Trigueiro: 'Apresentar o JN em tempos de fake news tem sabor especial'
André Trigueiro eventualmente substitui William Bonner no comando do "Jornal Nacional", seja para cobertura de folgas ou férias do apresentador. O jornalista, de 55 anos, já viveu mais da metade da vida no Grupo Globo, são 28 anos na emissora. Entre seus diversos projetos e coberturas jornalísticas, participou do pontapé inicial da GloboNews, que completa hoje 25 anos no ar. Trigueiro foi o primeiro apresentador do "Jornal das Dez", local em que ficou por 16 anos.
"25 anos não são 25 dias, né? É uma emoção especial saber que estive quase metade da minha vida envolvido no projeto da GloboNews, que eu vi nascer e pude formatar", conta o jornalista, que bateu um papo com Splash.
Ao relembrar coberturas marcantes, Trigueiro destaca o atentado de 11 de setembro, nos Estados Unidos (2001), o anúncio da primeira eleição de Luis Inácio Lula da Silva (2002), o pentacampeonato da seleção brasileira de futebol (2002) e, em especial, a morte da princesa Diana (1997).
Era "plantão" do jornalista, que foi tomado pela adrenalina da notícia:
Quando a Diana morreu era um plantão de sábado para domingo. Dei a primeira nota por volta das 21h e fiquei no ar até 2h. Não tinha produção o tempo inteiro da cobertura. A gente tinha que puxar pela memória, realizar entrevistas e chamar os correspondentes. Era um momento que eu sabia que estava comunicando um assunto de grande interesse, participando de algo que seria sempre lembrado. Isso é diferente e excita nossos sentidos.
Para André Trigueiro, quando uma cobertura marcante acontece, mesmo de folga, o jornalista precisa estar antenado em como pode colaborar:
A gente não deixa de vestir a camisa do jornalismo e ter uma noção, mesmo que mínima, do que está acontecendo. De férias ou no fim de semana. Faz parte do pacote. Não seria diferente trabalhando na GloboNews, o primeiro canal com 24 horas de notícias falando em português no Brasil.
Com tanta bagagem profissional, prêmios, experiência no comando de outros jornalísticos do Grupo Globo e editor-chefe do programa semanal "Cidades e Soluções" (GloboNews), André Trigueiro admite que apresentar o "Jornal Nacional" é o que mais tem um gostinho diferente na profissão:
É a grande escola do telejornalismo brasileiro, o mais influente. Cresci vendo o 'Jornal Nacional' e, obviamente, ter a oportunidade de apresentá-lo nesses plantões é um privilégio, uma honra. Apresentar o 'JN' em tempos tão importantes da liberdade e democracia, em tempos de fake news, tem sim um sabor especial.
'As fake news ameaçam a democracia'
Ao citar as "fake news", algo tão falado na imprensa e discutido amplamente, inclusive no Prêmio Nobel da Paz 2021 — que premiou recentemente a jornalista filipina Maria Ressa e o jornalista russo Dmitry Muratov por seus esforços na liberdade de expressão — André Trigueiro aponta que é o momento do jornalismo se firmar cada vez mais na busca da boa informação:
Ao escolher os vencedores, o comitê Nobel já sinalizou com muita clareza que esse é o momento dos jornalistas e empresas de comunicação checarem cada vez mais as informações. A indústria das fake news ameaça a paz, integridade e democracia dos países. É algo desafiador para o jornalismo, e precisamos ser essa curadoria da notícia, servindo de referência quando alguém quiser saber de fato se algo aconteceu.
'O Brasil já passou por censura maiores'
Questionado sobre a situação da imprensa atualmente no Brasil, com conflitos diretos com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e seus apoiadores, além de ataques do político ao Grupo Globo, André Trigueiro diz que não dá para considerar que o jornalismo vive seu pior momento, e explica:
O Brasil já passou por momentos piores de censura nas redações, de impossibilidade de publicar algo. Já tivemos jornalistas presos e torturados. Temos que prestar atenção na história do país e lembrar que, num passado não muito distante, a perseguição a jornalistas se deu de uma forma muito mais truculenta.
Para o jornalista da Globo, boa parte dos brasileiros não concorda com a "postura tóxica" que alguns políticos e apoiadores se posicionam sobre a imprensa:
Todo regime político que não promove diversidade, pluralidade e que não pratica a política mais nobre, que é a arte de promover diálogos, tem uma antipatia frontal ao jornalismo. Hoje, no entanto, a imprensa do Brasil é livre, e não podemos deixar de reafirmar a nossa condição. A maior parte dos brasileiros não endossa nenhuma postura negativa contra os meios de comunicação, muito pelo contrário.
O sonho de entrevista:
Um dos principais nomes no jornalismo sobre sustentabilidade no Brasil, com autoria em diversos livros sobre o assunto, André Trigueiro é rápido na resposta quando questionado qual seria seu "sonho de entrevista". Ele cita Greta Thumberg, jovem ativista ambiental sueca:
Ela é a bola da vez. Uma menina que mobilizou multidões, conquistou relevância no cenário internacional, e protagonizou uma indignação justa e legítima contra os tomadores de decisão que teimosamente não conseguem realizar escolhas a favor do planeta na maior crise, o aquecimento global. Uma liderança feminina, adolescente, que arrebatou uma garotada que não conseguia se expressar. Ela descobriu o caminho.
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