Hans Donner diz que estava em 'jaula de ouro' e troca Globo por tapetes
Hans Donner, 73, deixou a TV Globo há quatro meses após 40 anos na emissora. Como aconteceu quando chegou ao Brasil, em 1974, o designer alemão que cresceu na Áustria descobriu novos sonhos profissionais. Agora, acaba de lançar uma linha de tapetes e papéis de parede com o seu nome.
Até pouco tempo atrás, Hans mantinha contrato com a emissora que ele ajudou a transformar em realidade. Além de desenvolver vinhetas e aberturas de programas, o designer foi quem criou a cara da Globo (sim, o famoso logo do plim plim), que nasceu em um pedaço de guardanapo durante um voo para a Alemanha. O primeiro rascunho é guardado até hoje.
A despeito de uma vida de dedicação que se confunde com a própria história do maior canal de TV do país, o profissional já não atuava mais tão ativamente na criação de projetos da Globo nos últimos anos. Ele estava na "geladeira", como se diz nos bastidores da televisão. Mas uma geladeira da qual o designer não tem do que reclamar.
Eles me deixaram lá [na Globo] por respeito. Não tinha mais a minha assinatura real. Não tive a chance de entrar no 'Jornal Nacional' e dizer muito obrigado, que estava em uma jaula maravilhosa de ouro e criando coisas novas. Sou muito grato. A TV Globo me deu uma oportunidade que nenhum designer gráfico do mundo todo teve até hoje, atingindo milhões de pessoas por dia. É inimaginável.
Por outro lado, havia a cobrança dos telespectadores que acompanhavam as novidades da emissora: "Encontrei alguém em São Paulo em uma festa e me perguntaram, 'essa abertura da novela é sua?' Eu falei, não!"
"A minha equipe desmanchou, o Boni não estava mais lá. O padrão Globo foi muito elevado, bateu no teto. E o mundo mudou. Provavelmente não faz mais sentido gastar uma fortuna para fazer uma abertura do 'Fantástico'".
Por dentro da "jaula de ouro"
Hans trabalhava em uma sala própria na emissora. Já não era mais responsável pelas novas criações artísticas da casa. Se considerava a situação confortável? Ele confirma: "Sim, pois eu sabia que ajudei a Globo a virar o que virou. Não tive remorso. Saí em paz, sem briga".
O designer foi casado por 27 anos com Valéria Valenssa, a mais famosa Globeleza e que ele mesmo escolheu com Boni para o posto de maior estrela do Carnaval da emissora. A demissão da atriz e modelo foi recebida com choque, tanto da parte dela quanto dele. Hans diz que Valéria lhe cobrou ao ser demitida.
A Globo 'achatou'?
É com certo estranhamento que Hans acompanha a evolução do "filhote" — é assim que o "mago das vinhetas" define a emissora que ajudou a cuidar. O que sente ao assistir a Globo somente como telespectador? Como é ver o logo cujos primeiros traços ele quem desenhou?
É estranho. De coração. Sabe por quê? Cuidei da Globo com muito carinho. A Globo me deu asas para voar. O Boni me falou, só quero o melhor do mundo. Nos últimos anos, a Globo decidiu mudar o estilo. Tudo muda. É uma outra direção, outras cabeças? Eles decidiram pegar a marca da Globo e achatar. Agora está voltando, aquela marca branca. Perceberam que a marca é tão bela que não vale a pena achatar.
De mago das vinhetas para "mago dos tapetes"
Hans Donner é reconhecido pela inovação tecnológica, qualidade que procurou imprimir no novo desafio profissional: tapetes com estampas em pixels — os elementos idênticos que dão forma a qualquer imagem, como uma planta, por exemplo. Os pixels podem ser identificados mais facilmente de perto. Ao se distanciar, o observador fica diante da estampa como um todo.
"Ao olhar para as obras, as pessoas poderão refletir sobre a vida, o design e o movimento, com a certeza de que tudo tem o seu tempo", afirma Hans Donner.
A coleção com seis estampas assinada pelo "mago do designer gráfico" é produzida pela Tapetah, fabricante de tapetes de alto padrão. As peças de cores diversas, que vão de um degradê de tons claros a mais escuros.
Quando fiz a marca da Globo, pensei: Globo é uma bola. A simplicidade é tudo. E quando pensei em tempo, perguntei, por que o homem inventou números? Se eu olho pela janela do avião, vejo o mundo fazendo uma curva. Em certa hora, há uma passagem entre o claro e o escuro. Ele não é duro. Isso que faz a poesia. É a sensação de fluidez.
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