Filmes sobre caso Von Richthofen relatam abuso sexual, traição e mentiras
"Honrar pai e mãe", diz um dos dez mandamentos da Bíblia. O livro sagrado do cristianismo é categórico ao afirmar que os pais são figuras quase divinas e, por isso, devem ser sempre respeitados. Por isso, quando os patriarcas de uma família tida como perfeita são brutalmente assassinados a mando da própria filha, é de chocar todo o Brasil. E foi exatamente isso o que aconteceu em 2002, quando Suzane von Richthofen arquitetou a morte dos próprios pais ao lado do namorado Daniel Cravinhos e o cunhado, Christian, por espancamento.
Quase 20 anos se passaram desde o crime, mas o rumoroso caso nunca deixou a mídia por completo e diferentes conteúdos já abordaram o assassinato. "A Menina Que Matou os Pais" e "O Menino Que Matou Meus Pais", dirigidos por Mauricio Eça, são os mais novos títulos a exporem as mortes de Manfred e Marísia von Richthofen. Eles chegam amanhã ao Amazon Prime Video e Splash já assistiu aos dois filmes.
Precisa de dois filmes?
Ambas produções mostram os acontecimentos entre o momento que Suzane e Daniel se conheceram, em agosto de 1999, até o crime ser cometido, em outubro de 2002. Com o roteiro de Ilana Casoy e Raphael Montes, os filmes são baseados nos autos do processo e nos depoimentos dados pelo casal durante o julgamento — ou seja, cada um traz uma versão.
"A Menina Que Matou os Pais" é narrado por Daniel Cravinhos, interpretado por Leonardo Bittencourt, e expõe o que foi dito pelo réu no tribunal. Em sua visão, Suzane era manipuladora, se aproveitava do dinheiro da família e enchia o aeromodelista de presentes, tinha problemas com as figuras paternas e, principalmente, foi quem teve a ideia de assassinar os próprios pais, que não permitiam o namoro.
Já em "O Menino Que Matou Meus Pais", acompanhamos Suzane von Richthofen, vivida por Carla Diaz, se declarar como a filha perfeita, que foi levada para as drogas e convencida a apoiar o assassinato dos pais pelo namorado menos abastado financeiramente, quando tinha apenas 18 anos.
Cada um dos títulos serve de contraponto ao outro, além de mostrar as contradições do que cada um deles disse. Suzane disse que era virgem quando começou a namorar com Daniel, e revela que sua primeira vez não foi o que ela esperava, com um "príncipe encantado". Já o ex-namorado relatou que ela já tinha tido relações sexuais antes dele, e que não a pressionou em nada.
Apresentar a mesma história de visões distintas é o diferencial dos filmes, uma escolha acertada para instigar a curiosidade do público que, ao terminar de assistir a um deles, se sente quase que obrigado a procurar o outro.
Abuso Sexual e Traições
Em dado momento do depoimento de Daniel Cravinhos, em "A Menina Que Matou os Pais", Manfred von Richthofen é acusado de ter abusado de Suzane desde os 13 anos, o que teria gerado um grande trauma na vida da jovem. Segundo é relatado pelo réu, o pai ficava bêbado e ia até quarto da garota.
No entanto, além de ter sido negado pela defesa de Suzane, nada em relação a isso é comentado durante o depoimento dela em "O Menino Que Matou Meus Pais".
Situação semelhante é relacionada a Manfred. Em "A Menina Que Matou os Pais", o patriarca da família von Richthofen é encontrado por Daniel e Suzanne saindo de um motel acompanhado de uma mulher que não é Marísia, dando a entender que ele teve um caso extraconjugal. Além disso, é levantada a possibilidade de a matriarca da família, que era psiquiatra, ter um caso com uma ex-paciente com quem fez uma viagem.
No entanto, já em "O Menino Que Matou Meus Pais", Daniel fica bravo com a namorada e acusa o pai de Suzanne de trair a mãe, além de sugerir um caso entre Marísia e uma amiga, mas nada é realmente confirmado ou visto.
Envolvimento de Cristian Cravinhos
O irmão mais velho de Daniel também é alvo de diferentes versões, uma vez que no depoimento de Suzanne, ele chega minimamente a flertar com ela, deixando a garota incomodada com a abordagem. Depois, Cristian teria apoiado o crime, ajudando Daniel a convencê-la de que o certo seria assassinar os próprios pais.
Em "A Menina Que Matou os Pais", Cristian não queria ter envolvimento com a morte dos von Richthofen, mas foi convencido pelo casal.
Dinheiro x Amor
Em resumo, as duas versões tentam convencer o júri - e no caso dos filmes, o espectador - de que a culpa é do outro, e não de quem está narrando os fatos. Tanto Daniel quanto Suzane alegam ter agido por amor, que eram inocentes e que foram coagidos pelos companheiros.
Para os dois, amor e dinheiro foram a causa e a desejada consequência de um crime que aparentava ser perfeito.
Reflexão
Para aqueles que consomem conteúdo sobre crimes reais e já estavam familiarizados com a trágica história da família von Richthofen, os longas não acrescentam muitas informações novas - justamente por se tratar de uma obra baseada em autos do processo que já estavam disponíveis. No entanto, os títulos propõem uma reflexão diferente aos espectadores: e se fosse comigo?
Em uma conversa informal que aconteceu antes das entrevistas para divulgação dos filmes, das quais Splash participou, um comentário feito por um jornalista chamou a atenção entre os demais presentes: "Tenho uma filha adolescente, preciso tratá-la bem". O pensamento não é exclusivo de apenas aquele pai preocupado, afinal eu mesma, repórter que assina este texto, me peguei refletindo sobre a cadeia de eventos mostrada nos filmes e como ela pode resultar em um crime hediondo como o que aconteceu.
De modo geral, tanto "A Menina Que Matou os Pais" quanto "O Menino Que Matou Meus Pais" não tentam mudar a opinião do espectador sobre o crime. Eles possibilitam uma nova visão ao público que, por meio de duas diferentes versões, pode conhecer qual foi o caminho percorrido por três pessoas comuns para se tornarem criminosos.
Assine Amazon Prime e assista a "A Menina Que Matou os Pais" e "O Menino Que Matou Meus Pais":
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