'Artivista', Jaider Esbell unia arte e militância no movimento indígena
O artista plástico Jaider Esbell foi encontrado morto ontem em seu apartamento em São Paulo. Aos 41 anos, o roraimense era um dos artistas indígenas macuxis mais renomados do país.
Ele estava em exposição com a mostra "Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea" no MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo), além de ter trabalhos expostos na 34ª Bienal de São Paulo, que teve início em setembro. Ele também era curador do evento.
Outra arte de Esbell que está em destaque é a obra "Entidades", alocada no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. As duas serpentes flutuantes de 10 metros de altura estão instaladas próximo ao lado.
A obra carrega a simbologia do povo Makuxi. A "Cobra Grande" é o símbolo da fertilidade e da fartura, que trabalha incessantemente para proteger, alertar e manter vivos os povos originários.
Em outubro do ano passado, a arte "Entidades" estava exposta no festival Cura, no Viaduto de Santa Tereza, em Belo Horizonte. Fundamentalistas religiosos realizaram uma série de ataques às cobras nas redes sociais, ameaçando até de destruição.
Artivista
A Ecoa, em setembro, Esbell pediu para não ser chamado de "artista plástico" e sim de "artivista", um termo que une arte e a militância no movimento indígena.
"Nunca fiz curso de arte, nem estou afim de fazer. Trabalho muito nesse campo do artivismo, na ideia de levar o movimento indígena de raiz, que luta desde o primeiro índio que flechou o navio de Cabral. É uma luta contínua por identidade e respeito. A gente sempre fez arte e não precisava do europeu para entender o sentido, a função dela. Arte pra nós é fundamental, é origem. Índio e arte nascem juntos. Não com esse nome, mas com todas as funções que a ideia de arte tem. Jaider Esbell, artista macuxi
Nascido em 1979 em Normandia, no estado de Roraima, onde hoje se localiza a Terra Indígena Raposa-Serra do Sol, ele teve sua sensibilidade artística "ativada" ainda na infância pelo avô, que lhe narrava fragmentos da cosmologia macuxi, como a história de Makunaimã.
Foi a história que deu origem ao projeto que o fez conquistar um incentivo público para produzir arte pela primeira vez, em 2010. Premiado com a Bolsa Funarte de Criação Literária, escreveu "Terreiro de Makunaima - mitos, lendas e estórias em vivências", lançado em 2012. Na mesma época, realizou de maneira independente a primeira exposição Normandia, sua cidade natal.
Nos anos seguintes, realizou a itinerância da coleção de desenhos "It was Amazon/Era uma vez Amazônia", com a qual viajou para várias partes do país e em que denuncia práticas como desmatamento, garimpo e exploração sexual de jovens e crianças indígenas.
Esbell também passou uma temporada de oito meses nos Estados Unidos em 2013, expondo e dando aulas. Ao retornar, iniciou em Boa Vista o Encontro de Todos os Povos, que reuniu a arte tradicional e contemporânea dos povos indígenas da região anualmente, por 3 anos.
Foi a partir das obras comissionadas e coletadas para os encontros que o artista criou a Galeria Jaider Esbell de Arte indígena Contemporânea, espaço independente em sua casa em Boa Vista, voltado a agregar e difundir o trabalho de artistas indígenas.
Formado em Geografia na Universidade Federal de Roraima, Esbell foi durante anos funcionário da Eletronorte, estatal do setor elétrico. Somente em 2016 pôde se desligar da empresa para se dedicar integralmente à carreira de artista.
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