Briga com pomba gira e senha espiritual: sobrinha de Dercy lança memórias
Lucy Freitas, sobrinha-neta de Dercy Gonçalves, decidiu revelar memórias que poucos sabem sobre a atriz e escreveu o livro "Minha Tia Dercy", em pré-venda até amanhã. A obra ganha forma 13 anos após a morte da humorista e 27 anos depois da biografia "Dercy: de cabo a rabo", escrita por Maria Adelaide Amaral.
Neta de Bita, irmã mais presente na vida de Dercy Gonçalves, Lucy morou por 23 anos na casa da tia-avó. Em conversa com Splash, ela adiantou algumas histórias inusitadas da atriz, que não fazia cerimônia para falar palavrões.
Amava muito minha tia e tínhamos gênios parecidos, por isso de vez em quando 'ficávamos de mal'. Quando a Maria Adelaide escreveu a biografia, estávamos brigadas, por bobeira, e eu não pude colaborar. Presenciei muitas histórias e pensei que poderia existir uma segunda edição do livro sobre Dercy Gonçalves. Além disso, titia viveu 14 anos após a primeira biografia ser publicada, tinha muita história nova para contar.
Lucy Freitas auxiliou Maria Adelaide Amaral quando "Dercy: de cabo a rabo" se tornou minissérie na TV Globo com o nome "Dercy de Verdade" (2012), protagonizada por Heloísa Périssé e Fafy Siqueira. A sobrinha de Dercy Gonçalves conta que, no livro de sua autoria, as novas histórias ganham um tom mais de comédia, mas que também vão emocionar os fãs da eterna atriz.
Além do laço familiar, Lucy e Dercy trabalharam juntas por três décadas no teatro e televisão. A autora de "Minha Tia Dercy" lembra da relação de "fã" e "ídola":
Começo este livro de memórias a partir da primeira visão que lembro da minha tia. Foi no Teatro Recreio, no Rio, em 1954. Tinha 3 anos e me recordo dela de vestido longo, toda bonita, dançando. Ela me viu na coxia e piscou para mim. Naquele momento vi uma fada e descobri aquela mulher como minha tia. Virei fã e a idolatrei sempre. Titia era um ser encantado para mim.
A troca de palavrões com uma pomba gira:
A sobrinha-neta de Dercy Gonçalves também conta em detalhes no livro quando a tia ficou em maus lençóis por seu jeito desbocado. Acostumada a falar muitos palavrões, a atriz comprou briga em um centro de umbanda no Rio e discutiu com uma pomba gira:
Normalmente, os palavrões da Dercy não a colocavam em situações complicadas. Já estavam todos acostumados. Mas uma vez fomos visitar um centro de umbanda e percebi que uma das médiuns olhava minha tia com desdenho. Era uma festa de exus aquele dia, e quando a médium recebeu a pomba gira falou para Dercy: 'Não gosto de você'. Ela respondeu: 'Dane-se, também não te conheço e não gosto de você'. Elas trocaram algumas palavras até que a pomba gira a ameaçou: "Não brinque que eu posso quebrar a sua perna". Minha tia respondeu: 'E eu posso te mandar tomar no?'.
Dercy Gonçalves já contou em entrevistas que era mãe de santo, e em uma participação no programa "Jô Onze Meia", no SBT, revelou sobre a briga com a pomba gira. Segundo Lucy, a tia não deu muitos detalhes sobre a desavença, por isso ela resolveu abordar no livro.
A 'senha espiritual':
Por falar em espiritualidade, Lucy lembra que Dercy Gonçalves combinou uma 'senha espiritual' com ela. A atriz, ainda em vida, tinha receio que após a morte charlatões mentissem que estavam "incorporando Dercy" ou que ela teria mandado alguma carta para a família. Por isso, pediu que a sobrinha guardasse uma frase e só acreditasse se a "senha" fosse logo revelada.
Até hoje, Lucy não recebeu nenhuma pessoa com a tal senha. A sobrinha de Dercy, no entanto, também não quer briga com quem costuma dizer que "conversa" com a tia:
Já recebi cartas que logo de cara percebi que não eram da minha tia. Mas nunca contestei. Se falarem de Dercy, já está valendo. É a imortalidade dela que conta. Quando falam que estão 'incorporando' a minha tia, eu digo: 'nossa, que bom!'. Mas a senha mesmo, nunca falaram.
Crises de pânico:
Dercy Gonçalves morreu no dia 19 de julho de 2008, aos 101 anos, após uma complicação decorrente de uma pneumonia. Lucy conta no livro que por muitos anos não acreditou no motivo da morte da tia e imaginava que uma "mulher forte nunca morreria assim".
Por isso, no livro, ela conta uma "teoria" que justificaria o verdadeiro motivo da morte de Dercy. Segundo Lucy, é algo sem prova nenhuma, apenas um desabafo com os leitores:
Minha tia dava alguns sinais que me levavam a crer que ela não conseguia ficar sozinha. Por isso imagino que ela tinha crises de pânico e que, ao ficar internada com pneumonia, pode ter morrido por isso. Por pavor ao se ver sozinha. Na minha cabeça ela era muito forte, não morreu de pneumonia, e sim de pânico. Falo isso, é claro, por que eu acho, sem comprovação alguma.
Influência de Dercy:
Lucy define Dercy Gonçalves como uma influenciadora da sua época, e entre suas memórias, recorda no livro de quando a atriz conseguiu acabar com o estoque de água oxigenada nas farmácias do Rio de Janeiro.
Dercy era tão influente e dava um ibope danado. Uma vez ela falou na TV que beber água oxigenada, misturada com água comum, todos os dias, em jejum, faz bem para a saúde. Na segunda-feira depois disso, você podia procurar em qualquer farmácia do Rio que não encontrava água oxigenada 10 volumes. Acabou o estoque. A capacidade de convencimento dela era imensa.
"Minha Tia Dercy", da Editora Agora É, está em pré-venda no Catarse até hoje, 28 de outubro. Segundo a autora, ele será lançado no início do próximo ano.
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