Topo

'Todo mundo quer sangue', diz Jennifer Aniston sobre 'The Morning Show'

Jennifer Aniston e Reese Witherspoon em cena na 2ª temporada de "The Morning Show" - Divulgação/Apple TV+
Jennifer Aniston e Reese Witherspoon em cena na 2ª temporada de "The Morning Show" Imagem: Divulgação/Apple TV+

Laysa Zanetti

De Splash, em São Paulo

17/09/2021 04h00

Enquanto a entrevista coletiva não começa, Jennifer Aniston se diverte tentando entender a logística das salas do Zoom, com repórteres do mundo inteiro sendo realocados de uma sala virtual para outra antes de a conversa com ela e Reese Witherspoon começar. A atriz brinca:

"Ah, é o lobby. Estamos no lobby, e então eles colocam as pessoas no deck, mas agora eles estão na sala de espera até poderem entrar no lobby. Desculpem, eu estou amando essa linguagem de Zoom [risos]."

Essa mesma "linguagem de Zoom", de certa forma, acabou virando rotina durante a produção da segunda temporada de "The Morning Show", que estreia hoje (17) no Apple TV+.

Na série, a história parece gostar de se repetir. Se a primeira temporada precisou ser reescrita para incluir as denúncias de assédio do movimento #MeToo, a segunda vai pelo mesmo caminho e encontrou outro desafio da vida real que acabou se tornando parte da narrativa: a covid-19.

Está tudo acontecendo em tempo real, e essa é a parte divertida de criar uma série nessas condições.

Produtora e protagonista do drama, Aniston reflete: "Estamos retratando a realidade da maneira mais honesta possível. É muita responsabilidade, mas mantém as coisas empolgantes."

Uma pedra no caminho

O objetivo inicial era que a série tivesse retornado em 2020, mas depois de dois episódios filmados, a produção precisou ser interrompida para respeitar os protocolos sanitários. Foi neste momento que a showrunner Kerry Ehrin voltou para a sala dos roteiristas e decidiu que a pandemia precisava fazer parte da história que estava contando, que já incluía a cultura do cancelamento, as eleições presidenciais de 2020 e racismo.

Mas depois de 18 meses de distanciamento social, máscaras e chamadas por Zoom, ainda há algo a ser dito sobre a pandemia?

Jennifer Aniston e Reese Witherspoon em cena da segunda temporada de "The Morning Show" - Divulgação/Apple TV+ - Divulgação/Apple TV+
Jennifer Aniston e Reese Witherspoon dividem o protagonismo na segunda temporada de "The Morning Show"
Imagem: Divulgação/Apple TV+

"A temporada explora aquele momento logo antes de o mundo inteiro se isolar", explica Reese Witherspoon, também produtora e protagonista da atração. "Então, é de janeiro até março [de 2020], e aprofundamos os temas da primeira temporada. Lidamos com racismo sistêmico, homofobia, etarismo e a nova relação das mulheres com o poder dentro das organizações midiáticas."

Nesse sentido, a pandemia entra na narrativa da temporada menos como um problema sanitário, e mais como uma observação da relação entre a imprensa e o vírus, antes de ele se tornar, objetivamente, uma questão global.

"Criar uma série no meio da pandemia significa milhares de chamadas por Zoom e muitos protocolos", conta a eterna Rachel Green de "Friends".

É difícil, porque eu queria ver a minha equipe, eu amo essas pessoas! E era bizarro também. Nos ensaios, estávamos com máscaras e protetores, mas quando ligávamos as câmeras, de repente, o vírus não existia mais, ali naqueles cinco minutos. Demorou para eu me ajustar, mas acabou se tornando o normal... espero que não por muito tempo!

De tudo um pouco

Karen Pittman e Victoria Tate em 'The Morning Show' - Divulgação/Apple TV+ - Divulgação/Apple TV+
Karen Pittman e Victoria Tate em 'The Morning Show'
Imagem: Divulgação/Apple TV+

Já que em uma redação de jornalismo raramente existe apenas uma notícia acontecendo, a temporada aproveita essa conexão da trama com a realidade para refletir sobre outros problemas de caráter social —e põe o dedo na ferida do preconceito.

"Temos conversas iniciais com Kerry Ehrin e o time de roteiristas, mas a decisão sobre os temas realmente é deles", explica Reese.

"São eles quem sabem o que vai surpreender ou satisfazer o público. São ideias grandiosas e complexas, e nós temos um grupo bem diverso de roteiristas contando como essas questões afetam suas próprias vidas. Isso é o que está refletido na segunda temporada."

Cancelamento, disputas de poder e monstros no armário

Bradley Jackson (Reese Witherspoon) comanda o "The Morning Show" na segunda temporada da série - Divulgação/Apple TV+ - Divulgação/Apple TV+
Bradley Jackson (Reese Witherspoon) comanda o "The Morning Show" na segunda temporada da série
Imagem: Divulgação/Apple TV+

Retomando a história imediatamente após Alex (Aniston) e Bradley (Witherspoon) soltarem uma bomba ao vivo no último episódio da primeira temporada, o segundo ano de "The Morning Show" não economiza em surpresas e reviravoltas.

"Nós vimos as dificuldades, as exclusões, a cultura do cancelamento, e está todo mundo meio que carregando a própria parcela de culpa sobre o que permitiu ou não permitiu que acontecesse", conta Aniston sobre o clima que vai tomar conta dos personagens na nova temporada.

Há muitas auto-avaliações e muitas surpresas. A coisa fica bem quente.

Isso porque a denúncia feita ao vivo por Alex, que a transformou instantaneamente em uma das personalidades mais importantes nos Estados Unidos —estampando as capas das principais revistas, como mostra o trailer—, foi apenas o começo de uma longa teia de causas e consequências que a perseguirá durante os novos episódios.

Por exemplo, Alex ainda esconde o affair que teve com Mitch, deixou Bradley desamparada quando saiu da emissora e está desesperada para que os segredos fiquem, de fato, escondidos.

Jennifer Aniston nos bastidores de "The Morning Show" - Divulgação/Apple TV+ - Divulgação/Apple TV+
Jennifer Aniston nos bastidores de "The Morning Show"
Imagem: Divulgação/Apple TV+

"É importante não tratar esses assuntos de forma genérica ou simplificada", pontua Aniston, explicando:

Queremos mergulhar em temas complexos e ouvir as conversas que estão acontecendo a portas fechadas, aquelas que as pessoas sentem que não deveriam sequer acontecer. Porque essa é a verdade! Essas conversas estão acontecendo! Retratar essas áreas mais cinzentas, ao invés de ficar apenas no 8 ou 80, define o que o mundo está realmente fazendo com as pessoas.

Entre esses temas mais complexos, é claro, está a cultura do cancelamento. Os episódios trazem a repercussão para Mitch, mas não ficam apenas nisso —outros integrantes da equipe do jornal matutino são atingidos, em maior ou menor escala, pela banca julgadora das redes sociais.

Na nossa cultura, nunca houve um momento de tantas transformações e, ao mesmo tempo, tão imperdoável, reflete Witherspoon.

"Somos todos humanos tentando entender quem somos, todos capazes de coisas terríveis e de coisas muito boas. Não somos definidos pela pior coisa que já fizemos na vida. Existe um custo humano ao exilarmos as pessoas, ou as condenarmos eternamente por uma única coisa, porque ninguém é perfeito."

A era da desinformação

Para Aniston e Witherspoon, o trabalho em "The Morning Show" transformou a forma de olhar para o jornalismo e a indústria das notícias. Embora a série não tenha a intenção de ser um documentário, ela não foge dos assuntos do momento. Por isso, acabou trazendo reflexões sobre o que a dupla chama de "lacuna geracional".

Reese reflete:

Com o surgimento das redes sociais e desinformação, é muito difícil encontrar a verdade. Antes, costumava haver uma única verdade universal, e agora existem milhares de vertentes. Eu vejo isso com meus filhos, eles se informam em lugares diferentes de mim. E essa é a vida, a notícia não está mais centralizada.

Aniston completa:

"Essa lacuna é interessante, porque para os mais novos às vezes as coisas são extremamente simples, e não é assim. É legal que na série nós exploramos tudo isso", afirma, pontuando que a personagem de Holland Taylor traz esse lado da experiência, por ser alguém que "já viu de tudo e não aceita ser contrariada".

Antigamente, os noticiários matinais costumavam ser um lugar seguro, mas nos últimos cinco anos parece que a coisa mudou. Eles não podem simplesmente dar notícia, porque de repente estão revirando a sua vida inteira. É muita coisa. Todo mundo quer sangue.