigo nem explicar o quanto é especial para nós, enquanto artistas, fazer o que fazemos e receber tanta paixão. É por isso que fazemos o que fazemos. Guardo com muito carinho as duas apresentações que fiz [aí], elas têm um canto especial no meu coração."
Confiante e tranquila, Lorde encerra a entrevista pedindo desculpas à repórter pelo tempo limitado da conversa, e confessa que existe muito "amor e luto" no álbum. Isso devido ao seu cachorro, Pearl, que morreu quando o material estava sendo produzido:
É basicamente para homenageá-lo. Tem muita alegria nele, e também muito amor e luto. Um pouco das duas coisas.
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