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Uma mulher antifeminista é uma aberração, afirma Zélia Duncan

Colaboração para Splash, em Alagoas

19/10/2021 12h12

A cantora Zélia Duncan, de 56 anos, declarou, durante participação no UOL Entrevista hoje, ter a percepção de que a internet contribuiu para a construção da ignorância na sociedade ao passar a impressão de conceder aos usuários das redes sociais um "palanque gigantesco" que, diz ela, não é tão imenso quanto alguns possam pressupor, haja vista que uma pessoa pode ser bloqueada a qualquer momento, além do fato de muitos perfis não possuírem seguidores, tampouco façam publicações, e existam apenas com a finalidade de semear ataques.

Duncan falou sobre o assunto ao repercutir os ataques sofridos nas redes sociais. Segundo contou, ela possui mais pessoas bloqueadas do que seguidores propriamente ditos e, às vezes, quando vai olhar o perfil de alguma pessoa que a xingou, se depara com perfis vazios, que possuem fotos de Jesus Cristo, declarações em defesa do armamentismo ou mulheres que pregam contra o feminismo, fato que, para ela, é uma "aberração".

Para a artista, é preocupante uma mulher cuja primeira palavra para definir a si mesma seja "esposa", porque o patriarcado está tão enraizado "dentro dela" que ela não percebe "que só tem voz para falar na internet devido à luta de mulheres que vieram antes", mulheres que fizeram parte de grupos feministas.

"[Quando vou olhar os perfis dessas pessoas que me ofendem] não têm publicações nem seguidores, possui uma foto de Jesus Cristo, o que é muito lamentável, escrito 'cristão, armamentista, conservador'. Aí você vai num perfil feminino, que para mim dói ainda mais, aí está escrito, 'esposa', uma mulher que a primeira palavra é esposa, já me preocupa, já me angustia... [está escrito também] cristã, armamentista, antifeminista', uma mulher antifeminista é uma aberração, é como um negro racista, é uma coisa que o patriarcado está tão dentro dela que ela não sabe", afirmou.

No UOL Entrevista, Zélia Duncan também revelou sentir certa "mágoa" da internet devido às fake news que atentam constantemente contra a democracia, sobretudo no Brasil. Por esse motivo, a famosa diz nutrir uma relação de "amor e ódio" com as redes sociais.

"A gente está vendo a democracia ser ameaçada e tem muito a ver com as fake news. A gente achava que a internet era a oitava maravilha... E as pessoas têm orgulho [de expor] a ignorância [nas redes]. A gente está tendo muito trabalho, [por isso] a internet é para mim essa dubiedade", contou.

A cantora destaca que passou a fazer uso de plataformas como Twitter e Instagram depois da "maldita" campanha eleitoral de 2018, em que venceu a "ignorância e a agressão", representadas para a famosa na personificação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A partir de então, pontua, passou a se questionar "como artista e cidadã" como ela contribuiu para que esse cenário "ficasse tão ruim, porque seja com nosso silêncio, omissão, está ajudando".

Zélia Duncan ressaltou a importância dos artistas se posicionarem politicamente e darem "um sinal para as pessoas que gostam de você, acreditam no que você faz", pois isso é algo importante, não apenas como artista, mas também como cidadão.

Nesse processo de imersão na internet e de se tornar uma voz politicamente ativa, a artista revelou ter, aos poucos, assumido um papel e não se dá conta "que estava virando uma militante". Entretanto, salienta, não tem problema algum com isso e, pelo contrário, assume esse seu novo lado com "orgulho": "Quero ser militante, ativista, uma pessoa do meu tempo", afirmou.

Novo álbum e a arte como lugar para pensar

Com 40 anos de carreira e uma das principais vozes da música brasileira, Zélia Duncan retornará aos palcos na próxima sexta-feira (21), para uma apresentação no Cine Theatro Brasil Vallourec, em Belo Horizonte (MG), com seu novo álbum de trabalho, intitulado "Pelespírito", produzido ao lado do artista pernambucano Juliano Holanda, durante a pandemia de coronavírus.

Ao UOL Entrevista, a cantora relatou que a ideia do projeto surgiu a partir de conversas entre eles, em que o artista, que ela faz questão de destacar o lado poeta dele, começou a "juntar letras dos diálogos" feitos entre os dois, e "isso foi salvando a gente" durante o confinamento.

Por fim, Zélia Duncan também falou sobre a importância da arte como uma ferramenta para fazer pensar, se divertir, consolar e ajudar a atravessar os momentos "feios", de dificuldades. Por isso, compor um novo álbum foi ao mesmo tempo um "consolo" para ela e para aqueles que apreciam seu trabalho, "porque elas se veem nele".

"Arte é um lugar para a gente pensar, se divertir, se consolar, se ver. A arte dá um espelho para a gente, se soubermos aproveitar, veremos o que é feio, mas através disso, focar no mais bonito, a arte rastreia a beleza, não para nos iludir, mas levar para um lugar melhor, passando também pelo que é difícil. É necessário encarar o feio que a gente está vivendo, pois não mostrar é também ludibriar um pouco as pessoas, [e] o artista tem a função de mostrar de tudo um pouco, temos a obrigação de saber que tudo que a gente fizer é político", completou.