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Diretora da Globo vai transformar estupro sofrido em filme: 'Libertação'

Joana Jabace contará trauma sofrido em filme dirigido por ela mesma - Reprodução: Globoplay
Joana Jabace contará trauma sofrido em filme dirigido por ela mesma Imagem: Reprodução: Globoplay

Colaboração para o UOL, em Alagoas

11/10/2021 13h39

A diretora de TV Joana Jabace, de 40 anos, que atualmente é responsável pela direção artística de "Segunda Chamada", da Globo, vai transformar em filme o estupro sofrido em 2014.

Jabace, que é casada com o ator Bruno Mazzeo, com quem ela tem os filhos gêmeos Francisco e José, de 4 anos, foi violentada sexualmente em 2014, enquanto se exercitava em um trajeto que liga o Horto à Vista Chinesa, no Rio de Janeiro. O abuso sofrido pela diretora foi retratado em um livro, intitulado "Vista Chinesa", escrito por sua amiga Tatiana Salem Levy, e agora virará um filme.

Em entrevista ao Globo, Joana Jabace, que assumirá a direção do longa, explicou que contar sua experiência traumática a partir de uma adaptação cinematográfica é "um movimento de libertação" e "uma mensagem que mando para mim mesma de que a vida vence".

"Quando o trauma é só um fantasma solitário, ele tem um determinado tamanho. Ao transformar esse fantasma em algo concreto, essa atitude, de alguma maneira, traz força. Sofri esse trauma e vou transformá-lo em arte. Por mais difícil que seja, estou vencendo, é uma pulsão de vida. Vivo despedaçada, mas vivo. Essa é também uma história de violência ancestral contra a mulher", declarou.

Segundo a diretora, quando o livro "Vista Chinesa" foi publicado, ela recebeu diversas mensagens de pessoas destacando sua coragem por falar sobre o assunto. No entanto, passou a se questionar sobre o porquê de ser "corajosa" por denunciar a violência sofrida e afirma que "enquanto a gente não falar sobre esse assunto, ele continuará subterrâneo".

Na entrevista, Joana Jabace destacou que, aos poucos, ela compreendeu que "nunca conseguiria esquecer" o estupro e, ao perceber isso, essa foi sua "maior dor", pois teve a partir de então a certeza de que jamais seria a mesma pessoa.

"Mudou tudo, tanto em relação à vida como em relação à morte [...] A arte, o livro e, agora, o filme, me ajudam a romper esse tabu, e isso me dá força. É uma questão de sororidade. Recebi inúmeras mensagens de mulheres que passaram pelo mesmo. Quero mostrar que dá para seguir adiante", completou, ressaltando que dirigir o filme autobiográfico "será mais um movimento de libertação" ao pegar sua "maior força", que é o trabalho, e colocar em seu "maior trauma", que foi o estupro.

"Quero fazer um filme que tenha a ver com isso, que transmita a mensagem de que a vida vence. Não sou a Joana de antes, mas estou aqui", concluiu.