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'Sintonia': Com Alok e Kevinho, 2º ano trata representatividade, diz elenco

Fernanda Talarico

De Splash, em São Paulo

27/10/2021 04h00

'Sintonia' está de volta para a segunda temporada e, assim como no primeiro ano da série, acompanhamos de perto "os corres" de Doni, Ritinha e Nando, moradores da Vila Áurea, periferia de São Paulo. Interpretados por Jottapê, Bruna Mascarenhas e Christian Malheiros, os protagonistas agora vivem suas realidades mais intensamente.

Para Mascarenhas, que teve apenas duas semanas para criar Ritinha para o primeiro ano, a segunda temporada abriu a possibilidade de desenvolver melhor a personagem que, ao final dos primeiros episódios, se torna evangélica praticante. "Agora eu tive dois meses para me preparar, e nesse meio tempo da primeira para a segunda, meu irmão se converteu", contou em entrevista à Splash a atriz que, na vida real, não segue a religião.

Foi incrível poder ver um menino da mesma idade da Rita falando de Jesus com um carinho, com emoção e muito amor. Poder ver o amor dele falando de Jesus foi uma grande inspiração para mim. Eu estudei a Bíblia todas as semanas durante o processo das gravações, me ajudou muito. A Rita nunca leu a Bíblia em cena, mas para mim, como atriz, fez muita diferença nesse processo.

A Igreja faz parte da vida de Rita na segunda temporada de 'Sintonia' - Divulgação/ Netflix - Divulgação/ Netflix
A Igreja faz parte da vida de Rita na segunda temporada de 'Sintonia'
Imagem: Divulgação/ Netflix

Bruna Mascarenhas entende que a religião cumpre um papel bastante importante na sociedade e a considera um "lugar de acolhimento não só para a Rita, mas como muitas pessoas no Brasil todo que estão precisando, sem família ou sem trabalho, um pouco perdidas. A Igreja é um lugar que substitui o Estado, que às vezes não dá tanta assistência social".

Para mim, como atriz, como mulher, como ser humano, foi importante tirar um pouco dos preconceitos que, querendo ou não, a Igreja Evangélica acaba sofrendo na sociedade, por também estar alinhada à política. Para mim, também foi importante ter estudado mais a fundo, criar simpatia, e pode trazer como a fé move as pessoas. Acho que esse é o grande lance.

Por outro lado Jottapê, o Doni, "tirou de letra" o segundo ano pois, assim como seu personagem, ele é um MC de sucesso. Assim, foi fácil para o ator entender a realidade vivida pelo jovem funkeiro na série. "Eu também tenho uma carreira de cantor, e a gente está sempre em busca do sonho e acaba abrindo mão de muita coisa", conta o ator em alusão à ausência de Doni que é sentida pela mãe e pelos amigos ao longo da temporada.

O trio principal de 'Sintonia' - Divulgação/ Netflix - Divulgação/ Netflix
O trio principal de 'Sintonia'
Imagem: Divulgação/ Netflix

Por exemplo: quando o cara está no auge, a coisa que ele menos faz é ver a família, os amigos... [...] Quero mostrar essa realidade que é o que ele [Doni] tanto pediu e abriu mão de várias coisas, e mostrar essa realidade de quem trabalha como artista.

Para o cantor, Doni também representa o sonho daqueles que, assim como ele, desejam ser famosos e chegar ao estrelado. "Recebo muitas mensagens, tanto nas redes sociais, quanto quando eu estava fazendo shows, com os fãs me encontrando e falando: 'Eu tinha desistido da minha carreira, mas graças a você [...] me inspirei e voltei a cantar."

Independente de tudo, do resultado que a série deu, tanto de monetização, quanto de fama, o que mais importa é isso, ver essa molecadinha vendo outra possibilidade.

E há outro fato que deve brilhar ainda mais os olhos dos jovens que sonham em ser MC: a segunda temporada conta com a presença de Alok e Kevinho, dois grandes nomes da música. "Tanto para mim, quanto para o personagem, foi muito bom", relata Jottapê. Em "Sintonia", Doni grava "Taca No Chão" com os dois músicos.

"Eles são meus amigos, tanto o Alok quanto o Kevinho, então foi muito interessante tê-los nem projeto comigo, para eles conhecerem a realidade do cinema, o que foi uma experiência interessante para eles", contou Jottapê.

Fiquei muito feliz em escrever essa música, e acho que vai ser hit! Foi bem bacana e é uma das partes que vai marcar bem nessa temporada.

Já Christian Malheiros, ao interpretar Nando — que agora faz parte de uma facção criminosa e é responsável por todo um esquema de venda de drogas — entende que há uma responsabilidade diferente no personagem. "No fundo, estamos falando de representatividade, tanto do Nando quanto da série."

O Nando é o fruto de um abismo social. Quando a gente fala dele, fala também de várias questões de oportunidades, de como a periferia é jogada às margens da sociedade. E 'Sintonia' vem como um farol para iluminar esses lugares que também são Brasil; é uma realidade que existe aqui e não podemos negar.

Nando enfrenta novos desafios no segundo ano da série - Divulgação/ Netflix - Divulgação/ Netflix
Nando enfrenta novos desafios no segundo ano da série
Imagem: Divulgação/ Netflix

A segunda temporada da série chega em um ótimo momento para a carreira de Malheiros que, além de estrelar a série, também está no filme "7 Prisioneiros", produção da Netflix com Rodrigo Santoro no elenco.

São dois trabalhos muito fortes, que falam de questões sociais. [...] É meu dever estar aqui e poder falar, explanar, para que todas as pessoas possam ver, possam assistir, porque realmente são trabalhos que foram feitos com muito carinho e pensando muito em cada situação, até como denúncia. A gente tem o '7 Prisioneiros', que fala de trabalho análogo à escravidão, 'Sintonia', que fala como a periferia se organiza.

Para ele, o que realmente importa é representar o público e contar narrativas de verdade com a sua atuação. "O maior presente, para mim, é alguém dizer que se reconheceu no personagem ou na história A gente faz para as pessoas."