Topo

Ex-Twister dividiu cela com irmãos Cravinhos: 'Mandaram eu usar capacete'

Sander Mecca dividiu cela com Daniel e Cristian Cravinhos  - Instagram
Sander Mecca dividiu cela com Daniel e Cristian Cravinhos Imagem: Instagram

Fernanda Talarico

De Splash, em São Paulo

02/10/2021 04h00

Sucesso nos anos 2000, Sander Mecca ganhou o Brasil ao fazer parte da boyband Twister, famosa pelo hit "40 Graus". No entanto, com o término do grupo, em 2003, o cantor se viciou em drogas e, ao ser flagrado com substâncias ilícitas, foi condenado por tráfico de entorpecentes, aos 19 anos. Sua vida na cadeia rendeu um livro, "Inferno Amarelo", e além dos variados relatos sobre o período, um fato chamou bastante a atenção do público: Sander dividiu cela com Daniel e Cristian Cravinhos, condenados pelos assassinatos de Manfred e Marísia von Richthofen.

Em entrevista à Splash, o cantor contou que, assim que chegou ao Centro de Detenção Provisória 2 de Chácara Belém, onde cumpriu a pena, logo foi morar junto com Daniel, o ex-namorado de Suzane von Richthofen — também condenada pelo crime.

Quando eu fui para a cela dele, me disseram: 'Você vai morar com o Daniel Cravinhos, tem que descolar um capacete', e eu nem me liguei na piada. 'Os caras matam dormindo, na paulada', me explicaram. Eu dou risada agora, mas na hora, demorei muito para rir.

Mecca diz ter demorado para associar o novo colega de cela ao rumoroso caso. "Eu estava muito em choque, não reconheci de cara. Mas ele me recebeu muito bem, assim como os outros presos."

O espaço, projetado para acomodar apenas três pessoas, chegava a ter até 15 presidiários e tinha um cartaz na porta com o aviso: "Casa dos Artistas". Assim, algum desavisado já saberia que ali moravam as presenças "ilustres" do local.

Por causa da convivência pacífica, Sander Mecca acredita que foi possível construir uma amizade entre Daniel e ele. "Éramos obrigados a conviver bem. Nossas famílias se conheciam, em dia de visita, trocávamos comida. Quando chegava chocolate da família, a gente dividia."

No entanto, Daniel sentia falta do irmão mais velho, Cristian, que estava preso no Centro de Detenção Provisória 1 de Chácara Belém. "Eles trocavam cartas quando eu cheguei, e sabia que há um tempo o advogado tentava que ele fosse transferido para onde estávamos. Até que ele conseguiu e moramos quase dois anos juntos, e claro, ficamos brothers. Na cadeia, temos que respeitar e aceitar quem está ao nosso lado."

Os irmãos Cristian e Daniel Cravinhos de Paula e Silva e a estudante Suzane Louise von Richthofen, confessam a participação no assassinato dos pais de Suzane, Marísia e Manfred von Richthofen em 2002 - Luciana Cavalcanti/Folhapress - Luciana Cavalcanti/Folhapress
Os irmãos Cristian e Daniel Cravinhos de Paula e Silva e a estudante Suzane Louise von Richthofen, confessam a participação no assassinato dos pais de Suzane, Marísia e Manfred von Richthofen em 2002
Imagem: Luciana Cavalcanti/Folhapress

Em "Inferno Amarelo", Mecca conta que, por ser aeromodelista, Daniel era bastante habilidoso com trabalhos manuais e confeccionou três piercings. "Ele fez os alargadores para as minhas orelhas, um de vinte e outro de dez milímetros, e um espeto para o meu septo. Ficou muito bom. Eu até falei para ele que deveria comercializar", relata o livro.

À reportagem, o cantor contou que assistiu aos filmes recém-lançados e baseados nos autos do processo do crime von Richthofen. Para ele, o que foi retratado em "A Menina Que Matou os Pais" — longa que conta com a versão de Daniel Cravinhos — é exatamente o que amigo o contava sobre o crime na época em que dividiam cela.

Ela manipulou ele. Ela dizia que o pai a violentava, que ela chegava toda machucada. Falava que odiava os pais e queria a morte deles. Até que ele não aguentou. A Suzane disse para ele: 'ou você me ajuda, ou eu vou embora'. Ele a amava muito.

Mecca acredita que Daniel era obsessivo pela namorada e que a vontade de enriquecer não era a intenção primária. "Sempre foi porque ela odiava os pais e queria viver o amor."

Ele escrevia todos os dias para Suzane. Não sei se as cartas chegavam, mas o via escrevendo muito para ela.

Daniel Cravinhos, condenado a 39 anos e 6 meses pela morte dos sogros - Luiz Carlos Murauskas/Folhapress - Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
Daniel Cravinhos, condenado a 39 anos e 6 meses pela morte dos sogros
Imagem: Luiz Carlos Murauskas/Folhapress

No entanto, a paixão que Daniel tinha pela companheira não se estendia aos outros ou ao dia a dia do rapaz: Mecca o classifica como calculista e "um pouco frio". Opinião bastante diferente da que nutre por Cristian: "ele era emotivo, uma pessoa mais cálida, dava para conversar sobre muitas coisas e intimidades".

Para ele, era o irmão mais velho dos Cravinhos quem ainda sentia o impacto do crime que cometeram contra o casal Von Richthofen.

Eu o via acordando de madrugada, aos prantos. Ele sentava na pedra — porque a cama era de pedra — e falava que tinha pesadelos frequentes: ele via o Manfred sentado na cama, todo ensanguentado.

Cristian Cravinhos de Paula e Silva cumpriu pena na penitenciária de Tremembé (SP) - Luiz C. Murauskas/Folhapress - Luiz C. Murauskas/Folhapress
Cristian Cravinhos de Paula e Silva cumpriu pena na penitenciária de Tremembé (SP)
Imagem: Luiz C. Murauskas/Folhapress

O músico ficou preso até 2005, quando finalmente voltou à liberdade. Uma vez longe da cela que dividia com os irmãos Cravinhos, ele conta que tentou manter o contato e chegou a enviar algumas cartas a eles, mas a amizade não continuou. "Perdemos totalmente o contato. Não sei onde eles estão, como estão..."

Daniel progrediu ao regime aberto em 2018. Cristian também recebeu o benefício, mas regrediu quando recebeu uma sentença por corrupção.

Já Mecca tem lutado contra o vício em drogas — que ele revela ter se intensificado depois do período em que esteve preso. Em agosto deste ano, voltou à clínica de reabilitação em que já tinha sido internado em 2019, após passar por recaídas.

Hoje, aos 38 anos, vive da venda de "Inferno Amarelo" — livro que pode ser comprado diretamente com ele, em seu Instagram pessoal — e da Mecca Gourmet, projeto pessoal de venda de comidas.

Paralelo ao empreendimento culinário, Mecca está escrevendo um segundo livro sobre o período de reabilitação. "Quero mostrar para as pessoas que, pior que estar na cadeia, é ser dependente químico."