Piada transfóbica em stand-up cria polêmica e dor de cabeça para a Netflix
O comediante Dave Chappelle adora provocar. Ele se diverte fazendo piadas que irritam e que dizem "verdades desconfortáveis". Mas seu novo especial para a Netflix, "Dave Chappelle: Encerramento", gerou uma controvérsia que está indo mais longe do que ele poderia imaginar.
Entenda tudo sobre a confusão envolvendo o humorista.
O que ele disse?
O show desagradou a comunidade LGBTQIA+, porque o comediante se identifica como "time TERF" (uma sigla para o feminismo radical que exclui pessoas trans), defende os comentários de J.K. Rowling tidos como transfóbicos e afirma:
Gênero é um fato. Todo ser humano nesta sala, todo ser humano na Terra, passou pelas pernas de uma mulher para estar aqui.
Além disso, Chappelle também defendeu o rapper DaBaby das acusações de homofobia: "Neste país, você pode atirar e matar [um homem], mas não pode ferir os sentimentos de uma pessoa gay."
A controvérsia
O lançamento do especial gerou reações imediatas. A produtora Jaclyn Moore, da série "Dear White People", escreveu em suas redes sociais que não voltaria a trabalhar com a Netflix enquanto a plataforma "continuar lucrando de conteúdos abertamente e perigosamente transfóbicos".
Já a engenheira de software Terra Field, que trabalha na Netflix, escreveu uma thread eu seu Twitter que viralizou. Ela explica por que as falas de Chappelle são perigosas, sobretudo para pessoas não-brancas.
"Nós contestamos o quanto esses conteúdos ferem a comunidade trans, e especialmente as pessoas negras da comunidade trans. Promover ideologia TERF não é um ato neutro."
Como a Netflix reagiu?
Na última segunda-feira (11), a revista Variety publicou um comunicado interno emitido pelo co-CEO, Ted Sarandos, sobre o lançamento de "The Closer". O executivo escreve:
Nunca é bom quando as pessoas são feridas, especialmente nossos colegas (...) Alguns de nossos talentos podem se unir a outras pessoas para pedir a remoção do show nos próximos dias. Não faremos isso.
Ele continuou:
"Chappelle é um dos comediantes mais populares atualmente, e temos um acordo antigo com ele. Seu último especial também gerou controvérsia e é o nosso stand-up mais assistido e premiado até hoje (...) Muitos de vocês nos perguntaram qual é o limite do ódio. Não permitimos títulos que incitem ódio ou violência na Netflix, e não acreditamos que 'Encerramento' faça isso."
Funcionárias suspensas
A treta esquentou quando, na mesma segunda-feira, três funcionárias da Netflix foram suspensas por participarem de uma reunião para a qual não haviam sido convidadas. Entre elas, estava Terra Field, a autora da thread viralizada.
A reunião, chamada QBR, é fechada para 500 funcionários dos cargos mais altos da companhia. A Netflix explicou que a suspensão não foi por causa dos comentários nas redes sociais: "Nossos funcionários são incentivados a discordar e nós apoiamos o direito deles de fazê-lo", disse um porta-voz, para a Variety.
Mesmo assim, o estrago estava feito. O instituto GLAAD, aliança de apoio a pessoas LGBTQIA+ e representatividade, chegou a responder:
A política da Netflix não permite que conteúdos que incitem ódio ou violência estejam na plataforma, mas todos sabemos que conteúdos anti-LGBTQ fazem exatamente isso. A Netflix abriga muitas histórias que rompem barreiras, e agora é a hora dos executivos ouvirem seus funcionários e líderes da indústria.
O Retorno
Na terça-feira (12) à noite, Terra Field anunciou que foi reintegrada ao seu cargo e que participou da reunião porque o link foi compartilhado por um dos seus diretores.[Eles] entenderam que não havia má intenção na minha participação na QBR. Vou tirar uns dias para acalmar e tentar entender onde estou. No mínimo, me sinto vingada.
Mesmo assim, os problemas não acabaram. Na quarta-feira (13), a Variety divulgou outro comunicado de Sarandos, que continuou defendendo Chappelle.
"Com 'Encerramento', as preocupações não são sobre conteúdos serem ofensivos para algumas pessoas, mas poderem gerar perigos no mundo real, com grupos que já são marginalizados. Alguns discordam, mas acreditamos que o conteúdo em telas não se traduz em danos no mundo real."
Nas redes sociais, as opiniões sobre o especial divergem
Enquanto assinantes e até membros da indústria questionam o comunicado escrito por Sarandos —alguns convocando até mesmo um boicote à Netflix, outros simplesmente pedem que as pessoas assistam ao stand-up até o final.
Novamente, o GLAAD emitiu uma declaração:
O GLAAD foi fundado há 36 anos porque a representação na mídia tem consequências para as pessoas LGBTQ. Filme e TV são recheados com estereótipos e informações erradas sobre nós, o que gera danos na vida real, especialmente para pessoas trans e não brancas.
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