Um ano sem Chadwick Boseman e o legado do ator segue vivo
Era tarde da noite de uma sexta-feira quando a morte de Chadwick Boseman, aos 43 anos, foi anunciada por meio das redes sociais. O ator que havia incendiado as telonas interpretando T'Challa em "Capitão América: Guerra Civil" (2017), "Pantera Negra" (2018), "Vingadores: Guerra Infinita" (2018) e "Vingadores: Ultimato" (2019) estava apenas começando.
Dois meses antes da morte de Boseman, em 12 de junho de 2020, ele chegava às telas da Netflix no catártico "Destacamento Blood", de Spike Lee, e voltaria alguns meses depois em "A Voz Suprema do Blues", filme que lhe renderia uma indicação póstuma ao Oscar de melhor ator. A atuação neste filme foi considerada, por muitos críticos, a melhor da sua carreira.
A morte de Boseman foi decorrência de um câncer de cólon, que o ator manteve em segredo e contra o qual batalhou durante quatro anos. Nem mesmo colegas de elenco ou diretores que trabalharam com Chad, como Lee ou Ryan Coogler, sabiam do diagnóstico. Uma das raras exceções era seu agente, Michael Greene, com quem trabalhou desde o início da carreira, em 2008.
A decisão de manter o quadro de saúde em segredo veio de um ensinamento de sua mãe, Carolyn, segundo contou Greene em entrevista à revista The Hollywood Reporter:
Ela o ensinou a não criar muita agitação em torno de si mesmo, e por isso ele era uma pessoa muito reservada. Ele também acreditava que, nessa indústria, as pessoas inflam demais as coisas.
Nascido em 29 de novembro de 1976, na Carolina do Sul, Chadwick Aaron Boseman era filho de Carolyn Mattress e Leroy Boseman. Embora quisesse se tornar arquiteto quando era criança, escreveu a primeira peça no terceiro ano do ensino médio, "Crossroads", após um colega de classe ter sido morto a tiros. Na ocasião, ele percebeu gostar de contar histórias mais do que de praticar esportes.
Eu tinha a sensação que isso era algo que me chamava. De repente, o basquete não era mais tão importante.
Chadwick Boseman, à Rolling Stone, em 2018
Recrutado para jogar basquete na universidade, seguiu o coração e foi para as artes na Howard University, em Washington, onde se formou no ano 2000 especializado em direção, e cultivou relacionamentos que seguiriam durante toda a sua vida.
Entre seus grandes mentores, ainda da época da faculdade, estão dois de seus professores mais proeminentes: o ator e diretor Al Freeman Jr. e a atriz Phylicia Rashad ("Creed", "Creed II").
Foi graças a ela que Denzel Washington ajudou a financiar os estudos de Boseman e outros colegas, para que pudessem atender aos cursos de verão da Academia de Artes Dramáticas da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Mas o ator de "Dia de Treinamento" (2001) e "Um Limite Entre Nós" (2016) só soube que ajudou a pagar os estudos do Rei de Wakanda na estreia do filme da Marvel, em 2018.
Representação positiva
O agente Michael Greene conheceu o ator quando ele estava tentando tirar do papel um filme chamado "Deep Azure", que havia escrito e planejava dirigir, com Omari Hardwick e Tessa Thompson, então clientes de Greene, nos papéis principais.
O filme, que era uma espécie de "Romeu e Julieta do hip-hop", acabou não se concretizando, mas foi ali que os dois começaram a trabalhar juntos e não pararam mais —nem mesmo quando Boseman começou a ser escalado para projetos maiores, o momento em que os talentos normalmente assinam com agências de maior porte.
Ele sempre queria fazer o que importasse ou fosse significativo. Em qualquer papel, filme ou série, precisava representar algo positivo. Porque ele era sempre um orador.
Wakanda Para Sempre
A carreira meteórica de Chadwick Boseman, inevitavelmente cruzada com a história dos blockbusters quando ele se tornou o primeiro homem negro a protagonizar um filme do Universo Cinematográfico Marvel (e um com 90% do elenco negro), deixa um legado que se confunde com o do próprio T'Challa.
Isso porque o filme não apenas acumulou elogios de crítica pela profundidade da história, como constatou o que, para muitos, já era óbvio: a representatividade é, sim, lucrativa. E em mais de um sentido.
"Pantera Negra" levou para a Marvel Studios três prêmios no Oscar 2019, acumulou US$ 1,3 bilhão nas bilheterias globais e inspirou muitos projetos de financiamento coletivo que levaram crianças e jovens das periferias mundiais para assistirem à obra nos cinemas. Michelle Obama, Barry Jenkins, Viola Davis, e Shonda Rhimes são algumas das celebridades que, à época, engrossaram a lista de fãs do trabalho.
A dedicação do protagonista, aliás, foi tanta, que ele chegou a estudar estilos de luta africanos e discursos dos líderes do continente. O próprio sotaque criado para T'Challa, baseado no dialeto Xhosa, que é falado na África do Sul e no Zimbábue, foi uma luta de Boseman.
Na época, o estúdio queria que T'Challa mantivesse o sotaque estadunidense ou adotasse um britânico, mas o ator resistiu à ideia:
"Eu disse que não seria legal porque, se fizéssemos aquilo, estaríamos dizendo que Wakanda foi colonizada", falou para o Los Angeles Times.
Com o trono vazio, as filmagens de "Pantera Negra: Wakanda Forever" (2022) estão em andamento e o filme, que promete ser uma homenagem ao rei eternizado, vai apresentar oficialmente a atriz Dominique Thorne como Riri Williams, a Coração de Ferro. Além disso, Anthony Mackie já firmou contrato para estrelar "Capitão América 4", e veremos o Máquina de Combate (Don Cheadle) protagonizar sua própria série, "Armor Wars".
Mas mesmo com tanto a dizer e representar, Chadwick Boseman nunca deixou a humildade para trás:
É uma alegria ver o efeito que este filme tem nas pessoas em várias etapas da vida, não importa a etnia, o gênero ou a idade. Ser parte de algo que afeta as pessoas em tantos países é gratificante e libertador.
Entrevista à GQ Magazine
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