Quem foi Carlos Marighella, guerrilheiro tema do filme de Wagner Moura?
Primeiro trabalho de Wagner Moura como diretor, "Marighella" chega aos cinemas brasileiros hoje, 52 anos após a morte do guerrilheiro Carlos Marighella pelas mãos do Estado.
Rodado em 2017, o filme passou por uma série de imbróglios com a Ancine, e estreou mundialmente no Festival Internacional de Cinema de Berlim, em 2019, sob fortes aplausos dos presentes na sessão.
Protagonizado por Seu Jorge ("Abe", "Irmandade"), o filme é baseado na biografia escrita por Mario Magalhães e inicia sua narrativa em 1969. A história traz Carlos Marighella no comando de um grupo de jovens guerrilheiros, tentando divulgar sua revolução, descreditada pela censura e por Lúcio (Bruno Gagliasso), um policial que o rotula como inimigo público.
O elenco é composto também por Adriana Esteves (Clara), Humberto Carrão, Herson Capri, Charles Paraventi, entre outros.
Quem foi Carlos Marighella?
Nascido em Salvador, Bahia, em 5 de dezembro de 1911, Carlos Marighella é um dos sete filhos do imigrante italiano Augusto Marighella, um operário metalúrgico, mecânico e motorista, com a ex-empregada doméstica Maria Rita do Nascimento.
Incentivado pelo pai desde cedo para se dedicar aos estudos, Carlos cresceu cercado de livros, e chegou a iniciar a formação em Engenharia Civil em 1929 —curso que foi sua porta de entrada para a militância.
Nessa época, ele começou a se envolver com política e causas sociais, reivindicando por uma Constituinte democrática no país, logo após a Revolução de 30. Foi preso pela primeira vez em 1932, pelas tropas do interventor Juracy Magalhães, nomeado pelo presidente Getúlio Vargas. Na ocasião, Carlos compôs um poema contra o militar. Depois que foi solto, prosseguiu em suas lutas, até que em 1934 resolveu abandonar a faculdade para se dedicar integralmente aos movimentos políticos.
Naquele ano, Carlos se filiou ao PCB (Partido Comunista Brasileiro) e se tornou militante em tempo integral. Ele se mudou para o Rio de Janeiro e ficou responsável pela reorganização e divulgação do partido.
Em 1936, foi preso pela segunda vez, por subversão, sendo torturado pela polícia de Filinto Müller. Ele foi solto sob a "macedada", uma medida assinada pelo ministro da Justiça José Carlos de Macedo Soares, que determinou a soltura de todos os presos políticos sem condenação.
Ao sair da prisão, Marighella entrou para a clandestinidade, e acabou capturado novamente em 1939. Desta vez, ele ficou seis anos na cadeia, e só foi solto em 1945, com o fim do Estado Novo.
Deputado Federal e ativismo
Em 1946, Carlos Marighella teve uma passagem pela política institucional, e foi eleito deputado federal constituinte. No entanto, perdeu o mandato dois anos depois, já que o PCB foi colocado na clandestinidade pelo presidente Gaspar Dutra.
A partir de então, o guerrilheiro passou a ocupar diversos cargos dentro de organizações revolucionárias de esquerda ou ligadas ao comunismo. Ele atuou em lutas sindicais e se aproximou da classe operária, chegando a passar um período na China, entre 1953 e 1954, para conhecer de perto a revolução comunista no país.
Ditadura militar
Durante o período da ditadura militar, Carlos Marighella voltou a ser considerado forte inimigo do regime. Perseguido, baleado e preso, tornou-se inimigo número um após optar pela luta armada. Foi morto em uma emboscada em São Paulo, no dia 4 de novembro de 1969.
A emboscada foi preparada com informações que agentes do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) obtiveram após sessões de tortura de frades dominicanos, que confessaram ter um encontro marcado com Marighella no dia 4, em São Paulo.
Quando foi cercado pelos militares, na parte traseira de um Fusca, Carlos Marighella tentou pegar em sua pasta uma cápsula de cianureto de potássio, pois havia jurado que não iria mais preso ou torturado. Alvejado com tiros, foi morto na hora e, de acordo com a biografia de Magalhães, o baiano estava desarmado na ocasião.
Apesar da rapidez do ato, Mario Magalhães conta na biografia que a área só é liberada aos repórteres cerca de 1h30 após a emboscada. O jornalista revela que, neste período, o delegado Sérgio Paranhos Fleury tenta criar uma versão dos fatos que justificasse a morte de um alemão que passava pelo local e os ferimentos graves em dois policiais. A imprensa, depois disso, reproduziria uma informação que foi plantada pelo delegado: Marighella teria tentado sacar uma pistola quando foi cercado.
Anistia
Carlos Marighella recebeu anistia póstuma em 2012, em uma portaria publicada no dia 9 de novembro daquele ano no Diário Oficial da União após apurações da Comissão da Verdade. Antes disso, o Estado já havia reconhecido em 1996 a autoria da sua morte.
Sua companheira, Clara Charf, passou a receber uma pensão vitalícia do governo brasileiro em 2008, apesar de a família não ter solicitado reparação econômica, apenas o reconhecimento da perseguição política.
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